|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EXUBERÂNCIA NACIONAL
País emite bônus de 30 anos; moeda americana cai para R$ 2,79, menor cotação desde junho de 2002
Governo emite US$ 1,5 bi e derruba dólar
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo brasileiro voltou a
emitir títulos da dívida externa
ontem, na primeira operação desse tipo no ano. O país lançou US$
1,5 bilhão em papéis, pelo qual pagará juros anuais de 8,75% pelos
próximos 30 anos -um dos
maiores prazos de pagamento já
conseguidos pelo Brasil em operações como essa.
O resultado da operação só foi
divulgado pelo Banco Central ontem à noite, mas, durante o dia, o
mercado financeiro antecipou a
notícia e reagiu bem. O dólar caiu
1,52%, para R$ 2,79 -menor cotação desde 24 de junho de 2002.
O chefe do Departamento da
Dívida Externa do BC, Linaldo
Gomes de Aguiar, comemorou o
resultado. "Foi a operação de menor custo que a República já fez",
afirmou, referindo-se aos juros
pagos pelos papéis -os menores
desde a reestruturação da dívida
brasileira, em 1994.
Desde o final de 2003, analistas
de mercado esperavam que o Brasil aproveitasse o cenário favorável para emitir novos títulos da dívida externa. A expectativa aumentou neste início de ano, com a
forte valorização registrada pelos
papéis brasileiros no exterior.
O risco-país, taxa que mede a
diferença entre os juros pagos pelo Brasil e pelos EUA para conseguir empréstimos no mercado internacional, registrou forte queda
nas últimas semanas. Em tese,
quanto menor o risco-país, menores os juros pagos pelos títulos
brasileiros que já estão sendo negociados no mercado secundário.
Em termos de prazo, apenas um
lançamento feito pelo governo supera a emissão de ontem. Em
2000 -época em que, assim como hoje, as condições do mercado internacional eram bastante
favoráveis-, o país emitiu títulos
com prazo de 40 anos.
Na ocasião, porém, os papéis foram utilizados para substituir
"bradies" em circulação no mercado. "Bradies" é o nome dado
aos títulos emitidos em 1994, após
a renegociação da dívida externa.
O C-Bond, um dos papéis brasileiros mais negociados no exterior, faz parte dessa categoria.
Os títulos emitidos ontem não
fazem parte de uma operação de
troca. O dinheiro correspondente
à transação deve ser depositado
nas reservas internacionais do
país nos próximos dias.
Na semana passada, a Vale do
Rio Doce já havia lançado um título no mercado internacional
com prazo de 30 anos, um dos
mais longos já obtidos pelo setor
privado brasileiro. Os juros foram
fixados em 8,25% ao ano.
Neste ano, o governo espera tomar US$ 4 bilhões emprestados
por meio da emissão externa de
títulos. O dinheiro (obtido a juros
menores) deve ser usado para
quitar parte das parcelas da dívida
externa que vencem no período.
Ao todo, os gastos do governo
com pagamentos da dívida somarão US$ 11,941 bilhões em 2004,
dos quais US$ 5,5 bilhões devem
ser pagos com recursos obtidos
via emissões de títulos -US$ 1,5
bilhão foi captado em 2003.
O resto será pago com dólares
adquiridos pelo governo no mercado. Até a última semana, essas
compras eram feitas pelo Tesouro
Nacional, que já havia comprado
US$ 5,5 bilhões com esse objetivo.
No último dia 6, essa responsabilidade foi transferida para o BC.
O BC diz que as compras de dólares no mercado é necessária para reforçar as reservas internacionais do país. Excluídos os recursos emprestados pelo FMI, as reservas estão em aproximadamente US$ 17 bilhões.
A emissão de títulos também
colabora para preservar as reservas, embora resulte em aumento
da dívida externa. Em setembro
passado, dado oficial mais recente, a dívida externa do governo somava US$ 123,721 bilhões.
Texto Anterior: Painel S.A. Próximo Texto: Dólar volta para o menor valor desde 2002 Índice
|