São Paulo, domingo, 12 de setembro de 2004

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COMÉRCIO EXTERIOR

Mas especialistas avaliam que conquista de novos mercados ainda é frágil e carece de sustentação

Brasil diversifica clientes de exportações

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

As destinações das vendas externas brasileiras estão mais diversificadas.
O índice de concentração de exportações, elaborado pelo banco Bradesco, mostrou que em julho deste ano o indicador estava em 0,064. No mesmo período do ano passado, o valor era 0,081. Quanto mais próximo de zero, maior é a variedade de mercados importadores de produtos brasileiros.
Segundo Thais Ortega, uma das economistas responsáveis pelo relatório, o índice apresenta uma tendência de queda. Para calcular o indicador, é levada em consideração a participação de 232 países.
Dados do governo mostram de fato que a clientela brasileira cresceu. As exportações para a África, que figura como "novos mercados", cresceram 52,5% de janeiro a agosto deste ano. Para o Oriente Médio, o salto foi de 58,8%.
"Uma menor concentração por mercados é benéfica no sentido de possibilitar uma maior estabilidade das exportações, reduzindo os impactos de possíveis dificuldades econômicas em parceiros comerciais específicos", diz trecho de boletim sobre comércio exterior divulgado pelo Bradesco.
Entretanto, segundo José Augusto de Castro, da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), ainda é cedo para comemorar a consolidação da conquista de novos mercados. "Não posso dizer que é uma tendência. 2004 foi um ano atípico, com cotação de commodities muito elevada e com outros fatores que também favoreceram o Brasil", avaliou.
Entre os eventos que têm ajudado o comércio exterior brasileiro neste ano, Castro destacou a quebra de safra de soja nos EUA no final do ano passado e as gripes do frango na Ásia. "Tudo isso ajudou o Brasil a entrar em mais mercados. Acho que mais um fato conjuntural do que estrutural."
O economista Primo Roberto Segatto, presidente da Abracex (Associação Brasileira de Comércio Exterior), também argumenta que a sustentabilidade da entrada ou mesmo da ampliação das exportações brasileiras em novos países é frágil.
"Não dá para dizer que vamos conseguir manter esses mercados. Com o aquecimento do consumo dentro do país, acredito que algumas empresas vão acabar priorizando as vendas internas", afirmou Segatto.
De acordo com a AEB, no segmento de manufaturados, a principal alavanca das vendas externas foi a debilidade do mercado interno brasileiro, especialmente no começo deste ano. Para o Bradesco, de janeiro a agosto, 50,7% do aumento do saldo comercial foi explicado pela expansão das vendas de manufaturados.
A atuação pendular dos exportadores brasileiros -exportam quando o mercado doméstico vai mal e viram as costas aos novos clientes quando vendem dentro do país- preocupa analistas de comércio internacional. "Isso prejudica muito a imagem do comércio brasileiro no exterior", disse o presidente da Abracex.

Problemas internos
Uma eventual diminuição da conquista de novos mercados por causa do aquecimento no mercado doméstico não é o único obstáculo das exportações brasileiras.
Entre os principais problemas está o desequilíbrio entre o que é exportado e o que é importado pelo Brasil. "Infelizmente navios ainda têm que vir vazios para daqui serem carregados com produtos de exportação brasileiros. Isso aumenta bastante o custo de frete", disse Castro, da AEB.
Problemas de infra-estrutura, como calados (profundidade mínima de água necessária para a embarcação flutuar) rasos em alguns importantes portos brasileiros também podem ameaçar a pulverização das vendas externas brasileiras. "A infra-estrutura do porto de Santos está saturada. Já sentimos a redução do interesse de alguns clientes do Brasil", argumenta Segatto.

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