São Paulo, domingo, 12 de setembro de 2004

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Prefeito em GO demite 2.000 trabalhadores

DA AGÊNCIA FOLHA, EM ACREÚNA (GO)

O maior produtor individual de algodão do país, o prefeito de Acreúna (GO), Wander Carlos de Souza (PMDB), demitiu 2.000 empregados de suas fazendas em maio. Os trabalhadores foram dispensados depois de o proprietário ter adquirido 18 colheitadeiras em uma feira agropecuária de Ribeirão Preto (SP). O preço de mercado estimado para as máquinas é de R$ 7,2 milhões.
Os trabalhadores, que preparavam a terra, plantavam o algodão e faziam a colheita da safra, se juntaram para formar um acampamento de sem-terra, que logo se tornou o maior do Estado. Hoje, depois de desmembrado, eles estão em vários acampamentos espalhados por uma extensão de 30 km nas margens das rodovias vicinais que ligam as fazendas em que trabalhavam à BR-080.
Esses acampamentos pertencem ao MST e a outros movimentos que reivindicam a reforma agrária no Estado.
Marcelina Miguel Carneiro, líder de um acampamento de desempregados da lavoura de algodão organizado pela Fetaeg (Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Goiás), conta que, na colheita deste ano, quando praticamente todos os grandes produtores da região utilizaram colheitadeiras, os sem-terra aproveitaram para recolher o que eles chamam de "restolho".
Depois que a colheitadeira passa, um resto de algodão fica no chão. Organizados em uma fila, os desempregados são autorizados pelo proprietário da terra a juntar do chão esse "restolho" para depois tentar vender por cerca de R$ 4 cada saco de 15 quilos.

"Processo normal"
"Não existe trabalho para os braçais como nós. Somos na maioria analfabetos. Só o "restolho" sobrou para nós", disse Carneiro, cercada por três crianças com menos de 3 anos cada uma, que vivem no acampamento. As demais 22 crianças, entre 4 e 14 anos, do acampamento de Carneiro vão diariamente para a cidade estudar na escola municipal.
O prefeito e fazendeiro Wander Carlos de Souza afirmou que esse é um processo normal da evolução do campo. "Não podemos ficar parados no tempo. A indústria da agricultura e da pecuária exige que seja promovida uma mecanização na produção. É um processo que não pode ser interrompido", disse.
A produção de Souza é estimada em 4% da produção nacional, que é de 2,2 milhões de toneladas. Quase toda a produção é destinada para a Coteminas, empresa têxtil da família do vice-presidente José Alencar (PL). (TO)

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