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Brasil não precisa de ação emergencial, diz Meirelles
Na opinião de presidente do BC, país está mais bem preparado para enfrentar crises
Meirelles diz que mercado financeiro brasileiro opera com "absoluta normalidade" e que autoridade monetária não precisou socorrer bancos
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar da crise nos mercados
internacionais, que fez a Bolsa
brasileira cair 9,3% desde o seu
início e o dólar subir para R$
1,95, o presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles,
descarta a adoção de "medidas
emergenciais" para proteger a
economia do país.
"Não temos neste momento
de estar correndo atrás de medidas emergenciais", disse, em
entrevista à Folha na noite de
sexta, após uma semana em
que os bancos centrais dos
EUA e da Europa despejaram
dinheiro no mercado para evitar quebradeiras de instituições financeiras.
Segundo Meirelles, o Banco
Central não teve de socorrer
instituições brasileiras por
conta de dificuldades de caixa
-falta de liquidez-, acrescentando considerar que o mercado financeiro do país opera
com "absoluta normalidade".
O presidente do BC não quis,
porém, comentar se a onda de
turbulências no mercado internacional pode interromper o
ritmo de queda nos juros, como
já se especula no mercado.
"Não anunciamos ações futuras", limitou-se a dizer.
A seguir, trechos da entrevista concedida por telefone do
Rio de Janeiro:
FOLHA - Como a atual turbulência
nos mercados afeta a política monetária do Banco Central?
HENRIQUE MEIRELLES - Como temos enfatizado em outras
oportunidades, não anunciamos ações futuras nem estabelecemos condicionantes específicos. O Banco Central analisa
nas reuniões do Copom toda
uma série de fatores e a partir
daí toma a sua decisão. Não
pontuamos um ou outro aspecto para nossa tomada de decisão. Não estabelecemos condicionamentos para o nosso processo decisório.
FOLHA - Na última ata do Copom,
porém, o BC foi claro ao atribuir ao
cenário externo benigno o prosseguimento da queda dos juros no ritmo de meio ponto percentual por
reunião. O cenário externo mudou.
O ritmo mudará?
MEIRELLES - De novo, insisto em
que não estabelecemos condicionamentos específicos para
nossas decisões futuras. Analisamos todo o quadro, todos os
fatores, para avaliar nossas
perspectivas futuras de inflação e tomar a nossa decisão.
FOLHA - O BC cita sempre a contribuição do dólar para o controle da
inflação. Ele agora está subindo. Isso
ameaça o controle da inflação?
MEIRELLES - Como já disse, nós
levamos em consideração diversos fatores para tomar decisões, e não apenas um fator específico. Não temos um valor
específico para o dólar.
FOLHA - O sr. acha que o Brasil está
bem preparado para a turbulência?
Não seria necessário tomar algumas
medidas preventivas na hipótese de
a crise se agudizar? Na área fiscal,
por exemplo, com um corte mais
acentuado nos gastos públicos?
MEIRELLES - Eu acredito que as
medidas preventivas foram tomadas nos últimos anos. O país
fez uma acumulação de reservas, passou a ser credor líquido
em dólares, aplicou uma política monetária de sucesso, tem
um crescimento ancorado num
aumento de demanda interna e
situação fiscal equilibrada.
Além de o BC ter tomado medidas prudenciais adequadas no
tempo correto. Tudo isso foram
medidas preventivas que estão
mostrando agora resultado.
FOLHA - Mas, se a crise piorar, não
seria mais adequado, por exemplo,
apertar mais a política fiscal?
MEIRELLES - Os bancos centrais
do mundo inteiro, incluindo o
brasileiro, estão monitorando
claramente e com muito cuidado toda a evolução dos mercados. No momento, o mercado
brasileiro encontra-se operando com absoluta normalidade,
sem necessidade de nenhuma
medida emergencial adicional
extraordinária. No campo fiscal, o superávit primário está
bastante adequado e, certamente, o governo como um todo estará olhando toda essa situação com bastante atenção.
FOLHA - O BC brasileiro precisou
dar liquidez aos bancos nacionais
desde o início dessa crise? Se precisar, isso será feito? Como?
MEIRELLES - Não, não. Agora, como disse, o BC está muito preparado para acompanhar a evolução da situação e tomar as
medidas que forem necessárias. Não fazemos nenhum tipo
de previsão futura. O que posso
repetir é que o mercado brasileiro está funcionando dentro
da mais absoluta normalidade e
não vemos no momento nenhuma necessidade de intervenções específicas de liquidez.
FOLHA - Grandes bancos nos EUA,
Europa e até na Austrália sofrem
com a crise no mercado "subprime"
(crédito de alto risco para o setor
imobiliário) americano. Há ameaça
de risco sistêmico? Bancos brasileiros têm exposição a esse crédito?
MEIRELLES - Desse problema
ainda estamos muito longe,
pois o crédito imobiliário no
Brasil ainda é pequeno em relação ao PIB. Essa não é, no momento, uma preocupação.
FOLHA - No curto prazo, a continuar essas turbulências, o que é preciso ser feito para evitar uma contaminação da economia brasileira?
MEIRELLES - De novo, hoje a
grande mudança em relação ao
passado é exatamente termos
nos preparado com antecedência, por meio da melhora dos
fundamentos, o que faz com
que não sejam necessárias sistematicamente medidas emergenciais em situação de crise. O
importante é que o BC já tomou
as medidas que eram necessárias. Não temos neste momento de estar correndo atrás de
medidas emergenciais.
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