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Política monetária contradiz ação do governo
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Alvo de críticas do empresariado por manter a taxa Selic
como a mais elevada do mundo
num momento em que vários
países reduzem os juros para
minimizar o efeito da crise externa, o presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles,
personificou a contradição da
política econômica durante
reunião do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva com empresários, ontem, em Brasília.
Ao mesmo tempo em que a
equipe econômica prioriza a
adoção de medidas para estimular o consumo e o investimento das empresas, o BC
mantém a mesma política monetária adotada no início do
ano e que era sustentada pelo
discurso da necessidade de
conter o consumo para evitar
descontrole na inflação.
Um dia antes da reunião dos
empresários com Lula, Meirelles comandou a reunião do Comitê de Política Monetária que
decidiu empurrar para janeiro
do ano que vem uma eventual
queda nos juros. Isso apesar de
os indicadores mostrarem sinais de desaquecimento da
economia e recuo da inflação.
Menos de 24 horas depois, o
presidente do BC mostrou-se
solidário aos empresários e
chegou a dizer que "fará o possível" para reduzir os juros.
"O presidente do BC disse
que está pronto para agir na redução de juros, assim que for
necessário e que fará o possível", disse Benjamin Steinbruch, presidente da CSN.
"Meirelles disse que está atento
ao cenário e deu sinais de que
pode reduzir as taxas", afirmou
Armando Monteiro, presidente
da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Em outro momento, a mensagem de Meirelles incluiu
também argumento para justificar a decisão desta semana do
Copom, ao destacar que o BC
está "preocupado com escassez
de linhas internacionais e grande vencimento de dívidas no
ano que vem, já que só 30% estão sendo renovados", contou o
presidente da Vivo, Roberto Lima. Isso teria impacto no câmbio e, por conseqüência, no
comportamento dos preços.
Em abril, quando o BC iniciou o ciclo atual de alta da Selic, a preocupação do governo
era que uma demanda excessiva e impulsionada pelo crédito
não fosse atendida por uma
oferta maior de produtos, o que
pressionava os preços para cima. Hoje, porém, o desespero
do governo é que o consumo e a
produção despenquem juntos,
levando a economia para um
quadro de recessão.
Apesar da mudança no cenário, o BC manteve a sua política
sob a argumentação que não tinha claro o impacto perverso
da crise no crescimento brasileiro. Uma reversão na posição
ficou para 2009.
(SHEILA D'AMORIM)
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