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NY teme inflação, e não moratória
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
A volta da inflação em 2003, e
não uma moratória da dívida, é o
que mais assusta Wall Street
atualmente em relação à economia brasileira. A afirmação foi feita ontem por Paulo Vieira da Cunha, vice-presidente sênior e economista para a América Latina do
banco de investimentos Lehman
Brothers, e confirmada à Folha
por outros analistas.
"O medo do mercado agora é da
inflação, não da moratória", disse
o brasileiro, que fazia palestra em
encontro organizado pelo Comitê
de Bancos e Mercado de Capital
da Câmara de Comércio Brasil-EUA, ontem à tarde, na sede do
Citibank, em Nova York.
Não é por outro motivo, segundo ele, que há entre os investidores uma procura maior por títulos
públicos atrelados ao IGP-M.
"Por outro lado, há uma queda na
demanda por títulos com correção cambial, pois, apesar de indexados ao dólar, na realidade, são
liquidados em reais", disse.
"Nenhum dos bancos com os
quais eu falo espera moratória ou
falência generalizada no Brasil",
disse Vieira da Cunha. "A dívida
brasileira é gerenciável e em sua
maior parte não é dolarizada."
Para o economista, antes que se
veja um colapso ou uma moratória, "veremos mais mudanças no
sistema de controle do câmbio".
Ele elogiou as medidas tomadas
ontem pelo Banco Central como
maneira de conter a alta do dólar.
"O controle do câmbio, apesar de
doloroso, é muito menos doloroso que a moratória."
Para ele, são equivocadas as declarações recentes do megainvestidor George Soros, segundo o
qual o Brasil caminha inexoravelmente para o calote caso não
aconteça uma mudança grande
de rumo. "Ele está se valendo
muito do exemplo da Argentina,
que tinha uma situação totalmente diferente da que o Brasil tem",
retrucou Vieira da Cunha.
Com ele concorda Ricardo
Amorim, responsável pelos estudos latino-americanos do instituto Idea Global. "O Brasil tem três
saídas: aumentar o superávit primário em 2003, reestruturar a dívida ou emitir mais moeda para
pagar a dívida interna."
Seguindo seu raciocínio, a primeira medida é muito impopular
para ser adotada no primeiro ano
de governo e a segunda tem consequências internacionais muito
negativas. "Sobra a terceira, que
traz consigo a volta da inflação."
Nem ele nem outros economistas
presentes arriscaram um número
de índice inflacionário para o ano
que vem, no entanto.
Novo acordo com FMI
Paulo Vieira da Cunha acredita
ainda que o acordo feito entre o
FMI e o Brasil em agosto último,
que valeu um pacote de US$ 30 bilhões de socorro ao Brasil, terá necessariamente de ser refeito, seja
quem for o vencedor do segundo
turno das eleições presidenciais.
"A realidade na qual o acordo
foi feito já não existe mais", disse
o economista. Para ele, o novo
presidente vai ouvir do Fundo um
pedido de superávit primário de
4% em 2003.
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