São Paulo, sábado, 12 de junho de 2004

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Encontro paralelo traz críticas à conferência

DA REDAÇÃO

Com um apoio à Unctad "tático, mas não irrestrito", o Fórum da Sociedade Civil, encontro paralelo organizado pela "sociedade civil organizada", deve finalizar hoje uma declaração com reivindicações e propostas para o encontro da ONU. Não deverão faltar censuras ao neoliberalismo e aos acordos de livre comércio.
Ontem, durante a abertura do fórum, houve duras críticas à Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento). Para os ativistas, o rascunho da declaração deveria ser mais independente e crítico com relação à OMC (Organização Mundial do Comércio).
O rascunho da declaração defende o aumento da cooperação entre os países em desenvolvimento, mas não detalha ações.
"Em que planeta vivem os que têm preparado essa declaração [da Unctad]?", questionou o boliviano Pablo Solon, da Aliança Social Continental, durante a mesa de abertura, ao criticar o fato de o rascunho do documento oficial não mencionar Cancún, palco da Conferência Ministerial da OMC, realizada em setembro.
"[Combater] liberalização com mais liberalização? Mais do mesmo? É isso o que propõe a Unctad?", disse Solon, que vê uma aproximação da entidade da ONU com as negociações de livre comércio.
Em texto à imprensa, o fórum faz, entre outras, as seguintes reivindicações: "Criar alternativas às premissas neoliberais"; "cancelar a dívida externa dos países em desenvolvimento"; e "democratizar os processos decisórios no sistema multilateral de comércio".
Apesar das críticas e reivindicações, o fórum afirma que a Unctad é "a única instituição dessa governança global que faz uma crítica consistente ao modelo de hegemonia de mercado conforme se configura hoje o cenário macroeconômico internacional".
Cobrado durante encontro com o fórum ontem à tarde, o secretário-geral da Unctad, Rubens Ricupero, lembrou que o órgão da ONU precisa obter o consenso de mais de 190 países.
"A Unctad não é formada apenas por países em desenvolvimento", disse Ricupero.

Bové
Já o ativista francês José Bové, que na abertura falou em nome da entidade Via Campesina, disse que a "OMC não tem nada a fazer com a agricultura".
Um dos rostos mais visíveis do movimento antiglobalização, o francês bigodudo ficou famoso no Brasil ao participar de um grupo que destruiu uma lavoura de soja transgênica no Rio Grande do Sul, em janeiro de 2001.
Em entrevista à Folha ontem, Bové criticou os programas de reforma agrária e Fome Zero do governo Luiz Inácio Lula da Silva: "A agricultura de exportação não é suficiente para alimentar as pessoas. Para combater a fome, é necessário distribuir terras e produzir alimentos". Ele disse apoiar as recentes invasões de terra promovidas pelo MST.
Na segunda-feira, Bové participa de um protesto organizado pelo fórum contra tratados de livre comércio, em São Paulo.


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