São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2008

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MERCADO ABERTO

GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br

Para ex-secretário, economia deu um "cavalo-de-pau"

A economia está toda travada e o governo tem que tomar uma atitude mais forte para reverter esse quadro. A dificuldade de obtenção de crédito é grande, e os investimentos já estão sendo paralisados.
A opinião é do economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, ex-secretário de política econômica da Fazenda e consultor do Iedi, com base em conversas que ele teve com empresários nos últimos dias.
"A economia deu um cavalo-de-pau", diz o economista.
Para Gomes de Almeida, os economistas em geral e o próprio governo estão subestimando o tranco que a economia sofreu nos últimos dias com a paralisia do crédito. Esse tranco, segundo o economista, já está sendo sentido nas vendas a crédito. O setor de bens de consumo duráveis é o primeiro a sofrer reflexos da crise. As vendas de automóveis, por exemplo, já começaram a cair.
O economista diz, no entanto, que algumas áreas ainda não foram atingidas. É o caso, por exemplo, do consumo popular, que depende basicamente da renda e esta demora um tempo para ser afetada.
Uma boa parte dos investimentos, aqueles que estão em andamento, também não foram interrompidos até agora, apenas os novos. O economista acha, no entanto, que os investimentos sofrerão uma queda brutal já no último trimestre deste ano. O investimento estava crescendo a uma taxa de 16% ao ano e deve cair pela metade.
Para Gomes de Almeida, o Banco Central está cometendo um erro, que é concentrar sua atuação de combate à crise na liquidez e não na reativação do crédito. Ele sugere, por exemplo, que o BC tome duas medidas urgentes. A primeira, de baixar os juros, que seria agora o maior incentivo à volta do crédito. A outra, de baixar o compulsório, mas com a contrapartida de que os bancos apenas usem esse recurso para a concessão de empréstimos.
"O governo está olhando só para a liquidez, quando a prioridade deveria ser o incentivo ao crédito."

NA BAGAGEM
A Carlson Wagonlit Travel, empresa especializada em viagens corporativas, já perdeu demanda por conta da crise financeira global. "Com a disparada do dólar, as empresas passam a viajar menos e fazer o que é possível por videoconferência", afirma Daisy de Marco, diretora de vendas e marketing da empresa no Brasil. "Nosso negócio é um termômetro da economia, se as viagens de negócios caem, é sinal de que a economia anda mal", afirma André Carvalhal, presidente da CWT no Brasil. Para Carvalhal, entre seus clientes, os que mais o preocupam são as empresas globais. No portfólio da CWT estão nomes como HP, Esso, Samsung, Red Bull, Bayer, Gerdau, Itaú e Klabin, entre outros.

MERCADO CORROÍDO
Desde a sua criação, a maior queda do índice Ibovespa ocorreu em 1990, quando o índice caiu 72,7%. Apenas neste ano, até o dia 10, o Ibovespa encolheu 56,9% -já é a terceira maior queda anual da história do índice. Esses números foram calculados pela Economática, tomando como base a variação do índice em dólar. Ao fazer esse levantamento em moeda externa, o objetivo, segundo Einar Rivero, economista da Economática, foi o de mostrar como o investidor estrangeiro enxerga a Bolsa brasileira. O resultado não é nada animador: todas as ações tiveram desempenho negativo em dólar até sexta-feira. Entre os papéis que mais se desvalorizaram neste ano, estão os da Rossi (-88,3%), Gol (-84,6%), Cesp (-83%), Aracruz (-81,5%) e BM&FBovespa (-76,8%). Com os melhores desempenhos, mas não com resultado positivo, ficaram Transmissão Paulista (-14,1%), Natura (-18,7%), Telesp (-20,4%), Nossa Caixa (-24%) e Cemig (- 24,9%).

CASULO
Para Ricardo Tortorella (Sebrae-SP), as micro e pequenas empresas serão as últimas a sentir o aperto do crédito. "As MPEs sempre tiveram dificuldade para obter o crédito tradicional e isso agora é uma defesa. Elas buscaram outras opções de crédito, como o microcrédito." Para ele, o microcrédito está protegido da crise, pois conta com verbas orçamentárias e com retorno de operações contratadas.

"As micro e pequenas empresas sempre tiveram dificuldade para obter o crédito tradicional e isso agora é uma defesa"
b>Ricardo Tortorella, diretor-superintendente do Sebrae-SP

COMPRA-SE
Juan Quirós, presidente do grupo Advento, quer aproveitar o mercado em baixa para comprar uma empresa de montagens industriais. De olho em contratos com a Petrobras e com a Vale, ele já contratou uma consultoria para identificar potenciais fornecedores das duas gigantes.



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