São Paulo, domingo, 12 de agosto de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

HISTÓRIAS DO RACIONAMENTO

NO LIMITE

"Lutamos muito para viver com conforto; a escassez de luz complicou a nossa vida'
A busca pela redução no consumo de energia causou um transtorno no dia-a-dia da família da dona-de-casa Lúcia Rodrigues Costa Rocha, 40.
Acostumados a ligar logo pela manhã a cafeteira, a torradeira e a sanduicheira elétrica, Lúcia, o marido, as duas filhas e a mãe dela estão tendo até de tomar banho frio para economizar energia elétrica.
"Lutamos muito para viver com conforto. A escassez de eletricidade no país alterou toda a nossa rotina, complicou a nossa vida", diz Lúcia, que mora num apartamento de aproximadamente 180 metros quadrados no bairro do Pacaembu (zona oeste de São Paulo).
A família consumia entre 800 e 1.000 kWh por mês. Essa energia era gasta para manter ligados cinco televisores, cinco telefones sem fio, três computadores, duas geladeiras, microondas, máquina de lavar louça, aquecedor de água e outros eletroportáteis de uso diário. "Tivemos de desligar quase tudo", diz ela.
A meta estabelecida para o consumo de energia foi de 730 kWh. A família levou tão a sério que, em julho, gastou só 429 kWh. Além de diminuir o uso dos eletrodomésticos, a rotina da família mudou. A louça do jantar já não é mais lavada na máquina. A roupa da família é lavada duas vezes por semana, e não diariamente. E a faxineira só utiliza o aspirador de pó uma vez a cada duas semanas.
A pior parte na luta para gastar menos energia, diz, foi a decisão de desligar o aquecedor de água, que operava 24 horas por dia. "Só tem água quente para quem toma banho das 7h às 10h e das 17h às 20h. Fora desses horários, tem de torcer para que a água ainda esteja morna."
Um termostato mantém por algum tempo a água aquecida. "As minhas filhas já aprenderam que é bom tomar banho uma em seguida da outra, para ter o banho quente", diz Lúcia.
Para reduzir o consumo de energia, Lúcia e o marido, Luiz Miguel, administrador de empresas, decidiram tomar banho no clube Pinheiros, depois da ginástica. Ela tem aula às quartas e sextas-feiras. Ele, às terças e quintas-feiras.
Lúcia diz que a família tem consciência de que gastava luz além do necessário. Mas, agora que conseguiu reduzir o consumo além da meta, a família já pensa em relaxar um pouco. "Chega de terrorismo em casa. Voltei a usar a cafeteira e a sanduicheira, mas só de manhã."
Apesar do "luxo", Lúcia diz que o prato de comida da filha, que é a última a jantar, continua sendo esquentado no fogão -e não no microondas, como era costume.
(FÁTIMA FERNANDES, DA REPORTAGEM LOCAL)

Texto Anterior: Salto no escuro: Zylbersztajn condena restrição para bônus
Próximo Texto: Sobra: "O racionamento mostrou o desperdício; dá para viver muito bem gastando menos'
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.