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Bancos se capitalizam para emprestar mais
Instituições públicas e privadas buscam recursos com acionistas e no mercado para dar conta do aumento da demanda por crédito
Com atuação agressiva em 2009, bancos públicos estão
perto do limite máximo de
empréstimo e deverão ter
aporte do Tesouro Nacional
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
O setor bancário brasileiro
prepara uma rodada geral de
capitalização, de olho no aumento das operações de crédito
-em torno de 25% ao ano em
2010 e 2011- e no crescimento
da demanda por financiamentos de obras de infraestrutura.
Tanto instituições públicas
como privadas já se aproximam
dos limites de concessão de
crédito determinados pelo
Banco Central. Para elevar o
ritmo dos empréstimos e não
perder negócios, a maioria terá
de reforçar o patrimônio, especialmente, a partir de 2011.
Para isso, terão de buscar dinheiro novo de seus acionistas
e do mercado de capitais, como
já aconteceu com o Santander
Brasil, em outubro, com a oferta de ações na Bolsa.
O maior problema de capitalização é dos bancos públicos,
que atuaram de forma agressiva para minimizar os efeitos da
crise no ano passado e consumiram boa parte da margem
para operar. Controlados pelo
governo federal, esses bancos
dependem de aportes do Tesouro Nacional. A solução tem
que ser definida neste ano, último da gestão do presidente Lula, para evitar que instituições
como Banco do Brasil e a Caixa
Econômica Federal tenham
sua atuação limitada.
Entre os bancos privados, o
movimento também já começou. Santander e HSBC já reforçaram o caixa e ampliaram a
estrutura de capital para poder
emprestar mais já em 2010.
O HSBC obteve R$ 1 bilhão
da matriz britânica para manter uma expansão de pelo menos 20% na carteira de crédito
neste ano. O Santander levantou R$ 13,2 bilhões na Bolsa em
outubro e tornou-se o banco
mais capitalizado do país.
Segundo Pedro Paulo Longuini, vice-presidente corporativo do Santander Brasil, com
esse dinheiro o banco tem folga
para conceder mais R$ 100 bilhões em novos empréstimos
nos próximos três anos.
No caso do Bradesco, o aumento recente de capital de R$
2 bilhões consumiu recursos já
separados como reserva de lucro, tendo impacto apenas contábil. Com isso, não elevou sua
capacidade de empréstimo.
Mesmo assim, o banco terá de
pensar no assunto ainda em
2010, segundo analistas.
Instituições públicas
Nos últimos anos, para evitar
um aporte direto de dinheiro
-o que piora o resultado fiscal
da União-, o Ministério da Fazenda vinha usando "instrumentos alternativos" que permitem "turbinar" o patrimônio
das instituições federais sem
comprometer as contas públicas. É o caso das dívidas subordinadas (a última a ser paga em
caso de falência), que, por serem consideradas de melhor
qualidade, podem ser computadas como patrimônio.
No entanto, o BC estabelece
limites para a utilização desses
instrumentos. A Caixa, por
exemplo, tinha patrimônio de
referência de R$ 23,1 bilhões no
último balanço. Desse total, pelo menos R$ 11,2 bilhões são
compostos desses instrumentos. A Caixa tinha espaço para
utilizar mais, pelo menos, R$
2,5 bilhões desses instrumentos, mas o montante não resolve o problema de capitalização
que o banco terá pela frente.
O patrimônio das instituições é o que define quanto elas
podem emprestar. Com o forte
crescimento nas operações de
crédito em 2008 e 2009, a Caixa reduziu praticamente à metade sua capacidade de atuação
medida pelo chamado índice de
Basileia (veja quadro).
Por isso, o governo anunciou
uma ajuda de até R$ 6 bilhões
para reforçar gradualmente o
patrimônio e evitar que o banco
ficasse sem condições de operar. Mas esse dinheiro não foi
um aporte direto de recursos
do acionista controlador nem
foi feito de uma única vez.
Além desse aporte, a Caixa
precisará de mais capital para
fazer frente aos programas oficiais, entre eles o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e o Minha Casa, Minha
Vida. O banco também deverá
ser um dos principais financiadores das obras para a realização da Copa do Mundo de 2014
e da Olimpíada de 2016.
A discussão de aporte adicional na Caixa já está na agenda
da equipe econômica. O mesmo
acontece com o Banco do Brasil, que prepara uma capitalização de até R$ 8 bilhões, sendo
que a maior parte deverá vir do
Tesouro. O banco ainda tem espaço para utilizar "instrumentos alternativos", mas não está
livre de um aporte do Tesouro.
Os R$ 8 bilhões, segundo os
cálculos do presidente do banco, Aldemir Bendine, são o valor mínimo necessário para que
a instituição retome o patamar
de capitalização do final de
2008, antes das aquisições da
Nossa Caixa e do Votorantim.
Com planos de expansão ousados, será preciso mais capital
para o BB. O banco quer avançar na compra de outras instituições no país e no exterior. A
expectativa é aumentar a carteira de crédito em 20% neste
ano, o que deve significar empréstimos de, no mínimo, R$
60 bilhões. A folga do BB para
operar é de R$ 100 bilhões.
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