São Paulo, sábado, 12 de setembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Recuperação da economia é firme, dizem analistas

No longo prazo, avanço depende de investimentos

DENYSE GODOY
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Embora sempre façam a ressalva cautelosa de que é prematuro decretar o final da crise, os economistas afirmam que os números sobre o PIB (Produto Interno Bruto) divulgados ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) não deixam dúvidas a respeito da consistência da recuperação exibida pelo país.
"Temos confiança de que estamos em plena retomada. Não se trata de um voo de galinha", frisa Rogério Oliveira, economista-chefe para os mercados emergentes do banco de investimentos Barclays Capital.
João Sicsú, diretor de estudos macroeconômicos do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), fundação vinculada ao governo federal, é enfático. "Não há mais riscos. A economia está em rota de recuperação. Os empregos formais crescem, a taxa de desemprego cai, as vendas do comércio varejista estão muito bem, o emprego no setor de serviços cresce a taxas muito boas e a indústria já está em rota de recuperação, lenta, mas é recuperação."
Para ele, a tendência é de queda da taxa básica de juros, apesar de na sua última reunião o comitê de política monetária do Banco Central ter optado por manter a Selic inalterada após algumas reduções feitas no calor da crise. "Os juros de curto prazo voltarão a cair; afinal, a inflação está muitíssimo bem comportada", afirma.
Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Santander e ex-diretor do BC, ressalva, porém, que o nível de investimentos segue estagnado no país, o que limita o crescimento do PIB. Ele diz acreditar em uma recuperação efetiva apenas a partir do terceiro trimestre. "A capacidade ociosa da indústria ficou muito elevada. Isso acabou reduzindo o investimento. Muito do investimento também estava associado a commodities, cujos preços se recuperaram um pouco, mas ainda estão de 20% a 25% abaixo do pico do ano passado."
Segundo Schwartsman, dificilmente o PIB deverá fechar o ano com crescimento acima de zero. Nas contas do economista, para isso acontecer a economia brasileira teria que crescer próximo de 2,8% no terceiro e no quarto trimestre em relação aos períodos anteriores.
"Nos bons momentos, nos últimos anos, o país crescia em torno de 1,5% e 1,6%. Mesmo imaginando que o investimento se recupere, vai ser difícil registrar um crescimento na segunda metade do ano desse porte", diz.

Construir o futuro
É justamente na ampliação do investimento privado que os especialistas dizem estar a chave para que a economia brasileira tenha um avanço sustentável nos próximos anos. "É mais importante, para o país, cuidar de aumentar o seu potencial de crescimento do que administrar as flutuações de crise, que são fases normais do ciclo econômico. Desta vez a sacudida foi violenta, mas o bom desempenho do futuro está vinculado a quão amigável é o ambiente para se investir", explica Oliveira.
A estabilidade da economia, conquistada na última década, e o fato de o Brasil ser uma democracia mais estável do que as demais nações do grupo Bric (Rússia, China e Índia) são grandes vantagens competitivas, continua o economista do Barclays. "Mesmo assim, a China cresce a uma taxa que é o dobro da brasileira porque tem menos burocracia e impõe uma carga menor de impostos às empresas", diz. Melhorar a qualidade dos gastos públicos é outra reforma que precisa estar entre as prioritárias, na sua avaliação.


Texto Anterior: Análise: Já não é difícil um 2009 sem uma queda do PIB
Próximo Texto: Vaivém das commodities
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.