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Consumidor devolve carro em revendas
Receio de não arcar com prestação leva clientes às lojas para tentar trocar carro ou entregar veículo para zerar dívida
Associação de revendas de carros usados afirma que 40% dos clientes que procuram lojas têm dívida maior que valor do carro
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O medo de não conseguir pagar a prestação do carro já leva
alguns consumidores a procurarem as revendas de usados
para fazer a troca por modelos
mais baratos com o objetivo de
reduzir o valor financiado e
mesmo entregar o automóvel
para se livrar da dívida.
A procura pela chamada "troca com troco" e a devolução de
veículos pelo receio de não conseguir quitar o financiamento
foram constatadas pela Folha
no comércio de veículos usados
em São Paulo e no interior.
"O que vemos hoje é o efeito
do erro das concessionárias de
vender carro em 80 meses para
consumidores totalmente despreparados financeiramente",
afirmou George Chahade, presidente da Associação dos Revendedores de Veículos Automotores do Estado de São Paulo e do Sindicato do Comércio
de Veículos Automotores Usados do Estado de São Paulo.
Assim que o carro sai da concessionária, segundo ele, o veículo já perde 15% do seu valor.
"Significa que o consumidor
que comprou um carro que
custa 10, saiu da loja com um
carro que vale 8,5 e com uma
dívida de 25. Olha o tamanho
do problema que vamos ter de
enfrentar agora com a crise que
atinge o mercado de veículos."
Os consumidores que procuram as revendas, segundo ele,
são aqueles que possuem carros financiados que não estão
mais na garantia e precisam de
manutenção. E cerca de 40%
desses clientes, segundo Chahade, têm dívida maior do que
o valor do carro no mercado.
"Só que as revendas não querem hoje esses carros, que se
transformaram em um mico
para o mercado. Até as financeiras estão evitando pegar esses veículos porque não sabem
o que fazer com eles", diz. A
troca com troco só está ocorrendo, segundo ele, no caso de
veículos com dívida de no máximo 30% do valor do bem.
A Marrese Veículos, revenda
de carros usados da rua do Oratório, em São Paulo, afirma que
desde o mês passado recebe de
oito a dez clientes por dia com
interesse em trocar o carro por
modelo mais barato ou simplesmente entregar o veículo
para que o restante das prestações seja quitado pela loja.
"É a primeira vez que vejo
uma situação como essa", afirma Victor Marrese, sócio-proprietário da Marrese Veículos,
que tem família que atua no
mercado de usados há quase 40
anos. A Marrese, que costuma
vender até 15 carros por mês,
só vendeu um carro do começo
de outubro até ontem.
Uma revenda da região de
Americana (SP), que preferiu
não se identificar, informa que
no último mês tem sido procurada por cerca de três clientes
por dia que tentam trocar seus
veículos financiados por outro
mais barato porque não sabem
se conseguirão quitar a dívida.
Segundo a loja, o que o cliente mais quer é trocar um carro
que tem prestação de R$ 700
por mês por um que tem prestação de R$ 400 por mês ou
apenas devolver o veículo.
As revendas informam que a
virada no mercado de veículos
ocorreu por causa da restrição
ao crédito. Os bancos e as financeiras não aceitam mais financiamento sem entrada, que
agora chega a ser de, no mínimo, 30% do valor do carro, e
também não falam mais em
prazos de 80 meses. Além disso, os juros estão mais altos.
Levantamento da associação
de revendas de veículos usados
mostra que, em setembro, 82%
dos negócios do setor foram
feitos com uso de financiamento e, em outubro, 49%.
Vinícius Marcus Garcia, dono de uma das lojas Bruno Motors, diz que reduziu os preços
dos carros em até R$ 5.000 para não demitir funcionários e
contornar a queda nas vendas.
"Meu faturamento neste
mês foi negativo em R$ 20 mil.
Porque quem estava comprando era o consumidor que não
tem holerite e não conseguia
comprovar renda", afirma.
Na tentativa de evitar os prejuízos no mercado de carros
usados, 14 shoppings paulistas
de veículos vão fazer o primeiro "Liquida Auto-Shopping",
entre a última semana de novembro e a primeira de dezembro, e oferecer descontos e juros diferenciados para atrair
clientes. "Negociamos com os
bancos descontos para incrementar as vendas que caíram
entre 40% e 50%, em média,
nos auto-shoppings paulistas",
afirma Karla Arana, presidente
da Anauto-SP (associação nacional dos auto-shoppings do
Estado de São Paulo) e administradora do Auto-Shopping
Anhaia Mello.
Para Octavio Vallejo, presidente do Sincodiv-SP (Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos no Estado de São Paulo), a entrega de
carros recém-adquiridos para
quitar os financiamentos,
quando ocorre, é algo pontual e
não deve se acentuar.
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