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Tensão coincide com mês de decisões vitais
GUSTAVO PATÚ
da Sucursal de Brasília
O governo terá de tomar duas decisões vitais de política econômica
neste mês em que se agravaram o
pessimismo e a tensão no mercado
financeiro.
A qualquer momento será preciso definir um novo teto para as cotações do dólar, que sinalizará a
trajetória do câmbio neste ano. E,
no próximo dia 27, o Banco Central reavaliará sua taxa de juros,
que serve de referência para o resto
da economia.
Todas as alternativas à disposição da equipe econômica implicam efeitos colaterais e riscos -o
primeiro deles é a possibilidade de
fazer piorar ainda mais os humores de investidores internos e externos.
A cotação do dólar, que o BC faz
subir gradualmente, já está em R$
1,21, muito perto do teto fixado no
ano passado, de R$ 1,22. As bandas, como são chamados os intervalos para a variação do real em relação à moeda norte-americana,
servem para indicar o ritmo anual
da desvalorização do câmbio.
Desde 1995, quando começou a
política de desvalorização para estimular as exportações, o BC nunca teve que fixar as bandas em condições tão adversas.
Crescem no mercado as dúvidas
sobre a viabilidade da política
atual, até aqui insuficiente para reduzir o déficit brasileiro nas transações com o exterior e permitir a
queda dos juros. As exportações,
que deveriam ter crescido pelo menos 10% em 98, caíram 3,5%.
Por isso, a indicação de uma desvalorização de 7% ou 8% em 99, no
mesmo ritmo dos anos anteriores,
pode ser recebida com preocupação ou descrença, em vez de interpretada como um sinal de normalidade.
Se o BC optar por uma mudança
de taxa -desvalorização menor,
maior ou, na hipótese mais extrema, maxidesvalorização- ou de
política, correrá o risco de criar incerteza no mercado.
Insegurança quanto à política de
câmbio leva o mercado a especular
ou a se proteger. Nos dois casos, isso significa comprar dólares e elevar a fuga de capitais do país, que
continua em níveis preocupantes.
É justamente a perda de divisas
que torna mais difícil a outra decisão importante do mês, a fixação
dos juros. As taxas são altas -29%
ao ano- para manter atrativas aos
estrangeiros as aplicações no país.
Muito provavelmente, o BC não
poderá promover a redução dos
juros que gostaria, o que deve prejudicar ainda mais a atividade econômica e trazer dificuldades políticas ao governo.
Juros mais altos também significam mais déficit público. Equilibrar as contas do governo é a principal promessa feita ao FMI (Fundo Monetário Internacional) para
restaurar a credibilidade da política econômica do país.
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