São Paulo, sábado, 12 de outubro de 2002

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NY teme inflação, e não moratória

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

A volta da inflação em 2003, e não uma moratória da dívida, é o que mais assusta Wall Street atualmente em relação à economia brasileira. A afirmação foi feita ontem por Paulo Vieira da Cunha, vice-presidente sênior e economista para a América Latina do banco de investimentos Lehman Brothers, e confirmada à Folha por outros analistas.
"O medo do mercado agora é da inflação, não da moratória", disse o brasileiro, que fazia palestra em encontro organizado pelo Comitê de Bancos e Mercado de Capital da Câmara de Comércio Brasil-EUA, ontem à tarde, na sede do Citibank, em Nova York.
Não é por outro motivo, segundo ele, que há entre os investidores uma procura maior por títulos públicos atrelados ao IGP-M. "Por outro lado, há uma queda na demanda por títulos com correção cambial, pois, apesar de indexados ao dólar, na realidade, são liquidados em reais", disse.
"Nenhum dos bancos com os quais eu falo espera moratória ou falência generalizada no Brasil", disse Vieira da Cunha. "A dívida brasileira é gerenciável e em sua maior parte não é dolarizada."
Para o economista, antes que se veja um colapso ou uma moratória, "veremos mais mudanças no sistema de controle do câmbio". Ele elogiou as medidas tomadas ontem pelo Banco Central como maneira de conter a alta do dólar. "O controle do câmbio, apesar de doloroso, é muito menos doloroso que a moratória."
Para ele, são equivocadas as declarações recentes do megainvestidor George Soros, segundo o qual o Brasil caminha inexoravelmente para o calote caso não aconteça uma mudança grande de rumo. "Ele está se valendo muito do exemplo da Argentina, que tinha uma situação totalmente diferente da que o Brasil tem", retrucou Vieira da Cunha.
Com ele concorda Ricardo Amorim, responsável pelos estudos latino-americanos do instituto Idea Global. "O Brasil tem três saídas: aumentar o superávit primário em 2003, reestruturar a dívida ou emitir mais moeda para pagar a dívida interna."
Seguindo seu raciocínio, a primeira medida é muito impopular para ser adotada no primeiro ano de governo e a segunda tem consequências internacionais muito negativas. "Sobra a terceira, que traz consigo a volta da inflação." Nem ele nem outros economistas presentes arriscaram um número de índice inflacionário para o ano que vem, no entanto.

Novo acordo com FMI
Paulo Vieira da Cunha acredita ainda que o acordo feito entre o FMI e o Brasil em agosto último, que valeu um pacote de US$ 30 bilhões de socorro ao Brasil, terá necessariamente de ser refeito, seja quem for o vencedor do segundo turno das eleições presidenciais.
"A realidade na qual o acordo foi feito já não existe mais", disse o economista. Para ele, o novo presidente vai ouvir do Fundo um pedido de superávit primário de 4% em 2003.


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