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POLÍTICA ECONÔMICA
Em trégua desde a máxi, indústria paulista volta a censurar fraca coordenação política de FHC
Fiesp critica desarticulação política
ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local
A crescente fragilidade da economia brasileira em relação a
choques externos e ao risco de
reindexação de salários e contratos coloca em dúvida o otimismo
generalizado quanto à retomada
do crescimento econômico neste
semestre.
A advertência foi feita pela Fiesp
(Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), ontem, no
lançamento da edição de estréia
de "Indústria em Análise", uma
nova publicação mensal de análises e previsões econômicas da entidade, editada por seu Departamento de Pesquisas e Estudos
Econômicos (Depecon).
Clarice Seibel, diretora do Depecon, disse que a fragilidade da
economia brasileira está se tornando mais aparente nos últimos
meses por várias razões internas e
externas, entre elas a "fraca coordenação política do governo",
que impede o ajuste fiscal -"somos reféns do ajuste fiscal"- e a
votação da reforma tributária, e o
"expressivo aumento no preço internacional do petróleo".
Oficialmente, o objetivo da nova publicação da Fiesp é contextualizar, de forma absolutamente
técnica, a atual situação da indústria no ambiente macroeconômico do país, mas a Folha apurou
que a iniciativa também é mais
uma arma do arsenal de uma nova ofensiva de "crítica responsável" da entidade à visão monetarista da política econômica do ministro Pedro Malan.
A "oposição" dos empresários
industriais paulistas à política
econômica do czar da economia
brasileira ficará mais evidente
com a divulgação, hoje, de duas
pesquisas de opinião inéditas da
entidade, o índice de confiança da
indústria e o índice de avaliação
da gestão governamental, que
apresentarão resultados ruins para o presidente Fernando Henrique Cardoso.
Deterioração
A análise macroeconômica da
Fiesp reconhece que a mudança
do regime cambial criou boas
perspectivas para a indústria, mas
afirma que ainda não estão asseguradas as condições para que
"qualquer crescimento econômico mais significativo se sustente
ao longo do tempo".
Entre essas condições, a Fiesp
inclui o menor espaço, daqui por
diante, para novas quedas das taxas de juros. A entidade reforça
seu ponto de vista com a revisão
para cima pelos analistas e pelo
mercado financeiro, nos últimos
dias, das estimativas da taxa de juros para dezembro, que se concentravam na faixa dos 16,5% a
18% ao ano.
Segundo a Fiesp, esse movimento refletiu a "deterioração recente das expectativas" porque as
pressões sobre a inflação tornaram-se mais evidentes devido à
incertezas nos âmbitos nacional e
internacional.
Entre os problemas internos, a
entidade cita a situação fiscal, o
fraco desempenho das exportações e a desarticulação política do
governo. Entre os riscos internacionais, cita a decisão sobre juros
nos EUA, eleições na Argentina e
câmbio na China.
"Atualmente, entendemos que
o maior risco para o nível de atividade esteja na interrupção e/ou
reversão do processo de queda
das taxas de juros, como consequência de fatores que, muitas
vezes, estão sob a alçada dos governantes deste país."
A Fiesp manifesta ainda sua
preocupação com a volta de mecanismos de indexação na economia brasileira.
Segundo a entidade, a demanda por esses instrumentos deve
aumentar com a perspectiva de
inflação de 19% para os próximos
três anos.
Isso porque, diz o documento,
caso a inflação se confirme no valor exato das metas inflacionárias
recentemente fixadas pelo governo, para os próximos três anos,
em 8%, 6% e 4%, estará acumulada em 19%, em 2001.
Para a Fiesp, os agentes econômicos, ao negociarem contratos,
tais como salários e aluguéis, dificilmente desprezarão a perda potencial que esse nível de inflação
acarretará.
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