São Paulo, terça-feira, 12 de novembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Argentina cede para tentar acordo com o FMI e evitar calote no Bird

MARCELO BILLI
DE BUENOS AIRES

A Argentina lança hoje sua última cartada para evitar dar um calote no Banco Mundial. O ministro Roberto Lavagna vai a Washington e, apesar de não atender todas as exigências do Fundo, levará aos técnicos da instituição vários propostas que, segundo sua avaliação, são um "passo a mais" para chegar a um acordo.
Na prática, os argentinos decidiram ceder em alguns pontos: aperto fiscal adicional, aumento das tarifas públicas e pagamento de parte da dívida argentina com reservas internacionais.
Na sexta-feira vence um empréstimo do Banco Mundial à Argentina de US$ 800 milhões. Há menos de duas semanas, a posição do governo era de não utilizar as reservas e de não pagar caso não houvesse um acordo que garantisse os cerca de US$ 15 bilhões necessários para quitar as obrigações com os organismos multilaterais nos próximos 14 meses.
Agora, a equipe econômica corre contra o tempo e tem esperanças de que algum acordo ainda possa ser fechado. Mas também dá sinais de que mudou de postura. O consenso é que pelo menos parte da dívida pode ser paga com as reservas, o que seria também um sinal de boa vontade para com o FMI e o Banco Mundial.
"É provável que parte da dívida seja paga. Mas é difícil pagar tudo. Isso significaria entregar, em um dia, quase 10% das reservas", diz Agustín Etchebarne, diretor da Delphos Investment.
O governo também começa a estudar formas de subir as tarifas públicas, outra exigência do Fundo. Os técnicos do FMI pediam um reajuste de 30%, Lavagna ofereceu 10%. Ao que tudo indica, o FMI cedeu, mas o governo argentino estuda agora a melhor maneira de adotar a medida, que enfrenta a resistência da população.
O mesmo ocorre com a redução de gastos públicos, antes descartada pela equipe econômica nas últimas reuniões com o Fundo. Na semana passada, Lavagna anunciou um corte de 3,5 bilhões de pesos que estavam incluídos em uma rubrica de "gastos a definir" no orçamento de 2003.
Ontem, em reunião com representantes dos bancos, Lavagna conseguiu um acordo voluntário que também pode diminuir a resistência dos técnicos do Fundo. Os devedores de hipotecas estavam protegidos por uma lei que barrava a execução de dívidas. A lei expiraria esta semana, e os bancos poderiam exigir os imóveis de cerca de 53 mil devedores.
Os deputados estudavam uma medida que prorrogasse o prazo de proteção por 180 dias. A medida desagradava aos representantes do Fundo, que avaliam que a impossibilidade de executar dívidas desequilibra ainda mais o já combalido sistema financeiro argentino. Ontem, os bancos concordaram, voluntariamente, em estender as negociações com os devedores até fevereiro e só então começar a executar as dívidas.
Com o acordo, o ministro conseguiu evitar um conflito com os banqueiros, o que teria dificultado as negociações com o FMI.


Texto Anterior: Equipe do PT só verá missão na semana que vem
Próximo Texto: Comércio exterior: Balança já tem saldo positivo de US$ 10,4 bi
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.