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ÚLTIMOS CARTUCHOS
Instituição aumenta alíquota de depósitos compulsórios
BC retira R$ 14,2 bilhões do mercado para conter dólar
LEONARDO SOUZA
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central anunciou ontem novo pacote de medidas para
tentar conter a disparada do dólar, que chegou a alcançar R$ 4
nesta semana. O BC reduziu ainda
mais a capacidade das instituições
para operar (especular) com a
moeda americana. Com as novas
regras, o BC estima que sejam retirados R$ 14,2 bilhões de circulação do mercado e que os bancos
sejam obrigados a se desfazer de
parte de suas aplicações em dólar.
As medidas foram anunciadas
dois dias depois de o presidente
do BC, Armínio Fraga, dizer em
entrevista que havia "limites" para a atuação da instituição e do
governo na tentativa de conter a
alta do dólar. Na entrevista, Fraga
também disse que o Brasil passa
por uma crise de confiança.
As declarações do presidente do
BC foram mal recebidas pelo
mercado, o qual reagiu no dia seguinte com forte alta da moeda
americana, que fechou em R$ 3,99
na quinta-feira. Ontem houve recuo e o dólar fechou em R$ 3,82.
O PT de Luiz Inácio Lula da Silva, que disputa o segundo turno
com o tucano José Serra, também
não gostou da entrevista de Armínio e reagiu dizendo que o governo estaria tentando criar um clima de terrorismo econômico durante o período eleitoral.
Ontem de manhã, o BC distribuiu uma nota de Fraga que esclarecia suas declarações. No meio da tarde, o
diretor de Política Monetária do
BC, Luiz Fernando Figueiredo,
anunciou as medidas por telefone
aos jornalistas.
"Vale a pena enfatizar que o BC
continua comprometido com sua
missão no seu campo de atribuições. Quanto mais se acalmarem
as expectativas, menor será o custo para a nossa sociedade de inverter essa crise", comentou.
Com o pacote, o BC elevou as
alíquotas dos depósitos compulsórios -recursos que os bancos
são obrigados a manter na instituição. Os novos percentuais valem a partir do próximo dia 21.
Nos depósitos à vista (depositados em conta corrente), o percentual subiu de 48% para 53%. Isso
significa que, a cada R$ 1.000 depositados pelos clientes em sua
conta, R$ 530 são recolhidos ao
BC pelos bancos. A medida retira
do mercado R$ 2,3 bilhões.
O recolhimento obrigatório sobre os depósitos a prazo -como
aplicações em CDBs (Certificados
de Depósito Bancário)- subiu de
18% para 23%. Com isso, a expectativa é que sejam retirados R$ 6,4
bilhões do mercado.
Nas aplicações em poupança, a
alíquota do compulsório foi elevada de 25% para 30%. O BC espera com isso enxugar o mercado
em mais R$ 5,5 bilhões.
Em agosto, o BC já havia elevado a alíquota dos depósitos compulsórios para tentar frear os saques dos fundos de investimento.
O aumento retirou do mercado
R$ 10,8 bilhões. Esse dinheiro foi
utilizado na recompra de títulos
públicos em circulação.
Com o novo aumento do compulsório, o BC quer retirar do
mercado dinheiro que poderia ser
usado em operações com a moeda americana. Isso deve reduzir a
pressão sobre o câmbio.
Risco cambial
Quatro dias depois de anunciar
medida para diminuir a exposição dos bancos a risco cambial, o
BC voltou a atuar nesse sentido.
Os bancos precisam ter uma
quantidade mínima de capital para garantir as operações que fazem no mercado.
A exigência leva em conta as
transações dos bancos com crédito, juros, "swap" (realizadas no
mercado futuro) e câmbio. A fórmula de cálculo do capital necessário é ponderada por esses quatro fatores. O que o BC fez foi alterar apenas o peso para as operações com dólar.
Na segunda-feira, a autoridade
monetária elevou de 50% para
75% a exigência de capital próprio para cobrir o risco de operações com dólar.
Na prática, isso quer dizer que, a
cada R$ 100 que os bancos aplicam na moeda americana, passariam a ser obrigados a ter R$ 75
em capital próprio para garantir o
risco. Ontem, no entanto, o BC alterou novamente essa regra.
A partir do dia 16, a exigência
será de 100%. Ou seja, cada real
investido em dólar deverá ser coberto com capital equivalente da
instituição financeira.
A nova regra forçará os bancos
que vinham atuando no limite anterior a se desfazer de suas posições e vender dólares. Isso porque
o aumento de capital próprio para
garantir as operações em dólar
-que seria a outra alternativa-
é considerado um procedimento
mais complexo.
Além disso, o BC reduziu de
60% para 30% o limite que os
bancos podem comprometer de
seu capital em aplicações em dólar. Ou seja, além do capital próprio para garantir as operações
com câmbio, os bancos não podem ultrapassar esse limite.
A medida reduz a margem para
os bancos operarem com a moeda
estrangeira, obrigando-os a vender dólar. O novo teto também
entra em vigor na quarta-feira.
O diretor de Normas do BC,
Sérgio Darcy, informou na segunda-feira que os bancos estão mais
"comprados" do que "vendidos"
em dólar. Ou seja, a maior parte
das instituições financeiras opera
(ou especula) no mercado de
câmbio com a expectativa de que
a moeda americana se valorize
ainda mais em relação ao real.
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