São Paulo, domingo, 12 de agosto de 2001

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VIZINHO EM CRISE

Ajuste fiscal não foi resolvido, diz professor de Columbia

Economista diz que Cavallo não tira Argentina da crise

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

A Argentina está sob a lupa do professor Robert R. Kaufman desde que o mesmo ministro Domingo Cavallo implantou o sistema de câmbio atrelado ao dólar, há uma década. Não deu certo daquela vez e não deve dar certo agora, acredita o acadêmico.
"O país ainda não resolveu o básico, que é o ajuste fiscal", disse o acadêmico em entrevista exclusiva à Folha. "Aliás, nem o Brasil."
A seguir, os principais trechos da entrevista.

Folha - A Argentina vai sair da crise a curto prazo?
Robert R. Kaufman -
Infelizmente, duvido que o sr. Cavallo consiga sucesso. Ao adiar os mais do que necessários ajustes fiscais somente para quando houver a retomada do crescimento, ele está tentando fazer com que as medidas sejam menos dolorosas. O problema é que, sem credibilidade externa, não há maneira de retomar o crescimento. E essa credibilidade depende dos ajustes fiscais. Ou seja, é um círculo vicioso.

Folha - Segundo analistas, o Brasil é uma das principais causas da crise argentina devido à desvalorização do real. A Argentina, com Uruguai e Paraguai, está econômica e irremediavelmente ligada ao país pelo Mercosul. O sr. acha que o bloco é mais um fardo do que uma vantagem para os três países?
Kaufman -
Primeiro, sim, acho que a desvalorização da moeda brasileira tem um papel fundamental como detonadora da crise argentina, embora não seja o único motivo. O regime de câmbio argentino também contribuiu, pois carecia da flexibilidade necessária para ajustes. Além disso, o deslize fiscal no final do período Menem deixou o regime cambial mais vulnerável a crises. Segundo, não sei se o bloco econômico todo está condenado, mas certamente a combinação das crises brasileira e argentina faz a perspectiva para o Mercosul ser muito ruim para pelo menos o próximo ano.

Folha - Economistas mais ortodoxos dizem que os dez anos em que o peso argentino esteve atrelado ao dólar serviram para aumentar os custos de produção e de mão-de-obra do país. Isso teria deixado ainda mais difícil para a Argentina competir com países como o próprio Brasil. O sr. concorda?
Kaufman -
O regime de conversibilidade resolveu um problema sério de credibilidade no país há dez anos, acabando com a hiperinflação. Mas foi uma solução cujo custo principal é a falta de flexibilidade, e a Argentina vem pagando a conta nos últimos três anos. Mas o Brasil poderia ter ajudado se tivesse lidado com seus problemas fiscal e cambial com mais responsabilidade em 96 e 97.



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