São Paulo, terça-feira, 12 de novembro de 2002

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REVISÃO DO ACORDO

Missão preparará documento para direção do FMI decidir sobre liberação de US$ 3 bi, em dezembro

Fundo investiga a situação das empresas

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A missão do FMI (Fundo Monetário Internacional) responsável pela primeira revisão do acordo com o Brasil anunciado em agosto se reuniu ontem em São Paulo com representantes do sistema financeiro. Mas, em vez priorizar o quadro macroeconômico, o grupo centrou atenções em aspectos da chamada microeconomia, principalmente na situação de crédito para as empresas brasileiras.
O chefe da equipe do FMI, Jorge Marquez-Ruarte, e Lorenzo Perez, antigo negociador para o Brasil, mantiveram, segundo a Folha apurou, conversas individuais com executivos de pelo menos cinco instituições.
No grupo estão o Credit Suisse First Boston (CSFB), o JP Morgan, o Bank of America e o BBV. Na noite de ontem, estava previsto um encontro com Edmar Bacha, do BBA.
O documento preparado pela missão servirá de base para a diretoria do Fundo decidir sobre a liberação para o governo brasileiro de US$ 3 bilhões, prevista para dezembro. Essa parcela é parte do empréstimo de US$ 30 bilhões, cujos desembolsos deverão, de acordo com o cronograma, ocorrer até o final de 2003.
Segundo a Folha apurou, o FMI optou por priorizar nos contatos aspectos específicos como a situação de tesouraria dos bancos, a solvência das empresas e as condições de crédito para as companhias brasileiras.

Estudos próprios
O argumento é que a missão terá acesso a considerável carga de informações do quadro macroeconômico (relação dívida/PIB, balança comercial, contas correntes) nas reuniões com o governo, além de dispor de estudos preparados pelos próprios técnicos do Fundo.
As preocupações sobre as condições de solvência das empresas e seu acesso a crédito externo têm fundamento: entre agosto e setembro, investidores fecharam o acesso do país ao crédito. Usaram como justificativa as incertezas provocadas, à época, pela proximidade das eleições presidenciais.
Nem o anúncio do megapacote de US$ 30 bilhões, um dos maiores já concedidos pelo FMI a um de seus países-membros, serviu de calmante. O dólar disparou e encostou nos R$ 4. Missões ao exterior lideradas pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan, e pelo presidente do BC, Armínio Fraga, serviram para deter o fechamento total das linhas de crédito. Por ora, mesmo o compromisso do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, de honrar os atuais compromissos não garantiu ainda o retorno do crédito externo.

Superávit
Nos encontros oficiais com o governo brasileiro, o grande foco de atenção é a meta de superávit primário. Parcela do mercado financeiro acredita que o FMI pode exigir que o Brasil aumente sua meta de superávit primário -ou seja, aumente o aperto fiscal.
Pelos termos em vigência, o governo se comprometeu a obter superávit de 3,88% do PIB (Produto Interno Bruto) no resto deste ano. Ao longo de 2003, a meta em vigor seria de 3,75%.
Tanto o presidente Fernando Henrique Cardoso como seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmam não haver necessidade de revisão na meta atual de superávit primário.


Colaboraram Guilherme Barros, editor do Painel S.A., e Sandra Balbi, da Reportagem Local

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