São Paulo, quinta-feira, 12 de junho de 2008

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Com temor sobre preços, Bolsa recua a nível anterior ao grau de investimento

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

As Bolsas de Valores caíram em bloco pelo mundo, com a ameaça inflacionária cada vez mais assustando o mercado. No Brasil, não foi diferente: a Bovespa perdeu 1,45% ontem, em dia de divulgação de IPCA acima do esperado.
Após amargar seu quarto pregão seguido de queda, a Bovespa recuou para seu menor nível desde 29 de abril, um dia antes de o Brasil ser alçado à categoria de "investment grade" (grau de investimento), que, esperava-se, atrairia novo fluxo de capital internacional para o mercado doméstico. O índice Ibovespa, que reúne as 66 ações de maior liquidez, fechou ontem a 66.794 pontos, 9,14% abaixo de seu pico histórico -os 73.516 pontos marcados em 20 de maio.
Com as recentes depreciações, a Bovespa viu boa parte de seus ganhos acumulados em 2008 desaparecer. A Bolsa conta agora com alta de apenas 4,55% no ano. No mês, a desvalorização alcança 7,99%.
A queda da Bolsa paulista ontem se equiparou às sofridas nos grandes mercados. Em Wall Street, o índice Dow Jones marcou queda de 1,68%; a Bolsa eletrônica Nasdaq caiu mais, 2,24%. Na Europa, houve perdas de 2,10% em Paris e recuo de 1,78% em Londres.
Ontem desagradou também o livro bege (compilação de dados econômicos feita pelo BC dos EUA), que deu mais sinais de que o ritmo da economia americana segue fraco em um cenário de risco inflacionário.
"O perigo que a inflação voltou a representar pelo mundo tem disseminado a sensação de que os bancos centrais não terão alternativa a não ser elevar suas taxas de juros, o que acaba por afetar os mercados acionários", afirma Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Gradual Corretora.
A alta do petróleo também pesou negativamente no dia. O barril do produto fechou 3,86% mais caro em Nova York, negociado a US$ 136,38. O poder de pressão inflacionária representada pela elevação do petróleo prejudica as Bolsas, pois preços em alta podem forçar os BCs a subirem os juros. E taxas maiores acabam por estimular os investidores a trocarem ações por títulos de renda fixa.
As ações da Vale se mantiveram como destaque negativo na Bovespa e caíram 3,09% (ON) e 2,09% (PNA) ontem. Na semana, os papéis -que têm sido prejudicados por rumores de que a companhia planeja uma nova aquisição no exterior- já perderam 8,42% (ON) e 7,75% (PNA).
"Por aqui, não era esperado que o IPCA viesse baixo, mas o índice acabou por trazer desconforto. Agora vai ser ainda mais relevante a divulgação da ata do Copom", diz Silveira. O IPCA subiu 0,79% em maio, contra o 0,55% em abril.
Hoje, o Copom vai apresentar a ata de sua última reunião, na qual dará explicações sobre os motivos que levaram seus dirigentes a decidirem elevar a taxa básica Selic de 11,75% para 12,25% anuais na semana passada. Por enquanto, a expectativa do mercado é que a taxa básica Selic esteja em 14% no fim do ano. Mas essa projeção pode ser elevada se a ata trouxer sinais de preocupação, especialmente com a inflação, maiores que o esperado.
Os juros futuros já reagiram demonstrando que as expectativas para a Selic devem piorar.
No contrato DI -que mostra as projeções para os juros- que vence na virada do ano, a taxa subiu de 13,18% para 13,27% anuais no pregão de ontem da BM&F.
O número de contratos DI negociados ontem -1,21 milhão, 38% a mais que o pregão anterior- mostra que o IPCA trouxe agitação ao mercado.
O clima ruim apenas não afetou o câmbio. O dólar recuou 0,36% ontem, para encerrar negociado a R$ 1,641.


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