São Paulo, domingo, 12 de novembro de 2006

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Importação bate recorde, mas ainda é baixa

Relação entre compras e PIB é de só 17%, ante 30% em outros países da América Latina; Brasil é penúltimo em lista de 84 nações

Para economistas, aumento nas aquisições externas só causaria preocupação se viesse acompanhado de crescimento elevado do PIB


CLÁUDIA DIANNI
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os brasileiros nunca viram tantos produtos importados disponíveis nas prateleiras. Até o mês passado, o país importou US$ 75,4 bilhões, 25,1% a mais do que no mesmo período de 2005. O valor é recorde histórico e a permanência da taxa de câmbio em cotações baixas já levou especialistas a prever o Natal dos importados.
Embora com peso relativamente pequeno no total de importações, a procura por bens de consumo estrangeiros é a que mais cresce. As encomendas de vinhos, por exemplo, cresceram 44% e chegaram a US$ 95 milhões de janeiro a setembro deste ano. As compras de automóveis aumentaram 142%, e as de geladeiras, 440%.
Ainda assim, economistas ouvidos pela Folha dizem não ver motivo para preocupação, pois não identificam sinais de uma explosão das importações que possa prejudicar a economia ou a indústria nacional -até porque as importações brasileiras estão entre as mais baixas do mundo.
Segundo dados apurados pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) em 2004, as compras de bens e serviços estrangeiros equivaliam a 13% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. Numa lista de 84 países, o Brasil aparecia em penúltimo lugar, à frente apenas do Japão, onde a relação entre importações e PIB estava em 11,6%.
Mesmo considerando o aumento nas importações ocorrido nos últimos dois anos, a posição do Brasil nesse ranking deve sofrer pouca alteração. Dados do BC mostram que, em setembro, a relação entre importações e PIB havia passado para 17% -em outros países da América Latina, essa proporção é de cerca de 30%.
Para Renato Baumann, diretor da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe) no Brasil, o aumento contínuo das importações, como vem ocorrendo desde 2003, só preocuparia se estivesse combinado ao elevado crescimento do PIB, o que não está ocorrendo.
"Com a economia crescendo pouco, a demanda e as importações crescem moderadamente, mas uma taxa de crescimento da economia acima de 4% ou 5% dois anos seguidos, por exemplo, impulsionaria muito as importações, e aí sim poderia haver risco para o saldo comercial", afirma Baumann.
A dúvida está no impacto que o crescimento terá sobre a taxa de câmbio. Se o dólar continuar barato, o mais provável é que a recuperação da economia provoque um aumento ainda maior das importações. As exportações, por sua vez, dependeriam de vários fatores para manter o atual ritmo de crescimento, como a cotação dos preços internacionais das commodities e um maior investimento infra-estrutura -as previsões são de que as vendas externas acabem sofrendo pela falta de melhorias nas estradas, portos e aeroportos.
"Saldo comercial elevado demais não é um benefício", afirma o economista Fernando Ribeiro, da Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior). Para Ribeiro, a China é um exemplo de país que tem elevado saldo comercial, mas não o utiliza para melhorar as condições de vida.
Para este ano, o BC prevê um crescimento econômico de 3,5%, embora analistas do setor privado digam que a expansão não deve passar dos 3%. Para 2007, a expectativa do mercado financeiro é de que o país cresça 3,5% e que o dólar seja negociado, em média, a R$ 2,23. Nesse cenário, o saldo da balança comercial recuaria a US$ 38 bilhões -ante US$ 44,5 bilhões esperados para 2006.

Serviços
O dólar fraco não estimula apenas as compras de mercadorias: aumenta também a procura por serviços prestados por empresas estrangeiras. Entre janeiro e setembro, o saldo da balança de serviços ficou negativo em US$ 6,895 bilhões, 22,6% a mais do que no mesmo período do ano passado.
Em alguns casos, o impacto do câmbio é mais forte. É o caso dos gastos com viagens internacionais, que cresceram 21,5% neste ano e alcançaram o nível mais alto desde 1998, época em que a cotação do dólar era controlada pelo governo e ficava próxima de R$ 1. Combinado com a recuperação na renda da população nos últimos anos, o real mais forte aumentou a procura por viagens.
Já o crescimento nos gastos com frete e aluguel de equipamentos acompanha o aumento da corrente de comércio. Segundo o Banco Central, os gastos com aluguel de equipamentos estão bastante relacionados ao aumento na importação de máquinas, cuja manutenção costuma exigir o aluguel de outros aparelhos estrangeiros.


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