São Paulo, quinta-feira, 12 de agosto de 2004

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INVESTIGAÇÃO

Chefe de associação de lotéricas diz que sua assinatura foi falsificada em documento usado para permitir importação

Pedido para liberar caça-níqueis era falso

CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Era falso o pedido que levou a Receita Federal a criar uma norma para classificar as máquinas de jogos de azar -caça-níqueis, videobingo e videopôquer- sob a mesma classificação de computadores comuns.
A afirmação é de Paulo Leonel Michielon, presidente da Febralot (Federação Brasileira das Empresas Lotéricas). O nome da federação e a assinatura falsa de Michielon aparecem em documento que resultou na criação da norma editada pela Receita Federal em 2002.
No último domingo, a Folha revelou que o Ministério Público Federal (DF) e a Corregedoria da Receita Federal investigam suposto esquema de corrupção para facilitar a importação de equipamentos para jogos de azar.
Essa facilitação ocorreu com a edição da solução de consulta nš 9 (SC-9), em dezembro de 2002 -espécie de norma que classifica as máquinas de jogos de azar como computadores comuns, cuja importação é liberada no país.
"Falsificaram a minha assinatura. Prestei depoimento à Corregedoria da Receita informando que não pedi essa consulta. A pessoa que falsificou minha assinatura nem sequer se preocupou em copiá-la. A falsificação chega a ser ridícula", afirma Michielon.
A Folha obteve os documentos que revelam a falsificação. O pedido encaminhado em 14 de novembro de 2002 à Receita é assinado por Paulo Michelon (e não Michielon, a grafia correta), presidente da Febralot.
No documento, enviado para a Coordenadoria Geral de Administração Aduaneira (Coana) da Receita, pede-se a classificação fiscal de terminais de captação de aposta como "terminais de máquinas de processamento de dados", como os computadores.
"Fiquei surpreso quando soube desse pedido falsificado. Ele inclusive vai contra o nosso setor, que representa as casas lotéricas. Como vamos pedir algo que pode facilitar a entrada de caça-níqueis no país se eles são nossos concorrentes?", questiona Michielon.
MPF e Corregedoria devem concluir investigação sobre a fraude nas próximas semanas. Para os procuradores, a falsificação da assinatura e o uso indevido do nome da Febralot é crime -falsidade ideológica.
Para pedir a mudança na classificação das máquinas de jogos de azar, o documento em nome da Febralot cita laudo técnico do Centro Tecnológico da Universidade Federal Fluminense. O laudo, entretanto, foi feito em caráter particular por um professor da UFF -Inhaúma Neves Ferraz- sem o conhecimento do Centro.
Ferraz confirmou à Folha que recebeu R$ 5.000 pelo trabalho feito a pedido de um colega de outra universidade. Ele não quis revelar o nome do colega. Esse fato chamou a atenção dos procuradores do MPF e da Corregedoria porque o laudo usa papel timbrado e o nome da instituição.
"Se não houver carimbos dos órgãos institucionais da UFF e assinatura do responsável por cada um dos órgãos, não se trata de documento oficial", diz Regina Leal Toledo, chefe do Departamento de Ciência da Computação.


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