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VIZINHO EM CRISE
Ajuste fiscal não foi resolvido, diz professor de Columbia
Economista diz que Cavallo
não tira Argentina da crise
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
A Argentina está sob a lupa do
professor Robert R. Kaufman
desde que o mesmo ministro Domingo Cavallo implantou o sistema de câmbio atrelado ao dólar,
há uma década. Não deu certo daquela vez e não deve dar certo
agora, acredita o acadêmico.
"O país ainda não resolveu o básico, que é o ajuste fiscal", disse o
acadêmico em entrevista exclusiva à Folha. "Aliás, nem o Brasil."
A seguir, os principais trechos
da entrevista.
Folha - A Argentina vai sair da crise a curto prazo?
Robert R. Kaufman - Infelizmente, duvido que o sr. Cavallo consiga sucesso. Ao adiar os mais do
que necessários ajustes fiscais somente para quando houver a retomada do crescimento, ele está
tentando fazer com que as medidas sejam menos dolorosas. O
problema é que, sem credibilidade externa, não há maneira de retomar o crescimento. E essa credibilidade depende dos ajustes fiscais. Ou seja, é um círculo vicioso.
Folha - Segundo analistas, o Brasil é uma das principais causas da
crise argentina devido à desvalorização do real. A Argentina, com
Uruguai e Paraguai, está econômica e irremediavelmente ligada ao
país pelo Mercosul. O sr. acha que o
bloco é mais um fardo do que uma
vantagem para os três países?
Kaufman - Primeiro, sim, acho
que a desvalorização da moeda
brasileira tem um papel fundamental como detonadora da crise
argentina, embora não seja o único motivo. O regime de câmbio
argentino também contribuiu,
pois carecia da flexibilidade necessária para ajustes. Além disso,
o deslize fiscal no final do período
Menem deixou o regime cambial
mais vulnerável a crises. Segundo,
não sei se o bloco econômico todo
está condenado, mas certamente
a combinação das crises brasileira
e argentina faz a perspectiva para
o Mercosul ser muito ruim para
pelo menos o próximo ano.
Folha - Economistas mais ortodoxos dizem que os dez anos em que o
peso argentino esteve atrelado ao
dólar serviram para aumentar os
custos de produção e de mão-de-obra do país. Isso teria deixado ainda mais difícil para a Argentina
competir com países como o próprio Brasil. O sr. concorda?
Kaufman - O regime de conversibilidade resolveu um problema
sério de credibilidade no país há
dez anos, acabando com a hiperinflação. Mas foi uma solução
cujo custo principal é a falta de flexibilidade, e a Argentina vem pagando a conta nos últimos três
anos. Mas o Brasil poderia ter ajudado se tivesse lidado com seus
problemas fiscal e cambial com
mais responsabilidade em 96 e 97.
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