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MERCADO TENSO
C-bond fecha a 54,5%, menor valor desde 11 de setembro; mercado especula sobre aumento dos juros
Títulos brasileiros desabam no exterior
VANESSA ADACHI
da Reportagem Local
Os títulos da dívida externa brasileira tiveram ontem o pior dia
dos últimos quatro meses.
Diante de um clima de nervosismo e incerteza com relação aos rumos da economia do Brasil, os investidores venderam os papéis
maciçamente, preferindo buscar
investimentos mais seguros, como
o título do Tesouro norte-americano.
Em consequência, os preços dos
papéis brasileiros despencaram e
as taxas pagas por eles dispararam.
Como as taxas pagas lá fora subiram muito, os especialistas já começam a especular que o governo
não só não poderá cortar os juros
no próximo dia 27, como poderá
até aumentá-lo.
O C-bond, principal título da dívida renegociada do país, fechou
cotado a 54,5% do seu valor de face, contra 56,75% na segunda. Valor tão baixo não era visto desde
meados de setembro.
Naquela ocasião, o Brasil ainda
estava no período de ressaca da
moratória russa. No pior momento após a moratória, o C-bond chegou a fechar a 49,6% do seu valor
de face (27 de agosto).
Em 11 de setembro, o título fechou nos mesmos 54,5% de ontem. Depois disso, começou uma
recuperação paulatina, que foi interrompida na semana passada
com o anúncio da moratória de
Minas Gerais.
Os títulos da dívida são negociados com um deságio em relação ao
seu valor de emissão (de face).
Quanto maior o deságio, maior a
descrença dos investidores na capacidade de pagamento do país.
O IDU, outro título do país, também despencou, fechando a
82,3%,ante 85,5% na segunda.
O que mais está chamando a
atenção dos operadores, no entanto, são os juros pagos pelos títulos.
Em tempos normais, títulos de
prazo mais longo pagam juros
maiores do que aqueles com prazo
mais curto. Supõe-se que o risco de
inadimplência aumenta com o
prazo, pois é difícil prever o futuro.
O que está acontecendo é o contrário. Como os investidores estão
vendo um risco iminente de o Brasil não honrar seus pagamentos, os
títulos mais curtos estão pagando
taxas muito mais altas.
É o caso do IDU, que vence em
dois anos. Em apenas um dia, os
juros pagos pelo IDU saltaram de
21,1% para 24,5% ao ano. Há uma
semana, o papel pagava 18%.
Já o C-bond, que vence dentro de
15 anos, está pagando menos. Ontem, fechou pagando 17,5% ao
ano, ante 17,2% na segunda-feira.
Por conta do salto dos juros pagos por papéis brasileiros no exterior, o mercado já questiona qual
será o nível de juros ditado pelo
governo.
Ontem, o mercado futuro apontou uma expectativa de alta dos juros. Em um dia, as apostas subiram de uma taxa de 33% ao ano
para 37% em alguns contratos.
A lógica por trás disso é que, se a
percepção de risco do país aumentou e os ativos negociados lá fora já
estão pagando mais por isso, os
ativos negociados no mercado interno precisariam pagar mais para
manter a competitividade.
Caso contrário, investidores ainda dispostos a aplicar no Brasil,
tenderiam a preferir comprar os títulos lá fora.
No ano passado, quando os juros
do IDU ficaram muito acima dos
juros internos, houve grande fuga
de dólares do país.
Porém há uma corrente de especialistas que questiona a eficácia de
um novo aumento dos juros.
Acredita-se que a elevação da taxa agora poderia ter efeito inverso,
aumentando a descrença dos investidores. Foi o que aconteceu
com a Rússia.
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