São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lula ordenou redução de juros no BB e na CEF, afirma Dilma

SERGIO TORRES
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
CIRILO JÚNIOR
DA FOLHA ONLINE, NO RIO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ordenou ao BB (Banco do Brasil) e à CEF (Caixa Econômica Federal) a redução das taxas de juros dos empréstimos, afirmou ontem no Rio a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Segundo a ministra, o presidente quer que os juros voltem a patamares anteriores à crise financeira. Ela afirmou que não é correto os bancos públicos lucrarem com o risco em situações como a atual.
"O presidente Lula está extremamente preocupado com os juros cobrados na ponta. E determinou ao BB e à Caixa que façam a revisão do que estão cobrando acima da [taxa] Selic", disse a ministra.
Dilma afirmou que a queixa do governo é referente ao "spread", a diferença entre o juro cobrado nos empréstimos e as taxas pagas pelos bancos aos investidores. A diferença determina o lucro bancário nas operações de crédito.
Segundo especialistas, contudo, os bancos não têm condições de baixar seus "spreads" e juros, pois seus custos de captação de recursos -principalmente via CDBs- e de administração são altos. "Eles não baixam os juros porque não podem, não porque não querem", diz Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor do Banco Central.
Além disso, afirma, uma determinação do governo de reduzir os juros traz o risco de reação de acionistas minoritários do Banco do Brasil, que tem capital aberto. A CEF não tem ações no mercado.
Para Aloísio Lemos, analista da Ágora, o custo de captação do BB e da CEF não permite diminuição dos "spreads". O que indica, segundo ele, que a proposta do governo não passa "de um discurso político".
Além de ordenar a redução dos juros, o governo cobra do BB e da CEF explicações sobre as razões técnicas "de "spreads" tão elevados". Segundo Dilma, "não há aumento no custo de captação, não faz sentido uma cobrança de juros acima do que se fazia antes".

Crise
Para a ministra, a atual crise financeira internacional é "bastante grave" e supera o crash de 1929. "Temos condições de tomar uma série de medidas para impedir que a crise tenha efeitos mais profundos", disse ela, citando o PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre deste ano -crescimento de 6,8% em relação ao mesmo período de 2007- para sustentar a tese de que a crise só chegou ao Brasil no fim de setembro. Nos EUA e na Europa, afirmou, ela começou no início do ano.
De acordo com a ministra, o Brasil não quebrou por duas razões: as reservas financeiras e o fato de a dívida interna não ser mais fortemente indexada ao dólar. "Hoje, somos credores líquidos em dólar. A dívida interna em relação ao PIB diminui quando a moeda americana se valoriza", disse.
Ela afirmou que o país "vai manter os investimentos intactos" em 2009. Segundo Dilma, o governo tem como "agir diante da crise, com instrumentos de política fiscal e monetária".
A ministra disse ainda acreditar que o dólar se estabilizará entre R$ 2 e R$ 2,50, mas reiterou que o governo não trabalha com meta cambial. O objetivo, afirmou, é ter o câmbio estável.
O BB informou que não comentaria as declarações da ministra. A CEF ficou de se manifestar por meio de nota, o que não ocorrera até a conclusão desta edição.


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Política monetária contradiz ação do governo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.