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País é o que mais se desfaz de títulos dos EUA
Desde piora da crise, Brasil reduz em US$ 25,5 bi volume de papéis americanos, enquanto China e Rússia elevam investimento
BC brasileiro diversifica reservas com títulos de países como Alemanha e Espanha, além de papéis de organismos multilaterais
ÁLVARO FAGUNDES
DA REDAÇÃO
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
A China ameaçou, a Rússia
também disse que ia fazer o
mesmo, mas nenhum dos principais credores dos EUA reduziu os investimentos nos títulos
americanos como o Brasil.
Desde o fim de agosto (duas
semanas antes da quebra do
Lehman Brothers) até 30 de
maio, o Brasil diminuiu em 17%
suas aplicações nos papéis emitidos pelo governo americano.
Para os EUA, a queda no investimento brasileiro, de US$
25,5 bilhões, não chega a ser representativa -algo como 0,2%
do seu PIB de 2008-, mas tem
um aspecto simbólico: um dos
seus maiores credores está diminuindo suas apostas nos títulos em um momento em que
a confiança é fundamental.
No início da crise, houve forte procura pelos títulos americanos, que tiveram seu preço
elevado e os juros reduzidos.
Nos último meses, porém, as
taxas subiram, e houve queda
no preço dos papéis por conta
da diminuição da aversão ao
risco e da piora das contas dos
EUA.
Nenhum dos 15 maiores credores dos EUA fez o mesmo
movimento brasileiro. A China,
por exemplo, aumentou em
40% suas aplicações entre
agosto de 2008 e maio deste
ano, para US$ 801,5 bilhões, e
continua a ser o maior credor
externo dos EUA. No caso russo, o crescimento foi de 19,5%.
Tanto autoridades chinesas
quanto russas vêm ameaçando
nos últimos meses se desfazer
dos papéis dos EUA, à medida
que o dólar cai e crescem os temores de que a principal economia mundial não irá conseguir manter em dia os pagamentos de sua dívida.
Para analistas, o BC procurou diversificar e buscar maior
rentabilidade em outros papéis
quando as reservas adquiriram
um tamanho superior à divida
externa em dólar. Isso porque
as reservas sempre foram administradas como um hedge
(proteção) para a dívida externa brasileira. As reservas são
administradas segundo critérios de segurança, liquidez e
rentabilidade, nessa ordem.
No ano passado, o BC já tinha
sinalizado que pretendia diversificar as reservas, possivelmente adquirindo títulos de organismos multilaterais, como o
KfW (o BNDES alemão) e o BIS
(o BC dos bancos centrais), e
papéis da dívida de outros países como Alemanha, Itália, Espanha e Suécia. Todos esses papéis têm garantia e "rating"
(avaliações) altos, ao menos AA
(a classificação máxima é AAA).
Com isso, optou pela rentabilidade em troca da maior liquidez dos títulos americanos.
Segundo Nathan Blanche, da
consultoria Tendências, a
maioria dos países decidiu mudar o portfólio das reservas e a
forma como são administradas.
O principal fator é a eventual
redução do poder de compra do
dólar. "Mas, cuidado, se a economia americana voltar a crescer, a conversa muda. A tendência de curto e médio prazo é
que o dólar se desvalorize em
relação ao euro e a outras moedas. Mas pode ter uma virada."
Além da diversificação, os dados do Tesouro americano
mostram que o Brasil vem trocando títulos de longo prazo
pelos de curto, que perderam
menos valor de face com o aumento nas taxas de retornos
desses papéis.
Esse movimento do BC ocorre no momento em que cresce
as preocupação com a dívida
americana. A dívida pública dos
EUA vai saltar de 41% do PIB
no ano fiscal passado para 82%
em 2019, segundo previsão de
órgão do Congresso do país.
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