São Paulo, terça-feira, 13 de janeiro de 2004

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EXUBERÂNCIA NACIONAL

País emite bônus de 30 anos; moeda americana cai para R$ 2,79, menor cotação desde junho de 2002

Governo emite US$ 1,5 bi e derruba dólar

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo brasileiro voltou a emitir títulos da dívida externa ontem, na primeira operação desse tipo no ano. O país lançou US$ 1,5 bilhão em papéis, pelo qual pagará juros anuais de 8,75% pelos próximos 30 anos -um dos maiores prazos de pagamento já conseguidos pelo Brasil em operações como essa.
O resultado da operação só foi divulgado pelo Banco Central ontem à noite, mas, durante o dia, o mercado financeiro antecipou a notícia e reagiu bem. O dólar caiu 1,52%, para R$ 2,79 -menor cotação desde 24 de junho de 2002.
O chefe do Departamento da Dívida Externa do BC, Linaldo Gomes de Aguiar, comemorou o resultado. "Foi a operação de menor custo que a República já fez", afirmou, referindo-se aos juros pagos pelos papéis -os menores desde a reestruturação da dívida brasileira, em 1994.
Desde o final de 2003, analistas de mercado esperavam que o Brasil aproveitasse o cenário favorável para emitir novos títulos da dívida externa. A expectativa aumentou neste início de ano, com a forte valorização registrada pelos papéis brasileiros no exterior.
O risco-país, taxa que mede a diferença entre os juros pagos pelo Brasil e pelos EUA para conseguir empréstimos no mercado internacional, registrou forte queda nas últimas semanas. Em tese, quanto menor o risco-país, menores os juros pagos pelos títulos brasileiros que já estão sendo negociados no mercado secundário.
Em termos de prazo, apenas um lançamento feito pelo governo supera a emissão de ontem. Em 2000 -época em que, assim como hoje, as condições do mercado internacional eram bastante favoráveis-, o país emitiu títulos com prazo de 40 anos.
Na ocasião, porém, os papéis foram utilizados para substituir "bradies" em circulação no mercado. "Bradies" é o nome dado aos títulos emitidos em 1994, após a renegociação da dívida externa. O C-Bond, um dos papéis brasileiros mais negociados no exterior, faz parte dessa categoria.
Os títulos emitidos ontem não fazem parte de uma operação de troca. O dinheiro correspondente à transação deve ser depositado nas reservas internacionais do país nos próximos dias.
Na semana passada, a Vale do Rio Doce já havia lançado um título no mercado internacional com prazo de 30 anos, um dos mais longos já obtidos pelo setor privado brasileiro. Os juros foram fixados em 8,25% ao ano.
Neste ano, o governo espera tomar US$ 4 bilhões emprestados por meio da emissão externa de títulos. O dinheiro (obtido a juros menores) deve ser usado para quitar parte das parcelas da dívida externa que vencem no período.
Ao todo, os gastos do governo com pagamentos da dívida somarão US$ 11,941 bilhões em 2004, dos quais US$ 5,5 bilhões devem ser pagos com recursos obtidos via emissões de títulos -US$ 1,5 bilhão foi captado em 2003.
O resto será pago com dólares adquiridos pelo governo no mercado. Até a última semana, essas compras eram feitas pelo Tesouro Nacional, que já havia comprado US$ 5,5 bilhões com esse objetivo. No último dia 6, essa responsabilidade foi transferida para o BC.
O BC diz que as compras de dólares no mercado é necessária para reforçar as reservas internacionais do país. Excluídos os recursos emprestados pelo FMI, as reservas estão em aproximadamente US$ 17 bilhões.
A emissão de títulos também colabora para preservar as reservas, embora resulte em aumento da dívida externa. Em setembro passado, dado oficial mais recente, a dívida externa do governo somava US$ 123,721 bilhões.


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