São Paulo, sábado, 12 de outubro de 2002

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ÚLTIMOS CARTUCHOS

Instituição aumenta alíquota de depósitos compulsórios

BC retira R$ 14,2 bilhões do mercado para conter dólar

LEONARDO SOUZA
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central anunciou ontem novo pacote de medidas para tentar conter a disparada do dólar, que chegou a alcançar R$ 4 nesta semana. O BC reduziu ainda mais a capacidade das instituições para operar (especular) com a moeda americana. Com as novas regras, o BC estima que sejam retirados R$ 14,2 bilhões de circulação do mercado e que os bancos sejam obrigados a se desfazer de parte de suas aplicações em dólar.
As medidas foram anunciadas dois dias depois de o presidente do BC, Armínio Fraga, dizer em entrevista que havia "limites" para a atuação da instituição e do governo na tentativa de conter a alta do dólar. Na entrevista, Fraga também disse que o Brasil passa por uma crise de confiança.
As declarações do presidente do BC foram mal recebidas pelo mercado, o qual reagiu no dia seguinte com forte alta da moeda americana, que fechou em R$ 3,99 na quinta-feira. Ontem houve recuo e o dólar fechou em R$ 3,82.
O PT de Luiz Inácio Lula da Silva, que disputa o segundo turno com o tucano José Serra, também não gostou da entrevista de Armínio e reagiu dizendo que o governo estaria tentando criar um clima de terrorismo econômico durante o período eleitoral.
Ontem de manhã, o BC distribuiu uma nota de Fraga que esclarecia suas declarações. No meio da tarde, o diretor de Política Monetária do BC, Luiz Fernando Figueiredo, anunciou as medidas por telefone aos jornalistas.
"Vale a pena enfatizar que o BC continua comprometido com sua missão no seu campo de atribuições. Quanto mais se acalmarem as expectativas, menor será o custo para a nossa sociedade de inverter essa crise", comentou.
Com o pacote, o BC elevou as alíquotas dos depósitos compulsórios -recursos que os bancos são obrigados a manter na instituição. Os novos percentuais valem a partir do próximo dia 21.
Nos depósitos à vista (depositados em conta corrente), o percentual subiu de 48% para 53%. Isso significa que, a cada R$ 1.000 depositados pelos clientes em sua conta, R$ 530 são recolhidos ao BC pelos bancos. A medida retira do mercado R$ 2,3 bilhões.
O recolhimento obrigatório sobre os depósitos a prazo -como aplicações em CDBs (Certificados de Depósito Bancário)- subiu de 18% para 23%. Com isso, a expectativa é que sejam retirados R$ 6,4 bilhões do mercado.
Nas aplicações em poupança, a alíquota do compulsório foi elevada de 25% para 30%. O BC espera com isso enxugar o mercado em mais R$ 5,5 bilhões.
Em agosto, o BC já havia elevado a alíquota dos depósitos compulsórios para tentar frear os saques dos fundos de investimento. O aumento retirou do mercado R$ 10,8 bilhões. Esse dinheiro foi utilizado na recompra de títulos públicos em circulação.
Com o novo aumento do compulsório, o BC quer retirar do mercado dinheiro que poderia ser usado em operações com a moeda americana. Isso deve reduzir a pressão sobre o câmbio.

Risco cambial
Quatro dias depois de anunciar medida para diminuir a exposição dos bancos a risco cambial, o BC voltou a atuar nesse sentido. Os bancos precisam ter uma quantidade mínima de capital para garantir as operações que fazem no mercado.
A exigência leva em conta as transações dos bancos com crédito, juros, "swap" (realizadas no mercado futuro) e câmbio. A fórmula de cálculo do capital necessário é ponderada por esses quatro fatores. O que o BC fez foi alterar apenas o peso para as operações com dólar.
Na segunda-feira, a autoridade monetária elevou de 50% para 75% a exigência de capital próprio para cobrir o risco de operações com dólar.
Na prática, isso quer dizer que, a cada R$ 100 que os bancos aplicam na moeda americana, passariam a ser obrigados a ter R$ 75 em capital próprio para garantir o risco. Ontem, no entanto, o BC alterou novamente essa regra.
A partir do dia 16, a exigência será de 100%. Ou seja, cada real investido em dólar deverá ser coberto com capital equivalente da instituição financeira.
A nova regra forçará os bancos que vinham atuando no limite anterior a se desfazer de suas posições e vender dólares. Isso porque o aumento de capital próprio para garantir as operações em dólar -que seria a outra alternativa- é considerado um procedimento mais complexo.
Além disso, o BC reduziu de 60% para 30% o limite que os bancos podem comprometer de seu capital em aplicações em dólar. Ou seja, além do capital próprio para garantir as operações com câmbio, os bancos não podem ultrapassar esse limite.
A medida reduz a margem para os bancos operarem com a moeda estrangeira, obrigando-os a vender dólar. O novo teto também entra em vigor na quarta-feira.
O diretor de Normas do BC, Sérgio Darcy, informou na segunda-feira que os bancos estão mais "comprados" do que "vendidos" em dólar. Ou seja, a maior parte das instituições financeiras opera (ou especula) no mercado de câmbio com a expectativa de que a moeda americana se valorize ainda mais em relação ao real.


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