São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

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Política monetária contradiz ação do governo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Alvo de críticas do empresariado por manter a taxa Selic como a mais elevada do mundo num momento em que vários países reduzem os juros para minimizar o efeito da crise externa, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, personificou a contradição da política econômica durante reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com empresários, ontem, em Brasília.
Ao mesmo tempo em que a equipe econômica prioriza a adoção de medidas para estimular o consumo e o investimento das empresas, o BC mantém a mesma política monetária adotada no início do ano e que era sustentada pelo discurso da necessidade de conter o consumo para evitar descontrole na inflação.
Um dia antes da reunião dos empresários com Lula, Meirelles comandou a reunião do Comitê de Política Monetária que decidiu empurrar para janeiro do ano que vem uma eventual queda nos juros. Isso apesar de os indicadores mostrarem sinais de desaquecimento da economia e recuo da inflação. Menos de 24 horas depois, o presidente do BC mostrou-se solidário aos empresários e chegou a dizer que "fará o possível" para reduzir os juros.
"O presidente do BC disse que está pronto para agir na redução de juros, assim que for necessário e que fará o possível", disse Benjamin Steinbruch, presidente da CSN. "Meirelles disse que está atento ao cenário e deu sinais de que pode reduzir as taxas", afirmou Armando Monteiro, presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Em outro momento, a mensagem de Meirelles incluiu também argumento para justificar a decisão desta semana do Copom, ao destacar que o BC está "preocupado com escassez de linhas internacionais e grande vencimento de dívidas no ano que vem, já que só 30% estão sendo renovados", contou o presidente da Vivo, Roberto Lima. Isso teria impacto no câmbio e, por conseqüência, no comportamento dos preços.
Em abril, quando o BC iniciou o ciclo atual de alta da Selic, a preocupação do governo era que uma demanda excessiva e impulsionada pelo crédito não fosse atendida por uma oferta maior de produtos, o que pressionava os preços para cima. Hoje, porém, o desespero do governo é que o consumo e a produção despenquem juntos, levando a economia para um quadro de recessão.
Apesar da mudança no cenário, o BC manteve a sua política sob a argumentação que não tinha claro o impacto perverso da crise no crescimento brasileiro. Uma reversão na posição ficou para 2009.
(SHEILA D'AMORIM)


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