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Alimento pára de cair, e IPCA sobe 0,19%
Alta em julho também é influenciada por reajuste de combustíveis e despesas com domésticos; taxa em 12 meses é de 3,97%
IBGE muda metodologia, e
álcool perde peso e vestuário
ganha; instituto e analista
dizem que mudanças serão
diluídas no longo prazo
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
CLARICE SPITZ
DA FOLHA ONLINE NO RIO
O IPCA (Índice de Preços ao
Consumidor Amplo) subiu
0,19% em julho, mês a partir do
qual o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
introduziu novos pesos aos
produtos que integram o índice. Em junho, havia registrado
deflação de 0,21% -a primeira
taxa negativa do ano.
No acumulado em 12 meses,
o IPCA ficou em 3,97%. Foi a
menor variação desde junho de
1999 -período que o país vivia
a recessão pós-desvalorização
cambial.
Segundo Eulina Nunes dos
Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE, os reajustes do grupo transportes
(puxado pelos aumentos do álcool e da gasolina), dos empregados domésticos e o final da
deflação dos alimentos provocaram a elevação do IPCA.
No novo sistema de ponderação do IBGE, o álcool combustível perdeu peso -de 1,28 ponto percentual do índice para
0,42 ponto. Em tese, isso poderia trazer um "viés de baixa" para o índice, já que o combustível
subiu em julho -1,04%. Em junho, o produto teve deflação de
8,77% e foi o principal responsável pela queda do IPCA.
O reajuste do álcool impulsionou os preços da gasolina,
que tem em sua composição
20% do produto. A alta ficou
em 0,81%. A gasolina, por sua
vez, ganhou participação.
Sob impacto do aumento do
salário mínimo, o item empregados domésticos teve alta de
1,18% em julho. Seu peso também foi reduzido.
Longo prazo
Na opinião de Nunes dos
Santos, a mudança metodológica introduzida não altera, no
longo prazo, os resultados do
IPCA, embora reconheça que
"os preços que cresceram mais
em julho são aqueles que perderam peso".
Ela disse, porém, que em outros meses pode acontecer o
contrário: os aumentos ficarem
concentrados nos produtos que
ganharam participação, o que
leva a uma convergência no
longo prazo.
Já em julho, Nunes cita o
exemplo do grupo vestuário,
cujos preços subiram 0,59%. O
grupo ganhou participação no
IPCA.
A nova ponderação visa atualizar o índice aos novos hábitos
de consumo da população,
identificados pela POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares) de 2003. A antiga estrutura
refletia o padrão de consumo
de 1996. Ou seja, se um produto
passou a ser mais consumido,
ele ganha peso, ou vice-versa.
O economista Luiz Roberto
Cunha, da PUC-RJ, também
avalia que o impacto da mudança metodológica será diluído ao
longo do tempo e não altera as
projeções de inflação para
2006 -que estão na faixa de
3,5% a 4%.
Política igual
Cunha disse que a mudança
não altera em nada a atual condução da política monetária. O
IPCA serve de referência para a
meta de inflação do governo,
que é de 4,5% neste ano.
Em julho, o IPCA ficou levemente acima das projeções de
analistas do mercado financeiro -0,15%.
Para agosto, entretanto, o
economista espera uma pequena aceleração da inflação. O
motivo é que os preços dos alimentos devem subir, com aumentos previstos para carnes e
outros produtos. Em julho, tal
tendência já começou a se manifestar: o grupo alimentação
passou de uma deflação de
-0,61% para uma alta de 0,09%.
O aumento também teve impacto no resultado do IPCA, segundo o IBGE.
Preços mais altos do arroz
(4,33%) e das frutas (8,14%) foram os que mais contribuíram
para a aceleração do grupo alimentação, de acordo com o instituto.
Novos hábitos
A nova estrutura do IPCA
identificou que as famílias passaram a gastar mais com telefonia fixa e celular, serviços bancários, planos de saúde, entre
outros. Os cursos passaram a
ser o item de maior peso no índice -4,90 ponto. A posição anteriormente era da gasolina,
que agora passou a ser a segunda em importância (4,77%).
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