São Paulo, sexta-feira, 12 de outubro de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

Renan na poeira da história


Jader, ACM, CPIs que FHC enterrou, mensalão, Severino e Renan: "crises" são rotina e sintoma de coisa ainda pior

FAZ APENAS seis anos, mas parece poeira do fundo da lata de lixo da história o grande bafafá que opôs Jader Barbalho a ACM, o duelo de titanics que na época levou os ansiosos e sempre autocentrados analistas brasilienses a falar em "crise institucional".
Tão longe e tão perto. Como agora, com esse Renan Calheiros, foram meses de "crise", de conivência de parlamentares com seus pares pilhados na bandalha, de conivência do governo com os coronéis do Congresso e seus capangas. Mas o que estava em crise? Qual transformação crítica estava em curso, qual mudança política, para nem falar em mudança social ou econômica?
Melhor dizer que essas pororocas são sintoma do desastre do sistema de Justiça, da ficção de atividade dos tribunais superiores no que diz respeito à bandalha da cúpula política, dessa democracia capenga na qual é possível tamanho divórcio entre a conduta de partidos, lideranças e Poderes e a vida real do resto do país.
A crise é crônica, mas não consiste de Renans, Severinos, Barbalhos e ACMs, essa grossa espuma política emanada de negócios e demandas particularizadas em torno do governo federal. O Congresso serve voluntariamente ao Executivo ou é atulhado de decretos presidenciais, MPs, que aceita negociar no varejão.
Uma minoria de parlamentares, três dúzias, se ocupa de leis e temas de substância, mas funcionam quase como um órgão de assessoramento, de intermediação entre particulares e o Executivo. Partidos informais, as "bancadas" disso ou daquilo, fazem o resto da política. Os partidos oficiais existem apenas nas decisões do Supremo -aliás, ressalte-se que o Congresso agora é atropelado também pelo Judiciário. Vai virando pó.
No que redundam as "crises"? Depois do ritual de Justiça carnavalizada, o sujeito acusado fica "ligado" e "envolvido" a isso ou aquilo, paga um período de ostracismo moral mais ou menos longo. De hábito, volta a "articular". Talvez vire ministro, aliado do governo seguinte ou chefe de bando parlamentar de aluguel, "business as usual". O governo se arranha mais ou menos, mas o rolo em si não é decisivo na eleição presidencial, a que importa.
Compare-se a "grande crise" de 2001 e a de agora. Barbalho, presidente do PMDB, fora eleito em janeiro presidente do Senado, com apoio de FHC. Derrotara o PFL e a campanha de ACM, que fritava o governo tucano e o PMDB. Os acusava de corrupção, brandia os rolos de Sudam e DNER (hoje Dnit) e lembrava as tantas CPIs da corrupção enterradas sob FHC. Deu em nada. ACM fazia então amigos no PT por defender "causas sociais" (e, claro, por detonar FHC). A refrega durou de março a outubro de 2001.
Acusado pelo Conselho de Ética de levar dinheiro do Banpará, Barbalho renunciou em outubro a fim de evitar a cassação e a perda dos direitos políticos. ACM renunciara em maio, também para evitar a cassação, pilhado que fora violando o segredo do voto dos senadores, assim como José Roberto Arruda (PSDB), co-autor da violação que mentira a respeito em discurso no plenário. Arruda, hoje DEM, governa o Distrito Federal. Barbalho "articula" para Lula. Depois de tanta "crise" ainda vieram mensaleiros, Severino e Renan. Isso é crise ou é rotina?

vinit@uol.com.br


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