São Paulo, quarta, 13 de janeiro de 1999

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Tensão coincide com mês de decisões vitais

GUSTAVO PATÚ
da Sucursal de Brasília

O governo terá de tomar duas decisões vitais de política econômica neste mês em que se agravaram o pessimismo e a tensão no mercado financeiro.
A qualquer momento será preciso definir um novo teto para as cotações do dólar, que sinalizará a trajetória do câmbio neste ano. E, no próximo dia 27, o Banco Central reavaliará sua taxa de juros, que serve de referência para o resto da economia.
Todas as alternativas à disposição da equipe econômica implicam efeitos colaterais e riscos -o primeiro deles é a possibilidade de fazer piorar ainda mais os humores de investidores internos e externos.
A cotação do dólar, que o BC faz subir gradualmente, já está em R$ 1,21, muito perto do teto fixado no ano passado, de R$ 1,22. As bandas, como são chamados os intervalos para a variação do real em relação à moeda norte-americana, servem para indicar o ritmo anual da desvalorização do câmbio.
Desde 1995, quando começou a política de desvalorização para estimular as exportações, o BC nunca teve que fixar as bandas em condições tão adversas.
Crescem no mercado as dúvidas sobre a viabilidade da política atual, até aqui insuficiente para reduzir o déficit brasileiro nas transações com o exterior e permitir a queda dos juros. As exportações, que deveriam ter crescido pelo menos 10% em 98, caíram 3,5%.
Por isso, a indicação de uma desvalorização de 7% ou 8% em 99, no mesmo ritmo dos anos anteriores, pode ser recebida com preocupação ou descrença, em vez de interpretada como um sinal de normalidade.
Se o BC optar por uma mudança de taxa -desvalorização menor, maior ou, na hipótese mais extrema, maxidesvalorização- ou de política, correrá o risco de criar incerteza no mercado.
Insegurança quanto à política de câmbio leva o mercado a especular ou a se proteger. Nos dois casos, isso significa comprar dólares e elevar a fuga de capitais do país, que continua em níveis preocupantes.
É justamente a perda de divisas que torna mais difícil a outra decisão importante do mês, a fixação dos juros. As taxas são altas -29% ao ano- para manter atrativas aos estrangeiros as aplicações no país.
Muito provavelmente, o BC não poderá promover a redução dos juros que gostaria, o que deve prejudicar ainda mais a atividade econômica e trazer dificuldades políticas ao governo.
Juros mais altos também significam mais déficit público. Equilibrar as contas do governo é a principal promessa feita ao FMI (Fundo Monetário Internacional) para restaurar a credibilidade da política econômica do país.



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