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China caminha para o menor crescimento em dez anos
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A HONG KONG
Pela primeira vez em uma
década, o crescimento chinês
está sendo revisto para baixo.
Diversos economistas prevêm
que em 2009 o PIB chinês crescerá abaixo de 8%, o pior desempenho em dez anos.
No ano passado, quando
cresceu 11,9%, a China foi responsável por mais de um terço
do crescimento da economia
global. Esse período exuberante parece chegar ao fim, ainda
que, comparado a EUA, Japão e
União Européia, o país é a única
potência que parece driblar a
crise econômica, conservando
certo otimismo.
"Apesar de relativamente
isolados da crise, os efeitos no
crescimento chegarão mais tarde e de forma indireta", diz o
economista Stephen Green, do
banco Standard Chartered, em
Xangai.
O primeiro setor a sofrer o
baque global é o das exportações. Apesar de ter crescido
20% em valores nominais no
primeiro semestre deste ano, o
volume de mercadorias é praticamente o mesmo. Depois de
cinco anos consecutivos crescendo a taxas anuais de 20%, as
exportações chinesas não devem crescer mais que 5% no
ano que vem.
Com menos demanda e menos crédito de um lado, e preços altos de matérias-primas,
aumento dos salários na China
e apreciação da moeda local, o
yuan, mais de 10 mil fábricas de
manufaturas fecharam no cinturão industrial do país, na Província de Guandong, a mais populosa. As mais afetadas são de
brinquedos e têxteis de baixo
valor agregado.
A queda nos preços do petróleo, do ferro e do cobre é um
inesperado alívio para os exportadores chineses que mais
dependem da importação intensiva de matérias-primas para fabricar seus produtos, assim como custos de frete e
transporte marítimo.
O maior desafio da China,
por enquanto, é o de fortalecer
o consumo interno, que poderia salvar a indústria exportadora e garantir o crescimento.
"O crescimento menor do
PIB não é uma notícia de todo
ruim. O ritmo menor vai afastar os riscos inflacionários de
um país que crescia acima de
suas capacidades", disse à Folha o economista-chefe para a
China do Royal Bank of Scotland, Ben Simpfendorfer.
"O governo chinês está esperando uma oportunidade para
implementar políticas pró-demanda interna e balancear o
crescimento econômico do
modelo exportador para o consumo, e agora tem uma chance", diz.
Retração
Mas, também nesse front, há
más notícias. A venda de automóveis caiu 5% no último bimestre comparado a 2007, e a
venda de apartamentos foi 14%
menor no primeiro semestre
em relação ao mesmo período
do ano passado.
"As ações caem, os preços dos
imóveis também caem, há queda nas exportações e notícias
ruins sobre a economia americana. É impossível o consumidor chinês não se retrair", diz
Chris Shiu Kay Leung, do banco DBS.
Ao contrário de outros países, o setor bancário chinês parece mais saudável para enfrentar a crise.
"O impacto bancário da crise
é reduzido, pois bancos chineses jamais entraram no negócio
de derivativos, as hipotecas exigem de 20% a 40% de depósitos
iniciais e a dívida de cartões de
crédito é bem limitada", afirma
Green.
Mas o economista diz que, se
setores como o exportador e o
da construção civil sofrerem
mais falências, os bancos podem enfrentar um problema
conhecido. Dívidas que dificilmente serão pagas.
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