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Proprietários perdem casas nos EUA e vivem drama com prejuízo
DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK
A desvalorização de imóveis
nos EUA -que passa dos 30%
em dois anos em algumas regiões- tornou comum o caso
de pessoas que financiaram a
casa própria e têm uma dívida
superior ao valor do imóvel.
A fração de proprietários
"submersos" -como são chamados no jargão mobiliário
americano- já corresponde a
16% do total de clientes, ante
6% no ano passado. Se considerados os financiamentos feitos
nos últimos cinco anos, são
29% na média do país -ou até
mais de 50% em cidades como
Detroit (Michigan) e San Diego
(Califórnia), segundo levantamento da Economy.com, ligada
à agência de risco Moody's.
A disparidade, um convite à
inadimplência, frustra planos
de refinanciamento e afeta
mais os compradores "subprime" -que, por não terem como
comprovar bom histórico de
pagamento, têm contratos com
juros mais altos que a média.
O mineiro Rafael Moreira,
26, que mora em Newark (Nova
Jersey) desde os 14, decidiu nos
últimos anos multiplicar o lucro da lanchonete que possui.
"Queria lucrar US$ 100 mil por
ano, mas essa crise me pegou."
Moreira aproveitou o crédito
farto e comprou quatro casas. O
valor do aluguel que receberia
ajudaria a pagar as prestações.
O plano ia bem, até que os
imóveis perderam valor, ficou
mais difícil encontrar inquilinos, e ele se desfez de duas casas por preço inferior ao que foi
pago. O dinheiro que já investiu, algumas dezenas de milhares de dólares, foi perdido, assim como o sonho de enriquecer com esse esquema.
O designer americano Eric
Mackey, que adquiriu a casa
por hipoteca (nos EUA, o termo
é usado para financiamentos
imobiliários comuns, em que o
bem obtido é a própria garantia), é um cliente "classe A".
Com bom histórico de pagamento, conseguiu financiamento com juros fixos (6% ao
ano) em Nova York. Ainda assim, o compromisso de honrar
o pagamento em um país em
crise o fez mudar hábitos.
"Não uso mais o cartão de
crédito. Quitei o que devia e desisti de comprar uma TV de
plasma. Vou esperar as coisas
se acalmarem. O importante é
pagar a hipoteca."
"Estou perdendo"
Mesmo não sendo uma cliente "subprime", a contadora Luciana Lentar, 33, também está
"submersa" em dois imóveis
que comprou em Miami há cerca de dois anos.
Ela viu o valor de cada um
despencar de US$ 245 mil para
US$ 200 mil e, com a abundância de apartamentos vagos no
mercado, não consegue inquilinos. "Somando os condomínios, pago todos os meses US$
1.300 em um e US$ 1.600 em
outro. Se eu vender, perco mais
dinheiro, então vou esperar
mais um pouco, ver se a situação do país melhora."
A crise imobiliária americana pegou de surpresa até o analista de risco em hipotecas Robert D. De proprietário de três
casas, que somavam mais de
US$ 2 milhões, ele passou rapidamente a dono de nenhuma.
"Não queria especular. Apenas achei três bons negócios,
mas que, com a crise, acabaram
não sendo tão bons assim", diz
ele. "Eu comprei os imóveis
sem entrada, porque preferi investir na reforma das casas.
Perdi mais de US$ 200 mil em
pouco tempo. Não esperava
que a crise fosse forte."
Robert diz ter vontade de
comprar outra casa nos próximos anos. Contudo, após passar por uma execução da hipoteca, está com o crédito sujo, e
portanto teria dificuldade em
conseguir o empréstimo. "Preciso que alguém faça a compra
por mim. Talvez minha próxima esposa."
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