São Paulo, quinta-feira, 12 de julho de 2007

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COMENTÁRIO

Populismo leva a racionamento

RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL

O racionamento improvisado que congestiona postos de gasolina em Buenos Aires, provoca blecautes na indústria e que deixou Bariloche às escuras na noite de terça-feira obedece à lógica eleitoral do presidente Néstor Kirchner.
A cem dias de tentar eleger sua mulher, Cristina, como sucessora, Kirchner nem quer saber de um racionamento para valer e reajustar as tarifas.
Vai empurrar as medidas amargas para depois das eleições. O PIB deve deixar de crescer um ponto percentual neste ano, e milhares de demissões são esperadas.
Figurões do governo ligam diariamente para as usinas de distribuição, determinando quem deve deixar de receber energia. Grandes fábricas são "convencidas" a interromper a produção entre as 18h e as 24h, pico de consumo residencial.
O governo também pressionou a Petrobras e a espanhola Repsol a vender o litro de gasolina para os taxistas pelo mesmo preço do gás por 72 horas.
Os argentinos pagam a energia elétrica, o litro de gasolina, a água e o telefone mais baratos do Cone Sul. Desde que o país acabou com a fantasia da paridade peso-dólar, em janeiro de 2002, as tarifas estão congeladas, apesar de a inflação no período ter ultrapassado 100%.
As empresas do setor deixaram de investir. Várias estrangeiras deixaram o país. Há mais de um ano, alertava-se de que o populismo energético poderia causar um apagão na Argentina - produção congelada e o consumo crescendo sem parar.
Bancar o durão com grandes empresas faz parte do marketing do presidente. Kirchner chegou ao poder prometendo passar a limpo a década neoliberal do ex-presidente Carlos Menem. Quanto mais criticava o FMI e as multinacionais, mais a popularidade de Kirchner subia.
O azar dele é que até neve caiu sobre Buenos Aires. Em um país onde a calefação é popularizada, o consumo de energia em dias frios se multiplica.
A Argentina já pagou caro antes pelo desejo de seus comandantes permanecerem no poder a qualquer preço.
Menem enterrou anos de bonança ao quebrar o país comprando sua reeleição e tentando um terceiro mandato. Ironicamente, ele era queridinho das multinacionais e do FMI e permitiu que as tarifas na Argentina fossem as mais caras da região nos anos 90. Muda o peronismo, não seus meios.


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