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Inflação fica em 3,1%, a menor desde 98
Resultado do ano passado fica abaixo do centro da meta do governo, de 4,5%; IBGE vê "fim de cultura inflacionária"
Combinação de dólar em queda, juros altos, preços dos alimentos sob controle e reajuste menor de serviços públicos explica o recuo
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Com taxa de 0,48% em dezembro, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) fechou 2006 em 3,14%. O índice
oficial de inflação ficou abaixo
do centro da meta do governo
para o ano (4,5%) e no menor
nível desde 1998 (1,65%), disse
o IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística). No governo Lula, só em 2003 a inflação não ficou dentro da meta,
que em 2006 tinha um intervalo de tolerância de dois pontos
para cima ou para baixo.
Uma combinação de juros altos, dólar em queda, preços dos
alimentos contidos e reajustes
menores de serviços públicos
(alguns até com deflação) fez o
índice recuar. Em 2005, o IPCA
ficou em 5,69% -a meta oficial
também era de 4,5%, com dois
pontos de tolerância.
Para Eulina Nunes dos Santos, do IBGE, o resultado do IPCA marca "o fim de uma cultura inflacionária no país".
"Conforme a inflação vai diminuindo, tende a convergir
para taxas mais baixas. Esse é o
próprio sentido do regime de
metas de inflação. O que se viu,
de fato, em 2006 foi um processo de desindexação", disse ela.
O efeito do dólar mais barato,
afirmou ela, "permeou todo o
índice", mas pôde ser sentido
mais fortemente em itens de
higiene e limpeza, alimentos
atrelados a commodities, eletroeletrônicos, eletroportáteis
e artigos de residência. A moeda americana recuou 8% em relação ao real em 2006.
Vilões da inflação durante
anos, os preços administrados
subiram menos em 2006 sob
efeito dos IGPs (Índice Gerais
de Preço) mais baixos em 2005
-esses contratos são corrigidos pela inflação passada.
A energia, por exemplo, subiu só 0,28% em 2006, ante
8,03% em 2005. A telefonia fixa
teve queda de 0,83% -havia tido alta de 6,68% em 2005. A exceção foi a gasolina. Subiu
2,94%, apesar de não ter havido
reajuste na refinaria.
"Ao carregarem inflação passada menor, os preços administrados ficaram muito mais baixos. E a expectativa é que neste
ano fiquem no mesmo patamar, com alta de 4% a 4,5%,
menos do que os 9% de 2005",
disse Alexandre Sant'Anna,
economista da ARX Capital.
Já os alimentos, disse Nunes
dos Santos, foram beneficiados
pela boa safra agrícola e pelo
câmbio. O grupo alimentação
subiu 1,22% em 2006 e ajudou
a conter o IPCA -o feijão-preto, por exemplo, caiu 34,11%.
Em 2005, o índice do grupo havia sido de 1,43%.
Para o economista Carlos
Thadeu de Freitas Filho, do
grupo de Conjuntura da UFRJ,
a inflação ficou comportada em
2006 não apenas por causa do
câmbio e dos preços administrados: houve uma forte contribuição do consumo, que se
manteve contido. "Não houve
uma explosão de consumo. Isso
ajudou muito."
Sobre as perspectivas para
2007, os especialistas alertam
que o ano já começa com duas
pressões importantes à vista: o
reajuste do álcool e os aumentos dos preços de produtos "in
natura" por conta das chuvas
que afetaram o Sudeste.
Diante desses impactos,
Freitas Filho corrigiu sua projeção para o IPCA de janeiro de
0,41% para 0,52%.
Apesar das pressões, disse
Sant'Anna, a projeção para o
ano não está comprometida, e
os índices devem cair no segundo trimestre, especialmente se
vier uma redução dos combustíveis, hoje mais caros do que a
referência internacional.
A Tendências prevê um IPCA
de 4,1% em 2007. "Haverá uma
aceleração, mas a taxa ficará
abaixo da meta. É que o câmbio
vai ficar estável e não vai contribuir tanto neste ano", disse
Gian Barbosa, economista da
consultoria.
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