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Importação bate recorde, mas ainda é baixa
Relação entre compras e PIB é de só 17%, ante 30% em outros países da América Latina; Brasil é penúltimo em lista de 84 nações
Para economistas, aumento nas aquisições externas só
causaria preocupação se viesse acompanhado de crescimento elevado do PIB
CLÁUDIA DIANNI
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os brasileiros nunca viram
tantos produtos importados
disponíveis nas prateleiras. Até
o mês passado, o país importou
US$ 75,4 bilhões, 25,1% a mais
do que no mesmo período de
2005. O valor é recorde histórico e a permanência da taxa de
câmbio em cotações baixas já
levou especialistas a prever o
Natal dos importados.
Embora com peso relativamente pequeno no total de importações, a procura por bens
de consumo estrangeiros é a
que mais cresce. As encomendas de vinhos, por exemplo,
cresceram 44% e chegaram a
US$ 95 milhões de janeiro a setembro deste ano. As compras
de automóveis aumentaram
142%, e as de geladeiras, 440%.
Ainda assim, economistas
ouvidos pela Folha dizem não
ver motivo para preocupação,
pois não identificam sinais de
uma explosão das importações
que possa prejudicar a economia ou a indústria nacional
-até porque as importações
brasileiras estão entre as mais
baixas do mundo.
Segundo dados apurados pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) em 2004, as compras de bens e serviços estrangeiros equivaliam a 13% do PIB
(Produto Interno Bruto) brasileiro. Numa lista de 84 países, o
Brasil aparecia em penúltimo
lugar, à frente apenas do Japão,
onde a relação entre importações e PIB estava em 11,6%.
Mesmo considerando o aumento nas importações ocorrido nos últimos dois anos, a posição do Brasil nesse ranking
deve sofrer pouca alteração.
Dados do BC mostram que, em
setembro, a relação entre importações e PIB havia passado
para 17% -em outros países da
América Latina, essa proporção é de cerca de 30%.
Para Renato Baumann, diretor da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e
Caribe) no Brasil, o aumento
contínuo das importações, como vem ocorrendo desde
2003, só preocuparia se estivesse combinado ao elevado
crescimento do PIB, o que não
está ocorrendo.
"Com a economia crescendo
pouco, a demanda e as importações crescem moderadamente, mas uma taxa de crescimento da economia acima de 4% ou
5% dois anos seguidos, por
exemplo, impulsionaria muito
as importações, e aí sim poderia haver risco para o saldo comercial", afirma Baumann.
A dúvida está no impacto que
o crescimento terá sobre a taxa
de câmbio. Se o dólar continuar
barato, o mais provável é que a
recuperação da economia provoque um aumento ainda
maior das importações. As exportações, por sua vez, dependeriam de vários fatores para
manter o atual ritmo de crescimento, como a cotação dos
preços internacionais das commodities e um maior investimento infra-estrutura -as previsões são de que as vendas externas acabem sofrendo pela
falta de melhorias nas estradas,
portos e aeroportos.
"Saldo comercial elevado demais não é um benefício", afirma o economista Fernando Ribeiro, da Funcex (Fundação
Centro de Estudos do Comércio Exterior). Para Ribeiro, a
China é um exemplo de país
que tem elevado saldo comercial, mas não o utiliza para melhorar as condições de vida.
Para este ano, o BC prevê um
crescimento econômico de
3,5%, embora analistas do setor privado digam que a expansão não deve passar dos 3%. Para 2007, a expectativa do mercado financeiro é de que o país
cresça 3,5% e que o dólar seja
negociado, em média, a R$
2,23. Nesse cenário, o saldo da
balança comercial recuaria a
US$ 38 bilhões -ante US$ 44,5
bilhões esperados para 2006.
Serviços
O dólar fraco não estimula
apenas as compras de mercadorias: aumenta também a procura por serviços prestados por
empresas estrangeiras. Entre
janeiro e setembro, o saldo da
balança de serviços ficou negativo em US$ 6,895 bilhões,
22,6% a mais do que no mesmo
período do ano passado.
Em alguns casos, o impacto
do câmbio é mais forte. É o caso
dos gastos com viagens internacionais, que cresceram
21,5% neste ano e alcançaram o
nível mais alto desde 1998, época em que a cotação do dólar
era controlada pelo governo e
ficava próxima de R$ 1. Combinado com a recuperação na
renda da população nos últimos anos, o real mais forte aumentou a procura por viagens.
Já o crescimento nos gastos
com frete e aluguel de equipamentos acompanha o aumento
da corrente de comércio. Segundo o Banco Central, os gastos com aluguel de equipamentos estão bastante relacionados
ao aumento na importação de
máquinas, cuja manutenção
costuma exigir o aluguel de outros aparelhos estrangeiros.
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