São Paulo, segunda-feira, 12 de junho de 2006

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IBGE vai ampliar pesquisa de emprego

Novo levantamento abrangerá cidades do interior ao agrupar a PME e a Pnad, e divulgação passará a ser trimestral

Atualmente, apenas seis regiões metropolitanas são pesquisadas; em 2002, instituto já havia mudado metodologia

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Menos de quatro anos após anunciar mudanças em sua pesquisa de emprego que resultaram em interrupção na série histórica da taxa de desemprego, o IBGE já prepara uma nova alteração no levantamento, que o tornará mais abrangente, mas com periodicidade trimestral.
Em entrevista à Folha, a chefe da Coordenação de Emprego e Rendimento do IBGE, Márcia Quintslr, revelou que a decisão sobre a mudança já foi tomada e que os estudos para implementar um novo levantamento domiciliar já estão em curso. A pesquisa inovará ao agrupar o que hoje é a PME (Pesquisa Mensal de Emprego) e a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios).
Batizado de Pesquisa Domiciliar Contínua, o novo levantamento responde, de acordo com Quintslr, "às demandas da sociedade" por ter informações sobre emprego e rendimento para todo o país -hoje, a PME só é realizada nas seis maiores regiões metropolitanas brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Porto Alegre).
Em compensação, a pesquisa só divulgará informações trimestrais -a atual é mensal. "A periodicidade trimestral já é algo que está consolidado."
Haverá também mais uma interrupção da série histórica da taxa de desemprego, que já é relativamente curta. Teve início em 2002, quando o IBGE realizou uma ampla modificação conceitual e metodológica na PME, que passou a contar com mais indicadores (subocupação, sub-remuneração e outros) e resultou numa elevação do patamar do desemprego.
Em 2002 (março a dezembro), quando as duas pesquisas foram a campo, a taxa de desemprego média pela metodologia antiga ficou em 6%, enquanto pela nova PME foi estimada em 11,7%.
Especialistas, no entanto, não acreditam num novo salto do desemprego, já que a maior parte das alterações metodológicas recomendadas pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) já está incorporada tanto pela nova PME quanto pela Pnad, o que não acontecia na antiga PME.
Foram justamente essas mudanças e a introdução de um novo questionário para incorporá-las que determinaram o aumento do patamar do desemprego. O que pode baixar um pouco a taxa, dizem, é a incorporação das cidades do interior (áreas rurais não devem ser pesquisadas), onde a desocupação tende a ser menor.

Pesquisas simultâneas
Assim como foi feito em 2002, o IBGE realizará simultaneamente a nova pesquisa domiciliar e a atual PME com o objetivo de estudar as séries sem promover uma interrupção brusca. Por dois anos, serão apuradas as duas pesquisas.
Ainda não está definido quando o novo levantamento irá a campo, mas há a possibilidade de os trabalhos começarem em 2007.
Para a coordenadora do IBGE, as mudanças trarão outro ganho a longo prazo: a redução de custos, já que será mantida só uma equipe de campo, e não duas, como hoje. Num primeiro momento, porém, o IBGE terá de arcar com mais despesas, já que terá de manter a atual PME por dois anos.

Outras prioridades
Especialistas se dividem quanto à aprovação do projeto. "A mudança sempre traz custos de rupturas das séries, mas, dado que esse custo já foi incorrido na mudança de 2003, não se perde muito", disse Marcelo Neri, do Centro de Políticas Sociais da FGV. Ele ressalta que o mercado de trabalho é dinâmico e "os conceitos a ele aplicados mudam", o que justifica alterar a pesquisa.
Para Claudio Dedecca, da Unicamp, conceitualmente "a idéia é boa", mas não prioritária. Para ele, os recursos do IBGE são escassos e o instituto deveria priorizar, por exemplo, a realização de um censo econômico e a contagem da população, que deveria ter sido feita em 2005 e só sairá em 2007.
Márcia Quintslr, do IBGE, diz que os indicadores sociais da Pnad (educação, fecundidade e outros) serão divulgados anualmente, como ocorre hoje.


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