São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2008

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Onda de despejos tem enredos dramáticos no Reino Unido

PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES

Mais de cem famílias estão perdendo suas casas todos os dias no Reino Unido por não conseguirem pagar as prestações, o que tem provocado uma onda de desfechos trágicos, com casos até de suicídio.
No mês passado, uma investigação revelou que Karl Harrison, pesquisador de 40 anos, casado e pai de dois filhos, se suicidou depois que o temor de perder a casa se tornou pesado demais. "Ele se sentia mal porque estava desempregado, e a família toda estava sob pressão, com medo de perder nossa casa. As prestações e os impostos estavam atrasados, e [a situação] ficou insustentável", disse a mulher dele, Julie. Harisson se enforcou no quintal da propriedade, no País de Gales, em maio. "Casos como esse são cada vez mais comuns por causa da atual crise econômica", disse o juiz que cuida do assunto.
Os números mostram que este ano deve terminar com mais de 45 mil famílias perdendo suas casas por falta de pagamento. Até a metade do ano, 18,9 mil propriedades foram retomadas, alta de 48% ante o mesmo período de 2007, que já registrara alta significativa.
Para piorar, de janeiro a junho o número de famílias com atrasos de três meses ou mais nos seus pagamentos subiu de 129,6 mil para 155,6 mil.

Trauma
Uma família expulsa de sua própria casa dificilmente vai para a rua no Reino Unido -há habitações populares subsidiadas e abrigos temporários-, mas o trauma é imenso, dizem associações de apoio.
Mesmo casos menos extremos levam a profundos abalos.
"Aquela casa era minha paixão, minha vida e minha aposentadoria", disse Zouhair Tourmoche, um jardineiro de 63 anos que contou sua história recentemente num jornal inglês. Depois de cinco meses de negociações, ele recebeu 28 dias para deixar a propriedade de três quartos onde tinha investido as economias de sua vida. Agora, vive de aluguel.
"Vemos mais e mais pessoas apavoradas. Dezenas de milhares estão vivendo com medo de terem a casa que trabalharam tão duro para comprar ser retomada por credores com pouca compaixão", afirmou Adam Sampson, diretor da caridade Shelter (Abrigo, em inglês).
As vítimas da crise estão em todas as classes sociais. Algumas semanas atrás, Londres viu a retomada mais cara da história. Um investidor da City perdeu a casa de 11 milhões de libras (R$ 41,5 milhões) em Holland Park (um dos bairros mais chiques da cidade), depois de ter dado 4 milhões de libras (R$ 15 milhões) de entrada.

Deve piorar
A previsão de 45 mil casas retomadas, que antes parecia exagerada, já começa a ser vista como conservadora. O valor das moradias também não pára de cair. Em setembro, houve a queda mais brusca em um mês em 25 anos-12,4%, em relação ao ano anterior.
A comparação que ninguém quer fazer é com o início dos anos 1990, quando recessão, desemprego e altas taxas de juros despejaram mais de 70 mil proprietários. Apesar de grande, o número ainda é pequeno no universo total de empréstimos imobiliários, de quase 12 milhões de famílias.


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