São Paulo, sábado, 12 de setembro de 2009

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ANÁLISE

Já não é difícil um 2009 sem uma queda do PIB

FERNANDO SAMPAIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A economia ter voltado a crescer no segundo trimestre (sobre o primeiro) não foi uma surpresa.
Ainda assim, o resultado foi um pouco melhor do que antecipava a maioria dos analistas -e reforçou a perspectiva de que o PIB feche o ano com pequena expansão. A evolução das vendas do varejo entre abril e junho já sugeria uma alta do PIB. Apontava na mesma direção a progressiva reativação da produção industrial, motivada, em parte, pela expansão das vendas de bens de consumo, pela interrupção da queda do investimento (evidenciada agora nos números do PIB) e pela retomada das exportações (que também tinham caído verticalmente na virada de 2008 para 2009).
O outro vetor de retomada da produção era o encerramento, em muitos segmentos da indústria, do forte movimento de "queima" de estoques, e de contenção da produção, iniciado em outubro (quando a oferta de crédito "travou"). O que surpreendeu os analistas foi a força do crescimento do consumo.
A sua alta, de 2,1% ante o primeiro trimestre, foi a maior desde o quarto trimestre de 2007. As reduções de impostos sobre vários bens duráveis certamente contribuíram para essa alta, mas outros elementos também foram importantes. Talvez o principal tenha sido o fato de que o desemprego, que aumentara subitamente no fim de 2008, se estabilizou num nível ainda baixo (para os padrões, deteriorados, da economia brasileira). Isso foi decisivo para a recuperação da confiança tanto dos consumidores como dos bancos (que temiam que o desemprego em alta redundasse numa escalada da inadimplência no crédito ao consumidor).

Mais confiança
De novo confiantes e com acesso a crediário em prazo novamente estendido, os consumidores se dispuseram a aproveitar as reduções de preços induzidas pela política econômica. Tudo isso diz respeito, claro, ao passado. Faltando apenas três semanas para o fim do terceiro trimestre, é natural que o leitor se pergunte o que está ocorrendo com o PIB e o que se espera mais à frente.
Os sinais são positivos. Os indicadores de confiança (de consumidores e empresários), de consumo de energia elétrica, de vendas de carros, entre outros, sugerem que o PIB está mantendo, no terceiro trimestre, ritmo de alta no mínimo similar ao do segundo. No quarto trimestre é provável que o embalo do consumo diminua. As reduções de IPI sobre a linha branca têm seu encerramento previsto para o final de outubro, e as alíquotas sobre carros aumentarão a partir do fim deste mês (voltando ao seu nível "normal" em janeiro de 2010). Além disso, muito das compras dos últimos meses representou uma antecipação, que naturalmente tenderá a ser compensada a seguir.
Mas o investimento, estimulado pela redução da incerteza e da ociosidade na indústria, provavelmente voltou a crescer já neste terceiro trimestre, e as exportações estão sendo estimuladas pela retomada (ainda tímida) da demanda mundial. Para fechar 2009 com variação zero sobre 2008 o PIB terá de crescer em média 1,4% nos trimestres finais do ano. Não parece tão difícil. A LCA projeta crescimento próximo de 0,5%.

FERNANDO SAMPAIO, economista, é sócio-diretor da LCA Consultores.



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