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MERCADO TENSO
Fuga de recursos para o exterior neste mês já chega a US$ 2 bi; nervosismo traz de volta o risco cambial
Saída de dólares e juro futuro se elevam
CRISTIANE PERINI LUCCHESI
da Reportagem Local
A sangria de dólares cresceu ontem e trouxe mais intranquilidade
ao mercado financeiro. Até as
19h30, o fluxo estava negativo em
aproximadamente US$ 1 bilhão. O
mercado fecha às 21h30.
A Bolsa de Valores de São Paulo
voltou a despencar, chegando a
um passo do "circuit breaker", mecanismo que interrompe os negócios toda vez que a queda atinge
10%. Fechou em baixa de 7,61%.
Os mercados futuros passaram a
projetar juros e desvalorização
cambial bem mais fortes no curto
prazo. Para março, os juros anuais
projetados pularam de 32,43% ao
ano anteontem para 39,75% ao
ano ontem. Hoje, os juros de referência para toda a economia estão
em torno de 29% ao ano.
A desvalorização cambial estimada para este mês passou de
1,15% anteontem para 1,41% ontem. Na política cambial que o governo federal vem praticando, a
desvalorização do real atinge, no
máximo, 0,7% ao mês.
O Banco Central interveio para
segurar o dólar no mercado futuro.
Segundo especialistas, o BC já gastou algo em torno de US$ 6 bilhões
na Bolsa de Mercadorias & Futuros para segurar a cotação do dólar
desde que, na semana passada, o
governo mineiro decretou moratória e a crise de credibilidade do
país se intensificou.
Também no mercado à vista o
governo interveio, por intermédio
do Banco do Brasil, vendendo a
moeda dos Estados Unidos para
impedir uma desvalorização forte
do real. Ninguém quer vender dólares, pois as perspectivas são de o
fluxo cambial continuar negativo.
A evasão de US$ 690 milhões pelo mercado de dólar comercial registrada ontem preocupa. Mas o
sinal mais alarmante é a perda de
US$ 298 milhões pelo mercado de
dólar flutuante, um segmento do
turismo. É por intermédio do câmbio flutuante que os brasileiros tiram seus recursos do país.
Depois da saída forte de US$ 883
milhões na semana passada, o fluxo cambial foi negativo anteontem. Chegou a US$ 187 milhões,
apesar da entrada de US$ 350 milhões pelo comercial.
Neste ano, o Brasil já perdeu US$
2 bilhões pelo mercado de câmbio,
com as reservas internacionais, o
caixa em moeda forte, abaixo de
US$ 34 bilhões.
Acreditando em um forte fluxo
cambial negativo, os investidores
venderam suas ações na Bolsa de
Valores de São Paulo, que chegou a
cair 9,56%. Mas os que não desejavam a paralisação do pregão por
causa do "circuit breaker" conseguiram segurar o mercado antes
que a queda chegasse a 10%. Alguns chegaram a falar na intervenção do governo, por intermédio de
fundações e da BNDESPar.
Como os volumes negociados na
Bolsa de Valores de São Paulo estão reduzidos -US$ 302,68 milhões ontem, contra algo em torno
de US$ 600 milhões há um ano-,
fica mais fácil segurar o mercado
com compras modestas de ações e
impedir o "circuit breaker".
Com a queda de ontem, o índice
Bovespa, das ações mais negociadas em São Paulo, chegou a 5.915
pontos, o patamar mais baixo desde o dia 14 de setembro de 98, logo
após a moratória russa, que foi decretada em agosto.
O Tesouro não conseguiu vender
todos os títulos que levou a leilão
no mercado interno ontem. Os
bancos pediram taxas muito elevadas para carregá-las.
"Não dá para jogar toda a culpa
no Itamar por toda a situação
atual", diz Nicolas Balafas, diretor
do BNP Asset Management. "É óbvio que a atitude de Itamar foi
equivocada, mas o mercado está
pressionado por causa do fluxo negativo de dólares no país", diz ele.
"Havia uma expectativa de que
os bancos estrangeiros voltassem a
emprestar ao Brasil em janeiro. O
que está se percebendo é justamente o contrário", afirmou o presidente da Bolsa Mercantil & de
Futuros, Manuel Felix Cintra Neto.
"Até que as reformas da Previdência e fiscal sejam aprovadas, teremos momentos difíceis mesmo",
acredita ele.
"O mercado está com o humor
péssimo. O Brasil é hoje como um
time que precisa vencer dez partidas sem nenhuma perda para ganhar o campeonato", diz Marcelo
Guterman, do Lloys Asset Management.
Os investidores não acreditam
que a votação do IOF seja capaz de
reverter a situação. Crescem as expectativas de que o governo federal
terá de tomar alguma atitude imediata para mudar o humor dos investidores.
"Se as coisas piorarem, resta o
instrumento monetário, de aumento das taxas de juros", diz o
presidente da BM&F. Com os juros mais altos, o governo federal
busca tornar os investimentos em
reais mais atrativos e tenta segurar
os dólares que não param de sair
do país.
Para outros especialistas, no entanto, o governo federal não terá
outra alternativa que não seja mexer na taxa de câmbio. A moratória
de Itamar, acreditam, só precipitou uma discussão, sobre a eficácia
do atual modelo econômico.
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