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Recuperação da economia é firme, dizem analistas
No longo prazo, avanço depende de investimentos
DENYSE GODOY
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Embora sempre façam a ressalva cautelosa de que é prematuro decretar o final da crise, os
economistas afirmam que os
números sobre o PIB (Produto
Interno Bruto) divulgados ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) não deixam dúvidas a respeito da consistência da recuperação exibida pelo país.
"Temos confiança de que estamos em plena retomada. Não
se trata de um voo de galinha",
frisa Rogério Oliveira, economista-chefe para os mercados
emergentes do banco de investimentos Barclays Capital.
João Sicsú, diretor de estudos macroeconômicos do Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), fundação vinculada ao governo federal, é enfático. "Não há mais riscos. A
economia está em rota de recuperação. Os empregos formais
crescem, a taxa de desemprego
cai, as vendas do comércio varejista estão muito bem, o emprego no setor de serviços cresce a taxas muito boas e a indústria já está em rota de recuperação, lenta, mas é recuperação."
Para ele, a tendência é de
queda da taxa básica de juros,
apesar de na sua última reunião
o comitê de política monetária
do Banco Central ter optado
por manter a Selic inalterada
após algumas reduções feitas
no calor da crise. "Os juros de
curto prazo voltarão a cair; afinal, a inflação está muitíssimo
bem comportada", afirma.
Alexandre Schwartsman,
economista-chefe do Santander e ex-diretor do BC, ressalva,
porém, que o nível de investimentos segue estagnado no
país, o que limita o crescimento
do PIB. Ele diz acreditar em
uma recuperação efetiva apenas a partir do terceiro trimestre. "A capacidade ociosa da indústria ficou muito elevada. Isso acabou reduzindo o investimento. Muito do investimento
também estava associado a
commodities, cujos preços se
recuperaram um pouco, mas
ainda estão de 20% a 25% abaixo do pico do ano passado."
Segundo Schwartsman, dificilmente o PIB deverá fechar o
ano com crescimento acima de
zero. Nas contas do economista, para isso acontecer a economia brasileira teria que crescer
próximo de 2,8% no terceiro e
no quarto trimestre em relação
aos períodos anteriores.
"Nos bons momentos, nos últimos anos, o país crescia em
torno de 1,5% e 1,6%. Mesmo
imaginando que o investimento se recupere, vai ser difícil registrar um crescimento na segunda metade do ano desse
porte", diz.
Construir o futuro
É justamente na ampliação
do investimento privado que os
especialistas dizem estar a chave para que a economia brasileira tenha um avanço sustentável nos próximos anos. "É
mais importante, para o país,
cuidar de aumentar o seu potencial de crescimento do que
administrar as flutuações de
crise, que são fases normais do
ciclo econômico. Desta vez a sacudida foi violenta, mas o bom
desempenho do futuro está
vinculado a quão amigável é o
ambiente para se investir", explica Oliveira.
A estabilidade da economia,
conquistada na última década,
e o fato de o Brasil ser uma democracia mais estável do que as
demais nações do grupo Bric
(Rússia, China e Índia) são
grandes vantagens competitivas, continua o economista do
Barclays. "Mesmo assim, a China cresce a uma taxa que é o dobro da brasileira porque tem
menos burocracia e impõe uma
carga menor de impostos às
empresas", diz. Melhorar a
qualidade dos gastos públicos é
outra reforma que precisa estar
entre as prioritárias, na sua
avaliação.
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