São Paulo, domingo, 12 de julho de 2009

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ALBERT FISHLOW

Intervalo


A economia melhorou com Obama; brotos verdejantes continuam a crescer, apesar das ocasionais rajadas de frio


CHEGAMOS praticamente ao fim dos primeiros seis meses de governo do presidente Obama. É um bom momento para refletir sobre até que ponto os EUA e o mundo mudaram e sobre o caminho que estamos tomando.
Economicamente, a situação claramente melhorou. Resta quem duvide, mas os brotos verdejantes continuam a crescer, a despeito das ocasionais rajadas de frio. Os déficits fiscais mais altos acumulados em todo o mundo foram capazes de compensar as forças negativas deflagradas por um sistema financeiro distendido e irresponsável. Mais e melhor regulamentação, a fim de evitar que a mesma situação se repita, está avançando nos EUA, no Reino Unido e na União Europeia.
Mesmo agora, restam peculiaridades: os preços do petróleo parecem desafiar a racionalidade em seus movimentos. Os fluxos de comércio internacional estão caindo, mas as medidas protecionistas foram contidas. Os mercados cambiais e de ações se tornaram menos voláteis. As taxas reais de juros caíram, a despeito das preocupações quanto ao financiamento daqueles altos déficits.
Internacionalmente, ameaças sérias certamente continuam a existir. O Paquistão, uma vez mais sob liderança civil, agora está combatendo vigorosamente o Taleban, depois de alguma hesitação inicial. O Afeganistão está tentando replicar a estratégia iraquiana de compromisso, em lugar de assentimento. O Irã, depois da eleição presidencial, está em meio a uma disputa política interna; no futuro, será preciso enfrentar a questão de sua potencial capacidade nuclear. A Coreia do Norte, que já dispõe de armas nucleares, apesar do aparente isolamento, consegue manter seus vizinhos sob ameaça.
As negociações entre Israel e os palestinos estão avançando de maneira marginal. Mas houve alguns avanços tangíveis. Rússia e EUA fecharam acordo para redução significativa de seus arsenais nucleares. Assistência adicional para estimular a produtividade agrícola na África foi prometida.
Estão acontecendo avanços rumo à conclusão da Rodada Doha de negociações comerciais. O aquecimento global está sendo confrontado e, a despeito das importantes divergências entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento, um acordo em Copenhague se tornou mais provável. Mesmo os EUA estão a caminho de aprovar um sistema de limitação e de negociação em mercado para o controle das emissões de carbono.
As eleições que estavam marcadas aconteceram, e os resultados, em sua maioria, foram os previstos. Em meio a uma desaceleração econômica, os partidos de oposição conseguiram avanços. Golpes de Estado já não são uma estratégia válida. O equivocado exílio do presidente Zelaya, de Honduras, talvez esteja chegando a uma solução pacífica.
A reunião do G8 na Itália na semana passada pode ser uma das últimas. Brasil, China, Índia, Egito, México e África do Sul já estiveram presentes. Esses países são cruciais para a realização de objetivos políticos, econômicos e ambientais do futuro.
O presidente Obama compreende muito bem essa transformação. E o mesmo vale para o presidente Lula. A reunião bilateral entre os dois em Áquila aconteceu em parte por acidente, quando o presidente Hu Jintao se viu forçado a retornar ao seu país para enfrentar o levante em Xinjiang. Essa circunstância não deveria obscurecer uma importante realidade: as consideráveis ambições internacionais do Brasil requerem uma aproximação mais profunda e construtiva com os EUA; e essa necessidade -nem deveria ser necessário acrescentar- é recíproca.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

ALBERT FISHLOW , 73, é professor emérito da Universidade Columbia e da Universidade Berkeley. Escreve quinzenalmente, aos domingos, nesta coluna.

afishlow@uol.com.br


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