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LUÍS NASSIF
O PCC e o ovo da serpente
Fica-se nessa operação
mata-bandido, mas toda a
organização opera a partir de
lideranças que já estão presas
O PCC , maior organização criminosa já organizada em São
Paulo, estruturou-se e se fortaleceu no interior dos presídios
paulistas. Essa é a parte mais fantástica da história. Fica-se nessa operação selvagem mata-bandido, mas toda a organização opera a partir de lideranças que já estão presas.
Esse diagnóstico consta do trabalho "O Ovo da Serpente", de Edmar
de Oliveira Cicliati, juiz de Direito
em Tupã.
O primeiro passo na montagem da
estrutura consiste na cooptação dos
pequenos infratores. Presos, chegam ao presídio quase sempre sem
roupas, sem nenhum apoio externo.
A facção o "adota". A partir daí, torna-se refém eterno do favor, principalmente depois que é libertado.
O passo seguinte consiste em
cooptar a namorada ou familiar do
jovem para que traga alguma amiga
para o companheiro de cela. Montada a estrutura externa, a partir do
presídio as relações dos criminosos
com o mundo exterior se dão por
meio de três pontos: a maneira como ocorrem as visitas; a comunicação pelo telefone celular; e a ausência de punição.
Semanalmente, há caravanas de
ônibus para visitas aos presídios.
Parte é de familiares; parte, de pessoas cooptadas para alimentar o fluxo de entrada de celulares, armas e
drogas. Como não existe área para
visitas íntimas, as visitas ocorrem
nas celas dos prisioneiros. Os controles na porta do presídio são burlados por expedientes como colocar
celulares, armas ou droga nas partes
íntimas das mulheres, utilizar grávidas para evitar os detetores de metais. Qualquer mulher pode se apresentar como companheira de um
detento e visitá-lo na cela, por
exemplo.
Já os celulares apreendidos são
sempre apresentados como de propriedade de "laranjas", evitando a
punição aos chefes. Além disso, um
serviço de inteligência tem que se
valer de escuta telefônica, mas os
presos recorrem a estratagemas diversos, como circulação de telefones
e o "conference call".
Segundo o juiz, foi correta a medida da Secretaria de Administração
Penitenciária de colocar todas as lideranças no mesmo presídio. Mas
por que se demorou tanto para tomar a decisão, permitindo o fortalecimento inédito do PCC? Em sua
opinião, foi pelo receio do ex-governador Geraldo Alckmin de enfrentar o desgaste político decorrente da
reação inevitável do PCC.
Não basta colocar todas as lideranças em um único presídio. As visitas não podem ter acesso às celas.
Os presos é que devem se deslocar,
sendo revistados no momento em
que voltam às celas. Aí, qualquer celular, arma ou droga, nessas hipóteses, só poderá existir em caso de corrupção interna, o que é bem mais fácil de identificar e impedir.
São necessárias várias outras medidas, como restrições às visitas íntimas; exigência de comprovação de
estado de casado ou de união estável; instalação de aparelhos de revista eletrônicos; criação de uma central de inteligência, integração com
o Ministério Público e o Judiciário
para centralização e agilização dos
procedimentos relacionados com
crimes emergentes do sistema prisional.
Todas as medidas são óbvias, conhecidas e à mão das autoridades.
Mas se permitiu que do ovo nascesse a serpente.
Blog: www.luisnassif.com.br
@ - Luisnassif uol.com.br
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