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LUÍS NASSIF
O aquecimento da economia
É curioso o efeito da recuperação da atividade industrial sobre o nível de capacidade instalada da economia.
Em geral, os derradeiros defensores do desastre cambial do
primeiro governo Fernando
Henrique Cardoso -incluindo
o próprio presidente- apontam como contrapartida positiva o fato de o câmbio apreciado
ter permitido a renovação do
parque industrial brasileiro, pelo barateamento dos investimentos.
Na prática, o que se observa é
que bastaram uma recuperação
parcial das exportações e uma
melhora relativa na atividade
interna para que muitos setores
batessem em altos níveis de uso
de capacidade instalada.
Recentes pesquisas da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, da Confederação Nacional da Indústria e do IBGE confirmam esse aquecimento surpreendente da produção. Há
movimento de redução de estoques, associado com o do aquecimento da demanda. Segundo
a pesquisa da FGV, em julho, a
proporção de empresas com estoques excessivos superava a de
empresas com estoques insuficientes em 16 pontos de percentagem. A diferença, agora, é de
seis pontos.
O nível médio de capacidade
instalada saltou para 80,4% em
outubro, contra utilização média de 79,2% nos três primeiros
trimestres do ano e de 79,8% em
outubro de 2001.
A proporção das empresas que
não estão encontrando problemas de demanda saltou de 39%
para 46%, percentual que só
ocorreu no início de 2001, quando a economia pintava crescer,
antes da explicitação da crise
energética. Na outra ponta, a
proporção de empresas com dificuldades em aumentar as vendas por falta de consumo caiu
de 41% para 36%.
Se se tomar o período de 12
meses, os maiores índices de
crescimento do uso de capacidade instalada ocorreram nos setores de Perfumaria, Sabões, Detergentes e Velas (9,8%), Couros
e Peles (8,8%), Borracha (5,8%),
Material de Transporte (5,8%) e
Bens de Consumo (5,6%). No último trimestre, observou-se
também um crescimento expressivo no uso da capacidade
instalada dos segmentos de Madeira (7,8%), Têxtil (7,3%), Mobiliário (6,6%), Bens de Consumo (5,3%) e Bebidas (4,1%).
Tomando-se por base o uso de
capacidade instalada, há 12 setores trabalhando com mais de
80% de ocupação: Celulose, Papel e Papelão bate em 93,4%;
Diversos (89,5%), Metalurgia
(89,3%), Borracha (88,2%),
Vestuário (86,6%).
O ajuste sazonal da produção
industrial, feito pelo Departamento Econômico do Lloyds
Bank, indica um crescimento de
1,7% em outubro diante de setembro e o quinto mês de crescimento consecutivo.
Por outro lado, estudos de indicadores de antecedentes do
economista Cláudio Contador
apontam um crescimento da
economia no primeiro semestre,
mas sujeito a um breque em
meados do ano, por fatores sazonais e, também, por conta de
prevenir pressões inflacionárias.
No estudo do Lloyds, a retomada da produção industrial já
atinge os segmentos de bens de
consumo duráveis e não-duráveis que, por sua vez, estão intimamente relacionados à demanda interna. Ou seja, existiria um "fôlego" extra para o aumento da inflação, ao menos no
curto prazo.
A instituição aponta três indicadores de que a retomada suave da indústria poderá ampliar
o risco inflacionário:
1) o nível de utilização da capacidade instalada da indústria
com ajuste sazonal, que atingiu
82,6% em outubro, segundo
maior pico desde a implementação do Plano Real (83,5% em
dezembro de 2000);
2) a comparação da média
móvel dessazonalizada de três
meses da produção industrial e
das vendas físicas do comércio
de São Paulo (FCESP) aponta
uma recuperação do nível dos
estoques;
3) a taxa de câmbio está apresentando uma resistência maior
à queda, o que reduz a velocidade de desaceleração dos preços
no atacado.
Desastre
Aos leitores e fontes que me encaminharam e-mails nos últimos meses: um desastre elétrico,
somado à minha imprevidência
em não manter backups atualizados, destruiu quatro meses de
arquivos e de e-mails. Desculpas
antecipadas pela ausência de
respostas a e-mails, e pedidos
para que trabalhados enviados
nesse período sejam reenviados.
E-mail - LNassif@uol.com.br
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