São Paulo, domingo, 12 de agosto de 2001

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SOBRA

"O racionamento mostrou o desperdício; dá para viver muito bem gastando menos'
O racionamento de energia elétrica foi muito bem-vindo para Marinalva Moreira da Silva, 51, secretária de consultórios médicos há 32 anos. A economia com o gasto de luz desencadeou também uma queda no consumo de água, de sabonete e de sabão em pó em casa. "Por isso, está sobrando mais dinheiro no final do mês", diz ela.
Consequência: Marinalva voltou a frequentar o cabeleireiro uma vez por semana, a comprar revistas semanais e a se reunir com os amigos para a pizza e a cervejinha às sextas-feiras.
"O racionamento mostrou como nós desperdiçamos energia. Dá para viver muito bem gastando menos", afirmou a secretária.
Ela vive com dois filhos, irmão, cunhada e sobrinho numa casa em Itaquera (zona leste). Consumia em média cerca de 480 kWh por mês. A meta para sua residência é de 380 kWh, mas conseguiu diminuir bem mais. Consumiu 260 kWh em junho e 245 kWh em julho.
O que mais animou Marinalva na luta para cortar o consumo foi a economia financeira. Ela costumava gastar cerca de R$ 115 por mês com eletricidade. Em julho, a conta foi de R$ 65,57. Com o banho mais rápido, o consumo de água também caiu. O valor da conta baixou de R$ 130 para R$ 62 em julho. Na onda de que é preciso economizar, até a conta de telefone ficou mais barata. Em julho, o consumo caiu 25% sobre junho.
O que ela nem imaginava é que ia sobrar até mais sabonete e sabão em pó na despensa, já que, além do banho mais rápido, a máquina de lavar roupa só é usada para centrifugar algumas peças. A família gastava entre 12 e 15 sabonetes e três caixas de sabão em pó por mês.
"Quando fui guardar os produtos no armário no início do mês, ainda havia seis sabonetes e meia caixa de sabão em pó. Antes não sobrava nada", diz. Pelas suas contas, o consumo geral já resultou em uma economia de R$ 200 ao mês. Sua renda mensal (com aposentadoria mais salário) é de cerca de R$ 1.500.
Mas não foi fácil economizar. "Tivemos de mudar nossa rotina." Ela desligou uma geladeira, o microondas, o rádio-relógio e metade das lâmpadas. O bolo agora é batido à mão. O liquidificador foi para o armário.
O computador só é usado agora para o trabalho do filho. Para que a família não relaxe no corte do consumo, foi eleito um fiscal do racionamento. "Meu irmão é quem faz a checagem na casa pela manhã", afirma.
Só tem um costume que a família não abre mão. "Toda noite usamos o microondas para estourar pipoca."
(DA REPORTAGEM LOCAL)



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