|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EMPREGO
Justiça do Trabalho autorizou o pagamento de R$ 3,28 bi de janeiro a julho; ao fim de 2003, cifra deve chegar a R$ 6 bi
Indenizações trabalhistas sobem 65% no ano
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Justiça do Trabalho determinou o pagamento de R$ 3,28 bilhões em indenizações aos trabalhadores de janeiro a julho deste
ano -um aumento de 65% sobre
o mesmo período do ano passado. A expectativa do TST (Tribunal Superior do Trabalho) é que
esse número atinja R$ 6 bilhões
-50% a mais do que em 2002-,
o maior valor nominal de indenizações pagas desde 1998.
A expansão no valor das indenizações é resultado, principalmente, da execução de sentenças judiciais que determinam o pagamento da correção da inflação sobre os salários decorrentes dos
planos Verão, em 1989, e Plano
Collor 1, em 1990. Muitos trabalhadores foram à Justiça naquela
época para repor perdas salariais.
Mas só agora essas ações estão
sendo executadas.
Além disso, quem está recorrendo à Justiça do Trabalho não é
mais o trabalhador que ganha um
ou dois salários mínimos, mas
aquele que recebe mais de R$ 500
por mês. Os empregados com salários mais baixos estão procurando as CCPs (Comissões de
Conciliação Prévia) para resolver
conflitos com os patrões.
"O "peão" não frequenta mais o
Judiciário. Quem recorre à Justiça
do Trabalho é quem ganha mais
de R$ 500 por mês. Por isso, subiu
o valor das indenizações", afirma
Nilton da Silva Correia, presidente da Abrat (Associação Brasileira
de Advogados Trabalhistas).
Um convênio entre o TST e o
Banco Central, firmado no final
de 2002, que autoriza os juízes a
pesquisar on-line a conta corrente
das empresas, também agilizou o
andamento dos processos trabalhistas. "Isso resultou no aumento
no valor das indenizações", diz
Ricardo Gebrim, advogado.
A crise no emprego, segundo o
TST, também explica o aumento
no valor das indenizações. Quanto maior o desemprego, maior o
número de reclamações. De janeiro a julho deste ano, informa o
TST, foram ajuizadas 995.687
ações na Justiça do Trabalho, 4%
mais do que em igual período de
2002. "O trabalhador reclama
mais na crise. E o desemprego bateu recorde neste ano", diz Francisco Fausto, presidente do TST.
Vale lembrar, porém, que: 1)
nos últimos cinco anos, o número
de ações ajuizadas vem diminuindo. Foram ajuizadas 1,95 milhão
de ações em 1998 e 1,61 milhão em
2002. A Justiça privada e as CCPs
(Comissões de Conciliação Prévia) passaram a ser opções para
solucionar conflitos trabalhistas.
2) Uma ação na Justiça do Trabalho pode levar entre cinco e sete
anos, em média, para ser resolvida. Ações ajuizadas neste ano,
portanto, não necessariamente
serão encerradas em 2003. A
maioria delas, porém, é concluída
na primeira audiência, marcada
após um a seis meses, em média.
As indenizações pagas aos trabalhadores representam, segundo a Folha apurou, entre 30% e
50%, em média, do que eles pedem à Justiça. É que, geralmente,
esse valor é inflado -muitas vezes por sugestão do próprio advogado que presta o serviço ao trabalhador- para que, na negociação com a empresa, o empregado
receba um valor mais próximo do
que lhe é devido -ou por direito
ou por expectativa.
Essa prática se tornou comum
especialmente nas regiões onde
há maior concentração de trabalhadores e menor concentração
de juízes, como São Paulo, Rio de
Janeiro, Belo Horizonte e Pernambuco. "Os juízes teriam de ter
mais tempo para se dedicar às
partes. Agora, quando um juiz
tem de realizar 60 audiências em
uma tarde, isso fica mais difícil.
Esse é um ponto que temos de resolver", afirma Correia.
Na média, informa o presidente
do TST, existe um juiz para cada
14 mil habitantes no Brasil. Nos
demais países, essa proporção é
de um para cada 5.000 habitantes.
A correria para cumprir o calendário de audiências leva trabalhadores e advogados, segundo a Folha apurou, a tentar tirar o máximo proveito da ação trabalhista.
"Muitas vezes, o próprio juiz
pressiona o trabalhador para que
ele feche acordo com a empresa.
Primeiro, porque ele diminui a pilha de processos para levar para
casa. Segundo, porque nova audiência só será marcada após um
ano", afirma Otávio Brito, vice-procurador geral do trabalho.
Texto Anterior: Painel S.A. Próximo Texto: Especialistas recomendam análise prévia de direitos Índice
|