São Paulo, sábado, 12 de setembro de 2009

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Indústria queima estoques e ajuda a puxar alta do PIB

Após duas quedas seguidas, setor cresce 2,1% no segundo trimestre em relação ao primeiro e supera alta nos serviços

Para especialista, retomada industrial foi acelerada por desoneração fiscal que beneficiou eletrodomésticos, montadoras e construção


DA SUCURSAL DO RIO
DO ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Depois de um período de ajuste, em que a produção foi reduzida para a venda dos estoques acumulados, a indústria voltou a crescer e teve papel decisivo para a recuperação do PIB no segundo trimestre. A alta do setor no período, de 2,1% sobre o trimestre anterior, foi superior até mesmo à verificada nos serviços, que vinham funcionando como uma espécie de escudo em meio à crise.
O economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, avalia que a retomada foi acelerada pela política de desoneração fiscal do governo, que beneficiou a indústria de automóveis, de eletrodomésticos da linha branca e da construção civil. Sem os incentivos, avalia, os estoques formados ao longo do ano passado ainda estariam elevados, o que postergaria a retomada do setor.
"Em 2008, como a economia vinha bastante aquecida, a indústria vinha formando estoques elevados para o fim do ano com a expectativa de um Natal muito forte. Com a quebra do Lehman Brothers, o pânico se espalhou, e o consumidor, ressabiado, deixou de consumir. Os estoques, que eram adequados, viraram excessivos."
O chefe do Centro de Crescimento Econômico do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Fundação Getulio Vargas), Samuel de Abreu Pessoa, diz que, entre outubro de 2008 e março deste ano, a indústria consumiu estoques da ordem de R$ 43 bilhões. De abril a junho, o caminho foi inverso: houve formação de estoques da ordem de R$ 3 bilhões.
Segundo Borges, da LCA, o setor automobilístico foi o primeiro a realizar o ajuste, seguido pelos demais produtores de bens de consumo duráveis. Em outros segmentos, como por exemplo o de metalurgia, o processo só foi concluído ao fim do segundo trimestre, o que deve ter impacto positivo sobre o PIB do próximo trimestre.
Na comparação com o segundo trimestre do ano passado, porém, a crise não deixa dúvidas sobre seus efeitos: o recuo da indústria foi de 7,9%, o terceiro consecutivo (nos trimestres anteriores houve quedas de 2,1% e 9,3%, respectivamente). A indústria de transformação e a construção civil foram as maiores prejudicadas.
Já o setor de serviços, que responde por cerca de 60% do PIB do país, voltou a apresentar melhora, depois de ter sido o único a escapar dos dois trimestres consecutivos de queda que caracterizam recessão técnica. Em relação ao primeiro trimestre do ano, subiu 1,2%.
Pelo lado do consumo, as famílias brasileiras tiveram novamente destaque -pela 23ª vez consecutiva, seu consumo cresceu em relação ao mesmo trimestre do ano anterior.
"A relativa preservação do emprego nos setores não industriais e a evolução positiva do rendimento médio das pessoas ocupadas ajudaram para essa recuperação do consumo, mas foi o retorno do crédito às famílias a mais relevante causa da mudança", avaliou o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) em boletim divulgado ontem.


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