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Com temor sobre preços, Bolsa recua a nível anterior ao grau de investimento
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
As Bolsas de Valores caíram
em bloco pelo mundo, com a
ameaça inflacionária cada vez
mais assustando o mercado. No
Brasil, não foi diferente: a Bovespa perdeu 1,45% ontem, em
dia de divulgação de IPCA acima do esperado.
Após amargar seu quarto
pregão seguido de queda, a Bovespa recuou para seu menor
nível desde 29 de abril, um dia
antes de o Brasil ser alçado à categoria de "investment grade"
(grau de investimento), que, esperava-se, atrairia novo fluxo
de capital internacional para o
mercado doméstico. O índice
Ibovespa, que reúne as 66 ações
de maior liquidez, fechou ontem a 66.794 pontos, 9,14%
abaixo de seu pico histórico
-os 73.516 pontos marcados
em 20 de maio.
Com as recentes depreciações, a Bovespa viu boa parte de
seus ganhos acumulados em
2008 desaparecer. A Bolsa conta agora com alta de apenas
4,55% no ano. No mês, a desvalorização alcança 7,99%.
A queda da Bolsa paulista ontem se equiparou às sofridas
nos grandes mercados. Em
Wall Street, o índice Dow Jones
marcou queda de 1,68%; a Bolsa
eletrônica Nasdaq caiu mais,
2,24%. Na Europa, houve perdas de 2,10% em Paris e recuo
de 1,78% em Londres.
Ontem desagradou também
o livro bege (compilação de dados econômicos feita pelo BC
dos EUA), que deu mais sinais
de que o ritmo da economia
americana segue fraco em um
cenário de risco inflacionário.
"O perigo que a inflação voltou a representar pelo mundo
tem disseminado a sensação de
que os bancos centrais não terão alternativa a não ser elevar
suas taxas de juros, o que acaba
por afetar os mercados acionários", afirma Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da
Gradual Corretora.
A alta do petróleo também
pesou negativamente no dia. O
barril do produto fechou 3,86%
mais caro em Nova York, negociado a US$ 136,38. O poder de
pressão inflacionária representada pela elevação do petróleo
prejudica as Bolsas, pois preços
em alta podem forçar os BCs a
subirem os juros. E taxas maiores acabam por estimular os investidores a trocarem ações
por títulos de renda fixa.
As ações da Vale se mantiveram como destaque negativo
na Bovespa e caíram 3,09%
(ON) e 2,09% (PNA) ontem. Na
semana, os papéis -que têm sido prejudicados por rumores
de que a companhia planeja
uma nova aquisição no exterior- já perderam 8,42% (ON)
e 7,75% (PNA).
"Por aqui, não era esperado
que o IPCA viesse baixo, mas o
índice acabou por trazer desconforto. Agora vai ser ainda
mais relevante a divulgação da
ata do Copom", diz Silveira. O
IPCA subiu 0,79% em maio,
contra o 0,55% em abril.
Hoje, o Copom vai apresentar a ata de sua última reunião,
na qual dará explicações sobre
os motivos que levaram seus dirigentes a decidirem elevar a
taxa básica Selic de 11,75% para
12,25% anuais na semana passada. Por enquanto, a expectativa do mercado é que a taxa básica Selic esteja em 14% no fim
do ano. Mas essa projeção pode
ser elevada se a ata trouxer sinais de preocupação, especialmente com a inflação, maiores
que o esperado.
Os juros futuros já reagiram
demonstrando que as expectativas para a Selic devem piorar.
No contrato DI -que mostra
as projeções para os juros- que
vence na virada do ano, a taxa
subiu de 13,18% para 13,27%
anuais no pregão de ontem da
BM&F.
O número de contratos DI
negociados ontem -1,21 milhão, 38% a mais que o pregão
anterior- mostra que o IPCA
trouxe agitação ao mercado.
O clima ruim apenas não afetou o câmbio. O dólar recuou
0,36% ontem, para encerrar
negociado a R$ 1,641.
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