São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2008

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China caminha para o menor crescimento em dez anos

RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A HONG KONG

Pela primeira vez em uma década, o crescimento chinês está sendo revisto para baixo. Diversos economistas prevêm que em 2009 o PIB chinês crescerá abaixo de 8%, o pior desempenho em dez anos.
No ano passado, quando cresceu 11,9%, a China foi responsável por mais de um terço do crescimento da economia global. Esse período exuberante parece chegar ao fim, ainda que, comparado a EUA, Japão e União Européia, o país é a única potência que parece driblar a crise econômica, conservando certo otimismo.
"Apesar de relativamente isolados da crise, os efeitos no crescimento chegarão mais tarde e de forma indireta", diz o economista Stephen Green, do banco Standard Chartered, em Xangai.
O primeiro setor a sofrer o baque global é o das exportações. Apesar de ter crescido 20% em valores nominais no primeiro semestre deste ano, o volume de mercadorias é praticamente o mesmo. Depois de cinco anos consecutivos crescendo a taxas anuais de 20%, as exportações chinesas não devem crescer mais que 5% no ano que vem.
Com menos demanda e menos crédito de um lado, e preços altos de matérias-primas, aumento dos salários na China e apreciação da moeda local, o yuan, mais de 10 mil fábricas de manufaturas fecharam no cinturão industrial do país, na Província de Guandong, a mais populosa. As mais afetadas são de brinquedos e têxteis de baixo valor agregado.
A queda nos preços do petróleo, do ferro e do cobre é um inesperado alívio para os exportadores chineses que mais dependem da importação intensiva de matérias-primas para fabricar seus produtos, assim como custos de frete e transporte marítimo.
O maior desafio da China, por enquanto, é o de fortalecer o consumo interno, que poderia salvar a indústria exportadora e garantir o crescimento.
"O crescimento menor do PIB não é uma notícia de todo ruim. O ritmo menor vai afastar os riscos inflacionários de um país que crescia acima de suas capacidades", disse à Folha o economista-chefe para a China do Royal Bank of Scotland, Ben Simpfendorfer.
"O governo chinês está esperando uma oportunidade para implementar políticas pró-demanda interna e balancear o crescimento econômico do modelo exportador para o consumo, e agora tem uma chance", diz.

Retração
Mas, também nesse front, há más notícias. A venda de automóveis caiu 5% no último bimestre comparado a 2007, e a venda de apartamentos foi 14% menor no primeiro semestre em relação ao mesmo período do ano passado.
"As ações caem, os preços dos imóveis também caem, há queda nas exportações e notícias ruins sobre a economia americana. É impossível o consumidor chinês não se retrair", diz Chris Shiu Kay Leung, do banco DBS.
Ao contrário de outros países, o setor bancário chinês parece mais saudável para enfrentar a crise.
"O impacto bancário da crise é reduzido, pois bancos chineses jamais entraram no negócio de derivativos, as hipotecas exigem de 20% a 40% de depósitos iniciais e a dívida de cartões de crédito é bem limitada", afirma Green.
Mas o economista diz que, se setores como o exportador e o da construção civil sofrerem mais falências, os bancos podem enfrentar um problema conhecido. Dívidas que dificilmente serão pagas.


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