São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2008

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EUA começam a comprar papéis "tóxicos"

Governo inicia aquisição de papéis de carteiras hipotecárias de bancos para tentar injetar dinheiro novo no mercado

Administração Bush vai usar estruturas da Fannie Mae e da Freddie Mac na operação; plano prevê gasto de até US$ 40 bilhões mensais

Charles Dharapak/Associated Press
O ministro japonês das Finanças, Shoichi Nakagawa, fala com Condoleezza Rice na Casa Branca

DO ENVIADO A WASHINGTON

Em uma corrida contra o relógio para injetar liquidez em seu mercado financeiro, o governo dos EUA começará já nesta semana a comprar no mercado os títulos "tóxicos" da carteira hipotecária de bancos.
Será o primeiro passo concreto para tentar salvar o mundo financeiro do risco de "derretimento sistêmico" apontado ontem pelo FMI.
Para isso, os EUA usarão as gigantescas estruturas das recém-estatizadas empresas de crédito imobiliário Fannie Mae e Freddie Mac. O plano prevê a compra mensal de até US$ 40 bilhões desses títulos.
Os recursos usados nas operações sairão das duas próprias financeiras, e não de parte do pacote de US$ 700 bilhões aprovado pelo Congresso dos EUA para socorrer o mercado.
A medida é a primeira para a implementação do plano acordado pelos membros do G7 na sexta, em Washington. A compra de papéis "podres" dos bancos e de participações nas instituições são as duas medidas mais importantes do plano.
A Fannie Mae e a Freddie Mac foram colocadas sob comando estatal no último dia 7 de setembro, quando ameaçavam quebrar por conta de uma carteira de US$ 210 bilhões de títulos "tóxicos", a maior parte em papéis subprime (segunda linha) de crédito imobiliário.
No total, a carteira de empréstimos imobiliários das duas empresas juntas somam US$ 1,5 trilhão (mais que o PIB anual do Brasil). Como a Fannie Mae e Freddie Mac estão agora sob comando do governo dos EUA, será o Tesouro, na prática, quem vai assumir o risco de receber ou não tanto os US$ 210 bilhões em créditos podres que elas já tinham quanto os novos US$ 40 bilhões mensais a mais em papéis "tóxicos" que elas vão retirar do mercado.
Na sexta, o secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, afirmou que os EUA agiriam "imediatamente" para injetar liquidez no mercado financeiro norte-americano. Essas operações colocarão dinheiro novo diretamente no mercado imobiliário, base de toda a atual crise nos mercados.
Nos próximos dias, o Tesouro também deve começar a comprar participações diretas nos bancos do país.
Ontem, durante a reunião do FMI, os ministros das Finanças dos principais países afetados prometeram medidas urgentes para sustentar seus sistemas financeiros.
De concreto, no entanto, até agora só houve injeções de crédito diárias pelos principais bancos centrais e um corte coordenado nas taxas de juro na semana passada.
Enquanto o presidente dos EUA, George W. Bush, afirmou ontem que seu país tem um "papel-chave" na atual crise, seu secretário do Tesouro, Henry Paulson, disse que "há uma necessidade, uma clara e presente necessidade, de reforçar o capital [dos bancos]".
Como segunda-feira é feriado nos EUA (em homenagem a Cristóvão Colombo), os principais agentes financeiros esperam que a partir de terça os EUA já comecem a anunciar a compra direta de ações (e participações) em bancos no país.
Bush voltou a dizer ontem que seu governo está tomando "todas as medidas necessárias, o tão rápido quanto possível". "Mas os resultados das ações não vão aparecer da noite para o dia", disse. (FERNANDO CANZIAN)


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