São Paulo, domingo, 12 de agosto de 2007

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Brasil não precisa de ação emergencial, diz Meirelles

Na opinião de presidente do BC, país está mais bem preparado para enfrentar crises

Meirelles diz que mercado financeiro brasileiro opera com "absoluta normalidade" e que autoridade monetária não precisou socorrer bancos

VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar da crise nos mercados internacionais, que fez a Bolsa brasileira cair 9,3% desde o seu início e o dólar subir para R$ 1,95, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, descarta a adoção de "medidas emergenciais" para proteger a economia do país.
"Não temos neste momento de estar correndo atrás de medidas emergenciais", disse, em entrevista à Folha na noite de sexta, após uma semana em que os bancos centrais dos EUA e da Europa despejaram dinheiro no mercado para evitar quebradeiras de instituições financeiras.
Segundo Meirelles, o Banco Central não teve de socorrer instituições brasileiras por conta de dificuldades de caixa -falta de liquidez-, acrescentando considerar que o mercado financeiro do país opera com "absoluta normalidade".
O presidente do BC não quis, porém, comentar se a onda de turbulências no mercado internacional pode interromper o ritmo de queda nos juros, como já se especula no mercado. "Não anunciamos ações futuras", limitou-se a dizer.
A seguir, trechos da entrevista concedida por telefone do Rio de Janeiro:  

FOLHA - Como a atual turbulência nos mercados afeta a política monetária do Banco Central?
HENRIQUE MEIRELLES
- Como temos enfatizado em outras oportunidades, não anunciamos ações futuras nem estabelecemos condicionantes específicos. O Banco Central analisa nas reuniões do Copom toda uma série de fatores e a partir daí toma a sua decisão. Não pontuamos um ou outro aspecto para nossa tomada de decisão. Não estabelecemos condicionamentos para o nosso processo decisório.

FOLHA - Na última ata do Copom, porém, o BC foi claro ao atribuir ao cenário externo benigno o prosseguimento da queda dos juros no ritmo de meio ponto percentual por reunião. O cenário externo mudou. O ritmo mudará?
MEIRELLES
- De novo, insisto em que não estabelecemos condicionamentos específicos para nossas decisões futuras. Analisamos todo o quadro, todos os fatores, para avaliar nossas perspectivas futuras de inflação e tomar a nossa decisão.

FOLHA - O BC cita sempre a contribuição do dólar para o controle da inflação. Ele agora está subindo. Isso ameaça o controle da inflação?
MEIRELLES
- Como já disse, nós levamos em consideração diversos fatores para tomar decisões, e não apenas um fator específico. Não temos um valor específico para o dólar.

FOLHA - O sr. acha que o Brasil está bem preparado para a turbulência? Não seria necessário tomar algumas medidas preventivas na hipótese de a crise se agudizar? Na área fiscal, por exemplo, com um corte mais acentuado nos gastos públicos?
MEIRELLES
- Eu acredito que as medidas preventivas foram tomadas nos últimos anos. O país fez uma acumulação de reservas, passou a ser credor líquido em dólares, aplicou uma política monetária de sucesso, tem um crescimento ancorado num aumento de demanda interna e situação fiscal equilibrada. Além de o BC ter tomado medidas prudenciais adequadas no tempo correto. Tudo isso foram medidas preventivas que estão mostrando agora resultado.

FOLHA - Mas, se a crise piorar, não seria mais adequado, por exemplo, apertar mais a política fiscal?
MEIRELLES
- Os bancos centrais do mundo inteiro, incluindo o brasileiro, estão monitorando claramente e com muito cuidado toda a evolução dos mercados. No momento, o mercado brasileiro encontra-se operando com absoluta normalidade, sem necessidade de nenhuma medida emergencial adicional extraordinária. No campo fiscal, o superávit primário está bastante adequado e, certamente, o governo como um todo estará olhando toda essa situação com bastante atenção.

FOLHA - O BC brasileiro precisou dar liquidez aos bancos nacionais desde o início dessa crise? Se precisar, isso será feito? Como?
MEIRELLES
- Não, não. Agora, como disse, o BC está muito preparado para acompanhar a evolução da situação e tomar as medidas que forem necessárias. Não fazemos nenhum tipo de previsão futura. O que posso repetir é que o mercado brasileiro está funcionando dentro da mais absoluta normalidade e não vemos no momento nenhuma necessidade de intervenções específicas de liquidez.

FOLHA - Grandes bancos nos EUA, Europa e até na Austrália sofrem com a crise no mercado "subprime" (crédito de alto risco para o setor imobiliário) americano. Há ameaça de risco sistêmico? Bancos brasileiros têm exposição a esse crédito?
MEIRELLES
- Desse problema ainda estamos muito longe, pois o crédito imobiliário no Brasil ainda é pequeno em relação ao PIB. Essa não é, no momento, uma preocupação.

FOLHA - No curto prazo, a continuar essas turbulências, o que é preciso ser feito para evitar uma contaminação da economia brasileira?
MEIRELLES
- De novo, hoje a grande mudança em relação ao passado é exatamente termos nos preparado com antecedência, por meio da melhora dos fundamentos, o que faz com que não sejam necessárias sistematicamente medidas emergenciais em situação de crise. O importante é que o BC já tomou as medidas que eram necessárias. Não temos neste momento de estar correndo atrás de medidas emergenciais.


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