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ANÁLISE
Já não é difícil um 2009 sem uma queda do PIB
FERNANDO SAMPAIO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A economia ter voltado a
crescer no segundo trimestre
(sobre o primeiro) não foi uma
surpresa.
Ainda assim, o resultado foi
um pouco melhor do que antecipava a maioria dos analistas
-e reforçou a perspectiva de
que o PIB feche o ano com pequena expansão.
A evolução das vendas do varejo entre abril e junho já sugeria uma alta do PIB.
Apontava na mesma direção
a progressiva reativação da
produção industrial, motivada,
em parte, pela expansão das
vendas de bens de consumo,
pela interrupção da queda do
investimento (evidenciada
agora nos números do PIB) e
pela retomada das exportações
(que também tinham caído verticalmente na virada de 2008
para 2009).
O outro vetor de retomada da
produção era o encerramento,
em muitos segmentos da indústria, do forte movimento de
"queima" de estoques, e de contenção da produção, iniciado
em outubro (quando a oferta de
crédito "travou").
O que surpreendeu os analistas foi a força do crescimento
do consumo.
A sua alta, de 2,1% ante o primeiro trimestre, foi a maior
desde o quarto trimestre de
2007. As reduções de impostos
sobre vários bens duráveis certamente contribuíram para essa alta, mas outros elementos
também foram importantes.
Talvez o principal tenha sido
o fato de que o desemprego, que
aumentara subitamente no fim
de 2008, se estabilizou num nível ainda baixo (para os padrões, deteriorados, da economia brasileira).
Isso foi decisivo para a recuperação da confiança tanto dos
consumidores como dos bancos (que temiam que o desemprego em alta redundasse numa escalada da inadimplência
no crédito ao consumidor).
Mais confiança
De novo confiantes e com
acesso a crediário em prazo novamente estendido, os consumidores se dispuseram a aproveitar as reduções de preços induzidas pela política econômica.
Tudo isso diz respeito, claro,
ao passado. Faltando apenas
três semanas para o fim do terceiro trimestre, é natural que o
leitor se pergunte o que está
ocorrendo com o PIB e o que se
espera mais à frente.
Os sinais são positivos. Os indicadores de confiança (de consumidores e empresários), de
consumo de energia elétrica, de
vendas de carros, entre outros,
sugerem que o PIB está mantendo, no terceiro trimestre,
ritmo de alta no mínimo similar ao do segundo.
No quarto trimestre é provável que o embalo do consumo
diminua. As reduções de IPI sobre a linha branca têm seu encerramento previsto para o final de outubro, e as alíquotas
sobre carros aumentarão a partir do fim deste mês (voltando
ao seu nível "normal" em janeiro de 2010).
Além disso, muito das compras dos últimos meses representou uma antecipação, que
naturalmente tenderá a ser
compensada a seguir.
Mas o investimento, estimulado pela redução da incerteza
e da ociosidade na indústria,
provavelmente voltou a crescer
já neste terceiro trimestre, e as
exportações estão sendo estimuladas pela retomada (ainda
tímida) da demanda mundial.
Para fechar 2009 com variação zero sobre 2008 o PIB terá
de crescer em média 1,4% nos
trimestres finais do ano.
Não parece tão difícil. A LCA
projeta crescimento próximo
de 0,5%.
FERNANDO SAMPAIO, economista,
é sócio-diretor da LCA Consultores.
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