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Indústria queima estoques e ajuda a puxar alta do PIB
Após duas quedas seguidas, setor cresce 2,1% no segundo trimestre em relação ao primeiro e supera alta nos serviços
Para especialista, retomada industrial foi acelerada por desoneração fiscal que beneficiou eletrodomésticos, montadoras e construção
DA SUCURSAL DO RIO
DO ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Depois de um período de
ajuste, em que a produção foi
reduzida para a venda dos estoques acumulados, a indústria
voltou a crescer e teve papel decisivo para a recuperação do
PIB no segundo trimestre. A alta do setor no período, de 2,1%
sobre o trimestre anterior, foi
superior até mesmo à verificada nos serviços, que vinham
funcionando como uma espécie de escudo em meio à crise.
O economista-chefe da LCA
Consultores, Bráulio Borges,
avalia que a retomada foi acelerada pela política de desoneração fiscal do governo, que beneficiou a indústria de automóveis, de eletrodomésticos da linha branca e da construção civil. Sem os incentivos, avalia, os
estoques formados ao longo do
ano passado ainda estariam
elevados, o que postergaria a
retomada do setor.
"Em 2008, como a economia
vinha bastante aquecida, a indústria vinha formando estoques elevados para o fim do ano
com a expectativa de um Natal
muito forte. Com a quebra do
Lehman Brothers, o pânico se
espalhou, e o consumidor, ressabiado, deixou de consumir.
Os estoques, que eram adequados, viraram excessivos."
O chefe do Centro de Crescimento Econômico do Instituto
Brasileiro de Economia da FGV
(Fundação Getulio Vargas), Samuel de Abreu Pessoa, diz que,
entre outubro de 2008 e março
deste ano, a indústria consumiu estoques da ordem de R$
43 bilhões. De abril a junho, o
caminho foi inverso: houve formação de estoques da ordem de
R$ 3 bilhões.
Segundo Borges, da LCA, o
setor automobilístico foi o primeiro a realizar o ajuste, seguido pelos demais produtores de
bens de consumo duráveis. Em
outros segmentos, como por
exemplo o de metalurgia, o processo só foi concluído ao fim do
segundo trimestre, o que deve
ter impacto positivo sobre o
PIB do próximo trimestre.
Na comparação com o segundo trimestre do ano passado,
porém, a crise não deixa dúvidas sobre seus efeitos: o recuo
da indústria foi de 7,9%, o terceiro consecutivo (nos trimestres anteriores houve quedas
de 2,1% e 9,3%, respectivamente). A indústria de transformação e a construção civil foram
as maiores prejudicadas.
Já o setor de serviços, que
responde por cerca de 60% do
PIB do país, voltou a apresentar
melhora, depois de ter sido o
único a escapar dos dois trimestres consecutivos de queda
que caracterizam recessão técnica. Em relação ao primeiro
trimestre do ano, subiu 1,2%.
Pelo lado do consumo, as famílias brasileiras tiveram novamente destaque -pela 23ª
vez consecutiva, seu consumo
cresceu em relação ao mesmo
trimestre do ano anterior.
"A relativa preservação do
emprego nos setores não industriais e a evolução positiva
do rendimento médio das pessoas ocupadas ajudaram para
essa recuperação do consumo,
mas foi o retorno do crédito às
famílias a mais relevante causa
da mudança", avaliou o Iedi
(Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial)
em boletim divulgado ontem.
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