São Paulo, quarta, 13 de janeiro de 1999

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MERCADO TENSO
C-bond fecha a 54,5%, menor valor desde 11 de setembro; mercado especula sobre aumento dos juros
Títulos brasileiros desabam no exterior

VANESSA ADACHI
da Reportagem Local

Os títulos da dívida externa brasileira tiveram ontem o pior dia dos últimos quatro meses.
Diante de um clima de nervosismo e incerteza com relação aos rumos da economia do Brasil, os investidores venderam os papéis maciçamente, preferindo buscar investimentos mais seguros, como o título do Tesouro norte-americano.
Em consequência, os preços dos papéis brasileiros despencaram e as taxas pagas por eles dispararam.
Como as taxas pagas lá fora subiram muito, os especialistas já começam a especular que o governo não só não poderá cortar os juros no próximo dia 27, como poderá até aumentá-lo.
O C-bond, principal título da dívida renegociada do país, fechou cotado a 54,5% do seu valor de face, contra 56,75% na segunda. Valor tão baixo não era visto desde meados de setembro.
Naquela ocasião, o Brasil ainda estava no período de ressaca da moratória russa. No pior momento após a moratória, o C-bond chegou a fechar a 49,6% do seu valor de face (27 de agosto).
Em 11 de setembro, o título fechou nos mesmos 54,5% de ontem. Depois disso, começou uma recuperação paulatina, que foi interrompida na semana passada com o anúncio da moratória de Minas Gerais.
Os títulos da dívida são negociados com um deságio em relação ao seu valor de emissão (de face). Quanto maior o deságio, maior a descrença dos investidores na capacidade de pagamento do país.
O IDU, outro título do país, também despencou, fechando a 82,3%,ante 85,5% na segunda.
O que mais está chamando a atenção dos operadores, no entanto, são os juros pagos pelos títulos.
Em tempos normais, títulos de prazo mais longo pagam juros maiores do que aqueles com prazo mais curto. Supõe-se que o risco de inadimplência aumenta com o prazo, pois é difícil prever o futuro.
O que está acontecendo é o contrário. Como os investidores estão vendo um risco iminente de o Brasil não honrar seus pagamentos, os títulos mais curtos estão pagando taxas muito mais altas.
É o caso do IDU, que vence em dois anos. Em apenas um dia, os juros pagos pelo IDU saltaram de 21,1% para 24,5% ao ano. Há uma semana, o papel pagava 18%.
Já o C-bond, que vence dentro de 15 anos, está pagando menos. Ontem, fechou pagando 17,5% ao ano, ante 17,2% na segunda-feira.
Por conta do salto dos juros pagos por papéis brasileiros no exterior, o mercado já questiona qual será o nível de juros ditado pelo governo.
Ontem, o mercado futuro apontou uma expectativa de alta dos juros. Em um dia, as apostas subiram de uma taxa de 33% ao ano para 37% em alguns contratos.
A lógica por trás disso é que, se a percepção de risco do país aumentou e os ativos negociados lá fora já estão pagando mais por isso, os ativos negociados no mercado interno precisariam pagar mais para manter a competitividade.
Caso contrário, investidores ainda dispostos a aplicar no Brasil, tenderiam a preferir comprar os títulos lá fora.
No ano passado, quando os juros do IDU ficaram muito acima dos juros internos, houve grande fuga de dólares do país.
Porém há uma corrente de especialistas que questiona a eficácia de um novo aumento dos juros.
Acredita-se que a elevação da taxa agora poderia ter efeito inverso, aumentando a descrença dos investidores. Foi o que aconteceu com a Rússia.



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