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Onda de despejos tem enredos dramáticos no Reino Unido
PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES
Mais de cem famílias estão
perdendo suas casas todos os
dias no Reino Unido por não
conseguirem pagar as prestações, o que tem provocado uma
onda de desfechos trágicos,
com casos até de suicídio.
No mês passado, uma investigação revelou que Karl Harrison, pesquisador de 40 anos,
casado e pai de dois filhos, se
suicidou depois que o temor de
perder a casa se tornou pesado
demais. "Ele se sentia mal porque estava desempregado, e a
família toda estava sob pressão,
com medo de perder nossa casa. As prestações e os impostos
estavam atrasados, e [a situação] ficou insustentável", disse
a mulher dele, Julie. Harisson
se enforcou no quintal da propriedade, no País de Gales, em
maio. "Casos como esse são cada vez mais comuns por causa
da atual crise econômica", disse
o juiz que cuida do assunto.
Os números mostram que este ano deve terminar com mais
de 45 mil famílias perdendo
suas casas por falta de pagamento. Até a metade do ano,
18,9 mil propriedades foram retomadas, alta de 48% ante o
mesmo período de 2007, que já
registrara alta significativa.
Para piorar, de janeiro a junho o número de famílias com
atrasos de três meses ou mais
nos seus pagamentos subiu de
129,6 mil para 155,6 mil.
Trauma
Uma família expulsa de sua
própria casa dificilmente vai
para a rua no Reino Unido -há
habitações populares subsidiadas e abrigos temporários-,
mas o trauma é imenso, dizem
associações de apoio.
Mesmo casos menos extremos levam a profundos abalos.
"Aquela casa era minha paixão,
minha vida e minha aposentadoria", disse Zouhair Tourmoche, um jardineiro de 63 anos
que contou sua história recentemente num jornal inglês. Depois de cinco meses de negociações, ele recebeu 28 dias para
deixar a propriedade de três
quartos onde tinha investido as
economias de sua vida. Agora,
vive de aluguel.
"Vemos mais e mais pessoas
apavoradas. Dezenas de milhares estão vivendo com medo de
terem a casa que trabalharam
tão duro para comprar ser retomada por credores com pouca
compaixão", afirmou Adam
Sampson, diretor da caridade
Shelter (Abrigo, em inglês).
As vítimas da crise estão em
todas as classes sociais. Algumas semanas atrás, Londres
viu a retomada mais cara da
história. Um investidor da City
perdeu a casa de 11 milhões de
libras (R$ 41,5 milhões) em Holland Park (um dos bairros
mais chiques da cidade), depois
de ter dado 4 milhões de libras
(R$ 15 milhões) de entrada.
Deve piorar
A previsão de 45 mil casas retomadas, que antes parecia
exagerada, já começa a ser vista
como conservadora. O valor
das moradias também não pára
de cair. Em setembro, houve a
queda mais brusca em um mês
em 25 anos-12,4%, em relação
ao ano anterior.
A comparação que ninguém
quer fazer é com o início dos
anos 1990, quando recessão,
desemprego e altas taxas de juros despejaram mais de 70 mil
proprietários. Apesar de grande, o número ainda é pequeno
no universo total de empréstimos imobiliários, de quase 12
milhões de famílias.
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