São Paulo, domingo, 13 de janeiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VINICIUS TORRES FREIRE

O porquinho Lobão


As glórias da carreira de um agregado-mor do coronelato do Maranhão e quase-ministro da falta de luzes da era lulista

LULA DEIXOU Lobão ao relento.
Antes de se tornar ministro, Edison Lobão será submetido ao ritual de passagem dos ministeriáveis de Lula. Ficará as noites da provação pré-ministerial como que fora da choça tribal, exposto ao sereno, à sanha de anacondas, formigas assassinas ou mosquitos da febre amarela, como nos filmes "D" sobre silvícolas africanos ou amazônicos.
Lobão terá de provar sua "resistência". Abocanhará o ministério de Minas e Energia se, durante tal prazo de carência, agentes de Lula, lobistas inimigos ou jornalistas não descobrirem sua "capivara" (folha corrida, em jargão policial).
Tanto faz, ou quase, como tanto faria se Lobão tivesse sido engenheiro de hidrelétricas na caatinga ou o rei do biodiesel do babaçu de seu Maranhão. Falando em filme "D", Lobão é um desses mortos-muito-vivos que brotam dos cemitérios do progresso político brasileiro, sempre irrigados pelo eterno acordão conservador que governa o país.
Lobão brotou das campas de José Sarney, onde deveriam jazer adeptos de ditaduras e pefelês e peemedebês chupins em qualquer governo. É vassalo no coronelato do Maranhão, Estado de miséria revoltante que o sarneyzismo infunde em horror africano faz quatro décadas.
Por falar em feudos, Lobão é município no Maranhão: o povoado de Ribeirãozinho foi rebatizado com o nome atroz de "Governador Edison Lobão", progressista urbe cuja renda per capita não passa de metade da renda da rica capital, São Luís.
Mas Lobão já viveu, sim, uma rica experiência energética. Não foi com biodiesel de babaçu, menção anacrônica. Nos anos 90, Lobão era sócio de uma daquelas célebres destilarias de álcool devedoras do Banco do Brasil, a Caiman, na qual o salário valia duas tigelas diárias de comida.
Ex-deputado anônimo da falange ditatorial, Lobão ficou conhecido do auditório ao se transformar em um dos "três porquinhos", como eram chamados os senadores do PFL (Democratas) que em 1989 inventaram a candidatura Sílvio Santos à Presidência da República. Depois desse fiasco semigolpista, Collor eleito, Lobão aderiu por um tempo a esse enxovalhador da República.
Já governador, foi acusado por um bandido do escândalo do Orçamento e chamado à CPI. Nunca se provou se tinha a ver com os anões do Orçamento, mas na CPI Lobão não soube explicar a engorda de seu patrimônio, fazenda que fora inflada também por emissoras de rádios, como as distribuídas na farra fisiológico-coronelista do governo Sarney. "Político" ou "técnico", tanto faz.
Lobão não toma parte de nenhum projeto setorial, intelectual ou de governo para a área. De suas idéias, a mais famosa foi a defesa da legalização do jogo do bicho e dos cassinos. Lobão, enfim, será uma azeitona da farofa peemedebista-lulista que recheia o peru de Minas e Energia.
Apesar de Lobão ter sido um dos porquinhos, o toucinho da Energia ora está nas mãos dos corsários do PMDB que se aboletaram em Furnas, os quais têm como grande projeto dirigir o fundo de pensão da empresa, essa grande fonte de energia.
Candidato ao papel de ameixa-passada dessa farofa há Jader Barbalho, que em sua volta furtiva ao poder, pelas mãos de Lula, quer também nomear peixões elétricos.

vinit@uol.com.br


Texto Anterior: Foco: Paulista expande área de atuação e comanda quatro companhias aos 27 anos
Próximo Texto: Ano do apagão se repete, afirma Pinguelli
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.