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COMENTÁRIO
Populismo leva a racionamento
RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL
O racionamento improvisado que congestiona postos de
gasolina em Buenos Aires, provoca blecautes na indústria e
que deixou Bariloche às escuras na noite de terça-feira obedece à lógica eleitoral do presidente Néstor Kirchner.
A cem dias de tentar eleger
sua mulher, Cristina, como sucessora, Kirchner nem quer saber de um racionamento para
valer e reajustar as tarifas.
Vai empurrar as medidas
amargas para depois das eleições. O PIB deve deixar de crescer um ponto percentual neste
ano, e milhares de demissões
são esperadas.
Figurões do governo ligam
diariamente para as usinas de
distribuição, determinando
quem deve deixar de receber
energia. Grandes fábricas são
"convencidas" a interromper a
produção entre as 18h e as 24h,
pico de consumo residencial.
O governo também pressionou a Petrobras e a espanhola
Repsol a vender o litro de gasolina para os taxistas pelo mesmo preço do gás por 72 horas.
Os argentinos pagam a energia elétrica, o litro de gasolina, a
água e o telefone mais baratos
do Cone Sul. Desde que o país
acabou com a fantasia da paridade peso-dólar, em janeiro de
2002, as tarifas estão congeladas, apesar de a inflação no período ter ultrapassado 100%.
As empresas do setor deixaram de investir. Várias estrangeiras deixaram o país. Há mais
de um ano, alertava-se de que o
populismo energético poderia
causar um apagão na Argentina
- produção congelada e o consumo crescendo sem parar.
Bancar o durão com grandes
empresas faz parte do marketing do presidente. Kirchner
chegou ao poder prometendo
passar a limpo a década neoliberal do ex-presidente Carlos
Menem. Quanto mais criticava
o FMI e as multinacionais,
mais a popularidade de Kirchner subia.
O azar dele é que até neve
caiu sobre Buenos Aires. Em
um país onde a calefação é popularizada, o consumo de energia em dias frios se multiplica.
A Argentina já pagou caro antes pelo desejo de seus comandantes permanecerem no poder a qualquer preço.
Menem enterrou anos de bonança ao quebrar o país comprando sua reeleição e tentando um terceiro mandato. Ironicamente, ele era queridinho
das multinacionais e do FMI e
permitiu que as tarifas na Argentina fossem as mais caras da
região nos anos 90. Muda o peronismo, não seus meios.
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