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MERCADO ABERTO
GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br
Para ex-secretário, economia deu um "cavalo-de-pau"
A economia está toda travada
e o governo tem que tomar uma
atitude mais forte para reverter
esse quadro. A dificuldade de
obtenção de crédito é grande, e
os investimentos já estão sendo
paralisados.
A opinião é do economista
Júlio Sérgio Gomes de Almeida, ex-secretário de política
econômica da Fazenda e consultor do Iedi, com base em
conversas que ele teve com empresários nos últimos dias.
"A economia deu um cavalo-de-pau", diz o economista.
Para Gomes de Almeida, os
economistas em geral e o próprio governo estão subestimando o tranco que a economia sofreu nos últimos dias
com a paralisia do crédito. Esse
tranco, segundo o economista,
já está sendo sentido nas vendas a crédito. O setor de bens de
consumo duráveis é o primeiro
a sofrer reflexos da crise. As
vendas de automóveis, por
exemplo, já começaram a cair.
O economista diz, no entanto, que algumas áreas ainda não
foram atingidas. É o caso, por
exemplo, do consumo popular,
que depende basicamente da
renda e esta demora um tempo
para ser afetada.
Uma boa parte dos investimentos, aqueles que estão em
andamento, também não foram interrompidos até agora,
apenas os novos. O economista
acha, no entanto, que os investimentos sofrerão uma queda
brutal já no último trimestre
deste ano. O investimento estava crescendo a uma taxa de 16%
ao ano e deve cair pela metade.
Para Gomes de Almeida, o
Banco Central está cometendo
um erro, que é concentrar sua
atuação de combate à crise na
liquidez e não na reativação do
crédito. Ele sugere, por exemplo, que o BC tome duas medidas urgentes. A primeira, de
baixar os juros, que seria agora
o maior incentivo à volta do
crédito. A outra, de baixar o
compulsório, mas com a contrapartida de que os bancos
apenas usem esse recurso para
a concessão de empréstimos.
"O governo está olhando só
para a liquidez, quando a prioridade deveria ser o incentivo
ao crédito."
NA BAGAGEM
A Carlson Wagonlit Travel, empresa especializada em viagens corporativas, já perdeu demanda por conta da crise financeira global. "Com a disparada do dólar, as empresas
passam a viajar menos e fazer o que é possível por videoconferência", afirma Daisy de Marco, diretora de vendas e marketing da empresa no Brasil. "Nosso negócio é um termômetro da economia, se as viagens de negócios caem, é sinal de
que a economia anda mal", afirma André Carvalhal, presidente da CWT no Brasil. Para Carvalhal, entre seus clientes,
os que mais o preocupam são as empresas globais. No portfólio da CWT estão nomes como HP, Esso, Samsung, Red
Bull, Bayer, Gerdau, Itaú e Klabin, entre outros.
MERCADO CORROÍDO
Desde a sua criação, a
maior queda do índice
Ibovespa ocorreu em
1990, quando o índice
caiu 72,7%. Apenas neste
ano, até o dia 10, o Ibovespa encolheu 56,9% -já é a
terceira maior queda
anual da história do índice. Esses números foram
calculados pela Economática, tomando como base
a variação do índice em
dólar. Ao fazer esse levantamento em moeda externa, o objetivo, segundo Einar Rivero, economista da
Economática, foi o de
mostrar como o investidor estrangeiro enxerga a
Bolsa brasileira. O resultado não é nada animador: todas as ações tiveram desempenho negativo
em dólar até sexta-feira.
Entre os papéis que mais
se desvalorizaram neste
ano, estão os da Rossi
(-88,3%), Gol (-84,6%),
Cesp (-83%), Aracruz
(-81,5%) e BM&FBovespa
(-76,8%). Com os melhores desempenhos, mas
não com resultado positivo, ficaram Transmissão
Paulista (-14,1%), Natura
(-18,7%), Telesp (-20,4%),
Nossa Caixa (-24%) e Cemig (- 24,9%).
CASULO
Para Ricardo Tortorella (Sebrae-SP), as micro e
pequenas empresas serão as últimas a sentir o
aperto do crédito. "As MPEs sempre tiveram dificuldade para obter o crédito tradicional e isso agora
é uma defesa. Elas buscaram outras opções de crédito, como o microcrédito." Para ele, o microcrédito
está protegido da crise, pois conta com verbas orçamentárias e com retorno de operações contratadas.
"As micro e
pequenas empresas
sempre tiveram
dificuldade para obter o
crédito tradicional e isso
agora é uma defesa"
b>Ricardo Tortorella, diretor-superintendente do Sebrae-SP
COMPRA-SE
Juan Quirós, presidente
do grupo Advento, quer
aproveitar o mercado em
baixa para comprar uma
empresa de montagens industriais. De olho em contratos com a Petrobras e
com a Vale, ele já contratou
uma consultoria para identificar potenciais fornecedores das duas gigantes.
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