São Paulo, quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

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Venezuela adota racionamento de energia

Medida, que começa hoje e valerá por cinco meses, inclui cortes no fornecimento de luz de até quatro horas a cada dois dias

Presidente Chávez culpa a falta de chuva causada pelo fenômeno El Niño; para seus críticos, culpa é o atraso dos investimentos no setor

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Enquanto ainda assimilam a recente desvalorização da moeda local, os venezuelanos terão de se adaptar a partir de hoje a um duro plano de racionamento de energia elétrica, que inclui cortes de luz de até quatro horas a cada dois dias.
A medida terá, a princípio, cinco meses de duração e deixa de fora apenas grandes hospitais, metrôs, aeroportos, polícia e meios de comunicação. Cada região terá seu esquema próprio de racionamento, anunciado pelas empresas distribuidoras locais.
O anúncio foi feito pelos presidentes das empresas de distribuição, todas estatais. Segundo o presidente da Electricidad de Caracas (EDC), Javier Alvarado, o deficit nacional de produção de energia é de 12%.
Caracas, a principal cidade do país, foi dividida em seis blocos, com horários de racionamento entre meia-noite e 4h, 8h e 12h e 12h e 16h. Desde o fim do ano passado, a capital venezuelana já sofre com o racionamento de água, com interrupções no fornecimento de até dois dias por semana.
No Estado de Zulia (oeste), o mais rico do país por concentrar a produção petroleira, o racionamento também será de quatro horas a cada dois dias. No vizinho Táchira, o apagão será de apenas duas horas.
Na semana passada, o governo paralisou parcialmente as estatais Alcasa e Venalum, ambas de alumínio, e até a recém-estatizada Sidor, a principal siderúrgica da Venezuela.
Existe o temor de que a queda da produção dessas empresas afete outros setores, como a construção civil, abastecida principalmente pela Sidor.

El Niño, o culpado
Por causa da crise, a Venezuela está reduzindo por etapas o fornecimento de energia a Roraima, forçando a Eletronorte a criar um plano de contingência para o Estado.
A Venezuela não tem como importar energia dos vizinhos. Com o Brasil, o problema é a falta de interligação de Roraima e o restante do país.
A alternativa seria a Colômbia, mas a grave crise diplomática entre os países, além do fantasma de problemas similares, fizeram Bogotá suspender a exportação de energia para o vizinho em dezembro.
O presidente Hugo Chávez tem afirmado que a culpa pelos racionamentos de água e de luz se deve à falta de chuva causada pelo fenômeno El Niño. O problema principal é a usina hidrelétrica de Guri, a terceira maior do mundo.
No ano passado, Chávez pediu que os venezuelanos tomassem banho de três minutos e usassem lanternas para ir ao banho à noite como formas de diminuir o consumo.
Para críticos de Chávez, a culpa é dos atrasos nos investimentos. "É um governo irresponsável que, tendo dinheiro e os planos, não executou os projetos", disse Victor Poleo, ex-vice-ministro de Eletricidade no primeiro ano de Chávez (1999-2000) e professor de economia da UCV (Universidade Central da Venezuela).
Como exemplo, Poleo menciona a hidrelétrica Tocoma, de médio porte (2.150 MW), a mais importante obra em andamento do setor. Prevista inicialmente para começar a funcionar neste ano e estar concluída em 2012, agora deve ficar pronta apenas em 2014.
A obra, suficiente para abastecer uma cidade de 6 milhões de habitantes, está sendo tocada por um consórcio liderado pela brasileira Odebrecht.


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