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ÊXODO PLATINO
Descendentes de espanhóis procuram cidadania de país europeu para ter trabalho e padrão de vida melhor
Argentinos vêem a Europa como solução
ROGERIO WASSERMANN
DE BUENOS AIRES
LILIAN CRISTOFOLETTI
DE MADRI
Existe uma saída para a crise
econômica argentina: Ezeiza (o
aeroporto internacional de Buenos Aires). A piada, recorrente
nos meios de comunicação argentinos, retrata uma situação que é
cada vez mais comum.
Preocupados com a falta de
oportunidades de trabalho e com
a perda da qualidade de vida provocada pela depressão econômica, cada vez mais argentinos saem
do país em busca de oportunidades melhores.
Segundo uma pesquisa recente
realizada pelo Centro de Estudos
Nova Maioria, 49% dos argentinos disseram que sairiam do país
se pudessem. A porcentagem é
ainda maior entre os integrantes
das classes média e média baixa
(56% disseram que deixariam o
país), que, além de mais afetados
pela crise, têm formação educacional que permite buscar algum
trabalho no exterior.
Europa
A maioria dos argentinos que
sai do país vai à Europa, preferencialmente Espanha e Itália, países
dos antepassados de grande parte
da população do país.
Outro atrativo para os argentinos é a relativa facilidade para os
descendentes de espanhóis e,
principalmente, de italianos conseguirem cidadania européia.
Segundo o consulado-geral da
Itália em Buenos Aires, a procura
por concessão de cidadania italiana aumentou quase 20% entre
1999 e 2000, e deve aumentar outros 20% neste ano, para atingir
um total de 30 mil pedidos ao longo do ano.
Para atender as longas filas que
se formam diariamente na porta
do consulado italiano, o atendimento foi ampliado em um turno
diário. "Sempre que há uma crise
mais grave, a procura aumenta,
como agora. Esses são períodos
específicos", disse à Folha Graciela Varalta, agregada social do consulado-geral.
Para conseguir a cidadania italiana, a pessoa precisa ser descendente de italianos de qualquer
grau por linha paterna ou por linha materna a partir de 1948
(quando a Constituição do país
igualou os direitos de homens e
mulheres). Calcula-se que cerca
de 40% da população argentina
tenha ascendência italiana, o que
daria um potencial de quase 15
milhões de "novos italianos".
Espanha
Para os descendentes de espanhóis a concessão de cidadania é
um pouco mais restrita -têm direito apenas filhos de pais espanhóis ou de mães espanholas a
partir de 1982-, mas ainda assim
mais de uma centena de argentinos procura diariamente o consulado-geral em Buenos Aires para
pedir a cidadania.
No ano passado, foram concedidos 21.511 passaportes espanhóis para argentinos, 25% mais
que no ano anterior. Além disso, é
grande também o número de pessoas que pedem visto para trabalho no país.
Somente neste ano, cerca de 10
mil argentinos buscaram os serviços espanhóis de regularização
para conseguir o visto de trabalho
e de residência -o dobro do registrado no último ano. Eles darão mais peso à comunidade,
composta hoje por cerca de 9.500
argentinos que já usufruem uma
situação regular.
A maioria, segundo o governo,
chega irregular, entrando no país
como turista, e confia na possibilidade de encontrar trabalho, requisito essencial para conseguir a
permissão de residência e de moradia em terras espanholas.
A nova Lei de Estrangeiros,
aprovada no início deste ano, promete dificultar a regularização.
De um total de 322.761 imigrantes
na Espanha que apresentaram o
pedido de residência, menos da
metade deverá ser aprovada.
Mercado saturado
Para o secretário de Estado para
a Imigração, Enrique Fernández
Miranda, a Espanha, com uma taxa de desemprego considerada
uma das mais altas da Europa
(11%), tem saturada sua oferta de
emprego. "O mercado espanhol
está chegando em seu limite para
absorver mão-de-obra imigrante", afirma.
Atualmente, os imigrantes ocupam postos de trabalho de baixa
remuneração no setor da construção civil, agricultura ou no serviço
doméstico.
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