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LUÍS NASSIF
O segundo tempo da privatização
É retórica pura considerar a privatização, como
um todo, um fracasso. Assim como é exagero considerar o processo perfeito. Há pontos positivos e negativos.
A privatização está permitindo uma revolução nas telecomunicações que, em breve, vai
se disseminar por toda a economia, por meio dos modernos recursos tecnológicos. Na siderurgia e na mineração, logrou formar um parque competitivo
que, com o descruzamento das
ações da Vale do Rio Doce e da
Companhia Siderúrgica Nacional, permitirá a criação de "players" internacionais. Transformou a Embraer em um gigante
da indústria aeronáutica. Permitiu à Petrobras, com o mero
fim do monopólio, ganhar horizontes de multinacional.
Suas falhas ocorreram em três
frentes. Primeiro, na privatização de setores cujo modelo de regulamentação ainda não estava
definido -caso típico do setor
elétrico. Segundo, no uso dos recursos arrecadados para financiar a irresponsabilidade cambial do primeiro governo FHC
-que é um problema de política econômica, não propriamente do modelo de privatização.
Terceiro, ao não enquadrar a
privatização em um modelo
moderno de mercado de capitais e não saber trabalhar adequadamente a carência de capitais no Brasil, impedindo a consolidação das primeiras empresas públicas privadas (no sentido de não ser empresas de dono,
mas de poder compartilhado,
como ocorre em sociedades modernas).
Esse fato proporcionou a alguns empresários mais atirados
e com melhores relacionamentos no governo e nos fundos de
pensão comandar o processo,
articulando com fundos de pensão e estatais e assumir o controle sem dispor da capital, confiando na geração de caixa da
empresa para permitir-lhes
honrar os compromissos assumidos. Com isso, passaram a subordinar os interesses da companhia às suas próprias prioridades, valendo-se de maneira
pouco responsável do poder de
controle adquirido. Empresas
com alto nível de capital intensivo procederam a políticas temerárias de distribuição de dividendos, unicamente para capitalizar seus controladores, permitindo-lhes pagar os financiamentos assumidos para sua
compra.
Para que isso fosse possível,
passaram a dispensar total desatenção aos minoritários, mesmo fazendo parte do bloco de
controle, deixando clara a intenção de se prevalecer das vantagens do controle não compartilhado.
Muita prioridade
O governo poderia alegar a incapacidade de tratar simultaneamente de várias prioridades:
acelerar a privatização, montar
um modelo competitivo e, ao
mesmo tempo, enfrentar a carência de capitais nacionais.
Se o ótimo é inimigo do bom,
que se faça dentro do possível e
se escolha o momento para as
correções de rumo. Nos últimos
anos, a realidade do mercado se
incumbiu de efetuar alguns
acertos. Reduziu os sonhos megalômanos de alguns executivos
de siderúrgicas privatizadas, começa a buscar alternativas para
o cruzamento de ações entre
Vale e CSN.
Resta o caso Opportunity e as
teles. As diversas companhias
cujo controle foi articulado pelo
Opportunity meteram-se em
uma disputa intestina, que não
faz bem ao país, nem aos usuários, nem aos cotistas dos fundos
que administram.
Tentativas de composição foram refugadas pelo Opportunity. Para desestabilizá-lo, fundações se dispuseram a pagar
mais por compra de participação, apenas para diluir a posição do banco, desperdiçando recursos de seus associados.
Essa briga se resolve de maneira simples. Quanto aos fundos
de estatais, definindo uma linha
de atuação profissional. Quanto
ao Opportunity, fechando as
torneiras de financiamentos, até
que se resolva a pendência e ele
abra mão do controle.
O objetivo final é transformar
essas teles em empresas públicas
na acepção do termo, com administradores profissionais, impedindo que acionistas loteiem
cargos ou que tentem se apropriar dos ganhos do controle.
A operação tem que ser rápida, já que são inúmeros os sinais
de que os interesses das companhias (e de seus consumidores)
poderão ser afetados por manobras de surpresa de seus controladores.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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