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Argentina cede para tentar acordo
com o FMI e evitar calote no Bird
MARCELO BILLI
DE BUENOS AIRES
A Argentina lança hoje sua última cartada para evitar dar um calote no Banco Mundial. O ministro Roberto Lavagna vai a Washington e, apesar de não atender
todas as exigências do Fundo, levará aos técnicos da instituição
vários propostas que, segundo
sua avaliação, são um "passo a
mais" para chegar a um acordo.
Na prática, os argentinos decidiram ceder em alguns pontos:
aperto fiscal adicional, aumento
das tarifas públicas e pagamento
de parte da dívida argentina com
reservas internacionais.
Na sexta-feira vence um empréstimo do Banco Mundial à Argentina de US$ 800 milhões. Há
menos de duas semanas, a posição do governo era de não utilizar
as reservas e de não pagar caso
não houvesse um acordo que garantisse os cerca de US$ 15 bilhões
necessários para quitar as obrigações com os organismos multilaterais nos próximos 14 meses.
Agora, a equipe econômica corre contra o tempo e tem esperanças de que algum acordo ainda
possa ser fechado. Mas também
dá sinais de que mudou de postura. O consenso é que pelo menos
parte da dívida pode ser paga com
as reservas, o que seria também
um sinal de boa vontade para
com o FMI e o Banco Mundial.
"É provável que parte da dívida
seja paga. Mas é difícil pagar tudo.
Isso significaria entregar, em um
dia, quase 10% das reservas", diz
Agustín Etchebarne, diretor da
Delphos Investment.
O governo também começa a
estudar formas de subir as tarifas
públicas, outra exigência do Fundo. Os técnicos do FMI pediam
um reajuste de 30%, Lavagna ofereceu 10%. Ao que tudo indica, o
FMI cedeu, mas o governo argentino estuda agora a melhor maneira de adotar a medida, que enfrenta a resistência da população.
O mesmo ocorre com a redução
de gastos públicos, antes descartada pela equipe econômica nas
últimas reuniões com o Fundo.
Na semana passada, Lavagna
anunciou um corte de 3,5 bilhões
de pesos que estavam incluídos
em uma rubrica de "gastos a definir" no orçamento de 2003.
Ontem, em reunião com representantes dos bancos, Lavagna
conseguiu um acordo voluntário
que também pode diminuir a resistência dos técnicos do Fundo.
Os devedores de hipotecas estavam protegidos por uma lei que
barrava a execução de dívidas. A
lei expiraria esta semana, e os
bancos poderiam exigir os imóveis de cerca de 53 mil devedores.
Os deputados estudavam uma
medida que prorrogasse o prazo
de proteção por 180 dias. A medida desagradava aos representantes do Fundo, que avaliam que a
impossibilidade de executar dívidas desequilibra ainda mais o já
combalido sistema financeiro argentino. Ontem, os bancos concordaram, voluntariamente, em
estender as negociações com os
devedores até fevereiro e só então
começar a executar as dívidas.
Com o acordo, o ministro conseguiu evitar um conflito com os
banqueiros, o que teria dificultado as negociações com o FMI.
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