São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Proprietários perdem casas nos EUA e vivem drama com prejuízo

DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK

A desvalorização de imóveis nos EUA -que passa dos 30% em dois anos em algumas regiões- tornou comum o caso de pessoas que financiaram a casa própria e têm uma dívida superior ao valor do imóvel.
A fração de proprietários "submersos" -como são chamados no jargão mobiliário americano- já corresponde a 16% do total de clientes, ante 6% no ano passado. Se considerados os financiamentos feitos nos últimos cinco anos, são 29% na média do país -ou até mais de 50% em cidades como Detroit (Michigan) e San Diego (Califórnia), segundo levantamento da Economy.com, ligada à agência de risco Moody's.
A disparidade, um convite à inadimplência, frustra planos de refinanciamento e afeta mais os compradores "subprime" -que, por não terem como comprovar bom histórico de pagamento, têm contratos com juros mais altos que a média.
O mineiro Rafael Moreira, 26, que mora em Newark (Nova Jersey) desde os 14, decidiu nos últimos anos multiplicar o lucro da lanchonete que possui. "Queria lucrar US$ 100 mil por ano, mas essa crise me pegou."
Moreira aproveitou o crédito farto e comprou quatro casas. O valor do aluguel que receberia ajudaria a pagar as prestações.
O plano ia bem, até que os imóveis perderam valor, ficou mais difícil encontrar inquilinos, e ele se desfez de duas casas por preço inferior ao que foi pago. O dinheiro que já investiu, algumas dezenas de milhares de dólares, foi perdido, assim como o sonho de enriquecer com esse esquema.
O designer americano Eric Mackey, que adquiriu a casa por hipoteca (nos EUA, o termo é usado para financiamentos imobiliários comuns, em que o bem obtido é a própria garantia), é um cliente "classe A".
Com bom histórico de pagamento, conseguiu financiamento com juros fixos (6% ao ano) em Nova York. Ainda assim, o compromisso de honrar o pagamento em um país em crise o fez mudar hábitos.
"Não uso mais o cartão de crédito. Quitei o que devia e desisti de comprar uma TV de plasma. Vou esperar as coisas se acalmarem. O importante é pagar a hipoteca."

"Estou perdendo"
Mesmo não sendo uma cliente "subprime", a contadora Luciana Lentar, 33, também está "submersa" em dois imóveis que comprou em Miami há cerca de dois anos.
Ela viu o valor de cada um despencar de US$ 245 mil para US$ 200 mil e, com a abundância de apartamentos vagos no mercado, não consegue inquilinos. "Somando os condomínios, pago todos os meses US$ 1.300 em um e US$ 1.600 em outro. Se eu vender, perco mais dinheiro, então vou esperar mais um pouco, ver se a situação do país melhora."
A crise imobiliária americana pegou de surpresa até o analista de risco em hipotecas Robert D. De proprietário de três casas, que somavam mais de US$ 2 milhões, ele passou rapidamente a dono de nenhuma.
"Não queria especular. Apenas achei três bons negócios, mas que, com a crise, acabaram não sendo tão bons assim", diz ele. "Eu comprei os imóveis sem entrada, porque preferi investir na reforma das casas. Perdi mais de US$ 200 mil em pouco tempo. Não esperava que a crise fosse forte."
Robert diz ter vontade de comprar outra casa nos próximos anos. Contudo, após passar por uma execução da hipoteca, está com o crédito sujo, e portanto teria dificuldade em conseguir o empréstimo. "Preciso que alguém faça a compra por mim. Talvez minha próxima esposa."


Texto Anterior: Abalo atinge economias ao redor do mundo
Próximo Texto: China caminha para o menor crescimento em dez anos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.