São Paulo, domingo, 12 de agosto de 2001

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ÊXODO PLATINO

Descendentes de espanhóis procuram cidadania de país europeu para ter trabalho e padrão de vida melhor

Argentinos vêem a Europa como solução

ROGERIO WASSERMANN
DE BUENOS AIRES

LILIAN CRISTOFOLETTI
DE MADRI

Existe uma saída para a crise econômica argentina: Ezeiza (o aeroporto internacional de Buenos Aires). A piada, recorrente nos meios de comunicação argentinos, retrata uma situação que é cada vez mais comum.
Preocupados com a falta de oportunidades de trabalho e com a perda da qualidade de vida provocada pela depressão econômica, cada vez mais argentinos saem do país em busca de oportunidades melhores.
Segundo uma pesquisa recente realizada pelo Centro de Estudos Nova Maioria, 49% dos argentinos disseram que sairiam do país se pudessem. A porcentagem é ainda maior entre os integrantes das classes média e média baixa (56% disseram que deixariam o país), que, além de mais afetados pela crise, têm formação educacional que permite buscar algum trabalho no exterior.

Europa
A maioria dos argentinos que sai do país vai à Europa, preferencialmente Espanha e Itália, países dos antepassados de grande parte da população do país.
Outro atrativo para os argentinos é a relativa facilidade para os descendentes de espanhóis e, principalmente, de italianos conseguirem cidadania européia.
Segundo o consulado-geral da Itália em Buenos Aires, a procura por concessão de cidadania italiana aumentou quase 20% entre 1999 e 2000, e deve aumentar outros 20% neste ano, para atingir um total de 30 mil pedidos ao longo do ano.
Para atender as longas filas que se formam diariamente na porta do consulado italiano, o atendimento foi ampliado em um turno diário. "Sempre que há uma crise mais grave, a procura aumenta, como agora. Esses são períodos específicos", disse à Folha Graciela Varalta, agregada social do consulado-geral.
Para conseguir a cidadania italiana, a pessoa precisa ser descendente de italianos de qualquer grau por linha paterna ou por linha materna a partir de 1948 (quando a Constituição do país igualou os direitos de homens e mulheres). Calcula-se que cerca de 40% da população argentina tenha ascendência italiana, o que daria um potencial de quase 15 milhões de "novos italianos".

Espanha
Para os descendentes de espanhóis a concessão de cidadania é um pouco mais restrita -têm direito apenas filhos de pais espanhóis ou de mães espanholas a partir de 1982-, mas ainda assim mais de uma centena de argentinos procura diariamente o consulado-geral em Buenos Aires para pedir a cidadania.
No ano passado, foram concedidos 21.511 passaportes espanhóis para argentinos, 25% mais que no ano anterior. Além disso, é grande também o número de pessoas que pedem visto para trabalho no país.
Somente neste ano, cerca de 10 mil argentinos buscaram os serviços espanhóis de regularização para conseguir o visto de trabalho e de residência -o dobro do registrado no último ano. Eles darão mais peso à comunidade, composta hoje por cerca de 9.500 argentinos que já usufruem uma situação regular.
A maioria, segundo o governo, chega irregular, entrando no país como turista, e confia na possibilidade de encontrar trabalho, requisito essencial para conseguir a permissão de residência e de moradia em terras espanholas.
A nova Lei de Estrangeiros, aprovada no início deste ano, promete dificultar a regularização. De um total de 322.761 imigrantes na Espanha que apresentaram o pedido de residência, menos da metade deverá ser aprovada.

Mercado saturado
Para o secretário de Estado para a Imigração, Enrique Fernández Miranda, a Espanha, com uma taxa de desemprego considerada uma das mais altas da Europa (11%), tem saturada sua oferta de emprego. "O mercado espanhol está chegando em seu limite para absorver mão-de-obra imigrante", afirma.
Atualmente, os imigrantes ocupam postos de trabalho de baixa remuneração no setor da construção civil, agricultura ou no serviço doméstico.



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