|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Odebrecht pressiona para ficar com Furnas
Em nota, construtora diz que haverá "quebra explícita de contrato" caso Eletrobrás se alie a outro consórcio nas usinas do Madeira
Posicionamento da empresa
é um dos sinais da disputa
por trás da indefinição nas
regras da principal licitação
na área energética do país
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Odebrecht considera "quebra explícita de contrato" a
possibilidade, desejada pelo governo, de Furnas não participar
do leilão das usinas hidrelétricas do rio Madeira (RO) e de a
Eletrobrás, controladora de
Furnas, vir a se associar a outra
empresa privada que venha a
vencer a licitação.
O posicionamento da empreiteira é um sinal da disputa
que está por trás da indefinição
nas regras da principal licitação
para aumento de oferta de
energia no país: a disputa entre
governo e demais investidores
privados, de um lado, e a Odebrecht, de outro.
Juntas, as usinas hidrelétricas do Madeira -Santo Antônio e Jirau -poderão gerar
6.450 MW (megawatts). O governo pretende licitar a usina
de Santo Antônio no final de setembro ou início de outubro.
Para a Odebrecht, que assinou um contrato de parceria
com Furnas, ou as estatais podem participar do leilão (situação em que o consórcio Odebrecht/Furnas participaria) ou
não pode haver associação posterior entre o vencedor e a Eletrobrás.
"A eventual desistência motivada de Furnas de participar
do leilão é uma prerrogativa
prevista nos termos de compromisso assinados pelas duas
empresas. Porém disponibilizar a Eletrobrás para uma parceria com qualquer outro vencedor do leilão, que não seja a
Odebrecht, é claramente uma
quebra explícita de contrato",
afirmou a empresa, em nota.
De acordo com a argumentação da Odebrecht, por ser controladora de Furnas, a Eletrobrás detém "todas as informações confidenciais que têm sido
trocadas e compartilhadas pelas duas empresas [Furnas e
Odebrecht] que formam o consórcio e que conseguiu a licença
prévia para a construção das hidrelétricas do rio Madeira".
O conhecimento do inteiro
teor do compromisso assinado
entre Furnas e Odebrecht está
por trás do recuo no discurso
do governo em relação à metodologia do leilão. No último dia
15, em evento em São Paulo, o
ministro interino de Minas e
Energia, Nelson Hubner, disse
que as estatais não participariam do leilão das hidrelétricas.
Pela exposição do ministro, a
saída das estatais motivaria a
competição. O vencedor da licitação poderia, depois, se associar à Eletrobrás até o limite de
49% para construir as usinas. É
esse ponto que a Odebrecht
considera quebra de contrato.
Na segunda-feira, quando foi
anunciada a obtenção da licença prévia para as usinas do rio
Madeira, Hubner já não estava
tão certo em relação às regras
do leilão. Disse que tudo estava
em aberto e uma proposta seria
colocada em consulta pública.
Procurado ontem por meio de
sua assessoria de imprensa, o
ministro não quis comentar o
assunto.
Segundo a Folha apurou, o
governo montou uma equipe
para analisar o contrato Furnas/Odebrecht e encontrar
uma brecha jurídica que permita que estatais (no caso, Furnas) não participem do leilão e
que a Eletrobrás possa se associar ao vencedor (seja ele a
Odebrecht ou não) depois.
A Odebrecht também informou que assinou contratos de
exclusividade e confidencialidade com fornecedores de
equipamentos para as obras
das hidrelétricas do rio Madeira. Segundo a Odebrecht, os
acordos são necessários para
que haja financiamento do projeto e não caracterizam conduta anticompetitiva.
O diretor-geral da Aneel
(Agência Nacional de Energia
Elétrica), Jerson Kelman, afirmou que eventuais contratos
de exclusividade no fornecimento de equipamentos são
preocupantes e o assunto deve
ser analisado pela área do governo que cuida de defesa da
concorrência.
Texto Anterior: Comentário: Populismo leva a racionamento Próximo Texto: Modelo depende de estudo final, afirma Dilma Índice
|