São Paulo, Quinta-feira, 12 de Agosto de 1999
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POLÍTICA ECONÔMICA
Em trégua desde a máxi, indústria paulista volta a censurar fraca coordenação política de FHC
Fiesp critica desarticulação política

ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local

A crescente fragilidade da economia brasileira em relação a choques externos e ao risco de reindexação de salários e contratos coloca em dúvida o otimismo generalizado quanto à retomada do crescimento econômico neste semestre.
A advertência foi feita pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), ontem, no lançamento da edição de estréia de "Indústria em Análise", uma nova publicação mensal de análises e previsões econômicas da entidade, editada por seu Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depecon).
Clarice Seibel, diretora do Depecon, disse que a fragilidade da economia brasileira está se tornando mais aparente nos últimos meses por várias razões internas e externas, entre elas a "fraca coordenação política do governo", que impede o ajuste fiscal -"somos reféns do ajuste fiscal"- e a votação da reforma tributária, e o "expressivo aumento no preço internacional do petróleo".
Oficialmente, o objetivo da nova publicação da Fiesp é contextualizar, de forma absolutamente técnica, a atual situação da indústria no ambiente macroeconômico do país, mas a Folha apurou que a iniciativa também é mais uma arma do arsenal de uma nova ofensiva de "crítica responsável" da entidade à visão monetarista da política econômica do ministro Pedro Malan.
A "oposição" dos empresários industriais paulistas à política econômica do czar da economia brasileira ficará mais evidente com a divulgação, hoje, de duas pesquisas de opinião inéditas da entidade, o índice de confiança da indústria e o índice de avaliação da gestão governamental, que apresentarão resultados ruins para o presidente Fernando Henrique Cardoso.

Deterioração
A análise macroeconômica da Fiesp reconhece que a mudança do regime cambial criou boas perspectivas para a indústria, mas afirma que ainda não estão asseguradas as condições para que "qualquer crescimento econômico mais significativo se sustente ao longo do tempo".
Entre essas condições, a Fiesp inclui o menor espaço, daqui por diante, para novas quedas das taxas de juros. A entidade reforça seu ponto de vista com a revisão para cima pelos analistas e pelo mercado financeiro, nos últimos dias, das estimativas da taxa de juros para dezembro, que se concentravam na faixa dos 16,5% a 18% ao ano.
Segundo a Fiesp, esse movimento refletiu a "deterioração recente das expectativas" porque as pressões sobre a inflação tornaram-se mais evidentes devido à incertezas nos âmbitos nacional e internacional.
Entre os problemas internos, a entidade cita a situação fiscal, o fraco desempenho das exportações e a desarticulação política do governo. Entre os riscos internacionais, cita a decisão sobre juros nos EUA, eleições na Argentina e câmbio na China.
"Atualmente, entendemos que o maior risco para o nível de atividade esteja na interrupção e/ou reversão do processo de queda das taxas de juros, como consequência de fatores que, muitas vezes, estão sob a alçada dos governantes deste país."
A Fiesp manifesta ainda sua preocupação com a volta de mecanismos de indexação na economia brasileira.
Segundo a entidade, a demanda por esses instrumentos deve aumentar com a perspectiva de inflação de 19% para os próximos três anos.
Isso porque, diz o documento, caso a inflação se confirme no valor exato das metas inflacionárias recentemente fixadas pelo governo, para os próximos três anos, em 8%, 6% e 4%, estará acumulada em 19%, em 2001.
Para a Fiesp, os agentes econômicos, ao negociarem contratos, tais como salários e aluguéis, dificilmente desprezarão a perda potencial que esse nível de inflação acarretará.




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