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BENJAMIN STEINBRUCH
O que será, será!
A economia global acordou para os biocombustíveis e, à simples menção da palavra, todos olham para o Brasil
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TEVE POUCA repercussão no
Brasil o capítulo do relatório
da Agência Internacional de
Energia, divulgado na semana passada, com projeções sobre o mercado
mundial de biocombustíveis nos
próximos anos. Foi uma reação natural. O relatório é assumidamente
conservador -leia-se, pessimista- a
respeito das perspectivas de crescimento desse setor.
Os técnicos da AIE consideram
que a expansão da produção de biocombustíveis (etanol e biodiesel) depende ainda de uma série de fatores, como avanços tecnológicos e o fim
de restrições comerciais. Além disso,
observam que a queda recente do
preço do petróleo reacendeu o debate sobre a viabilidade econômica dos
biocombustíveis.
O avanço do biodiesel, por exemplo, depende de subsídios governamentais, que não poderiam ser mantidos em caso de deterioração da
economia mundial. Dessa forma, para alcançar os ambiciosos objetivos
nessa área, principalmente nos Estados Unidos, seria indispensável a
criação de uma segunda geração de
tecnologias para o uso mais eficiente
desses combustíveis. Mesmo assim,
restará o problema do efeito perverso no preço dos alimentos, em razão
do desvio de grãos para a produção
de combustíveis.
Os números setoriais mostram
que, a despeito do espaço dedicado
aos biocombustíveis na mídia mundial, pela sua contribuição à despoluição ambiental, sua produção ainda é modesta. Em 2006, atingiu o
equivalente a 780 mil barris diários
no mundo, apenas 0,9% da demanda
global de combustíveis líquidos. Até
2011, prevê a AIE, a produção aumentará para 1,5 milhão de barris/
dia e será ainda pequena para promover mudanças importantes no
panorama energético mundial.
As próprias entrelinhas do relatório da AIE, porém, mostram que a
agência foi excessivamente pessimista. Nos Estados Unidos, já existem 112 usinas de etanol, com capacidade para produzir 360 mil barris/dia, e outras 84 estão em construção, podendo elevar essa capacidade para 760 mil em 18 meses. Na área do
biodiesel, há 87 refinarias em produção e 78 em construção. Na Europa, a
capacidade de produção de etanol
(40 mil barris/dia) deverá dobrar em
um ano e meio em razão de investimentos e incentivos oficiais. Expansão idêntica está projetada em biodiesel. Alemanha e Holanda já aprovaram a mistura obrigatória de biocombustíveis à gasolina e ao diesel a partir de 2007.
Na América Latina, o Brasil tem
cerca de 300 usinas em produção e
200 em projeto. A Argentina já aprovou mistura de 5% a partir de 2010.
Na Ásia, a China vai usar uma área de
13 milhões de hectares, equivalente
ao território da Inglaterra, para produzir etanol a partir de nozes e frutas. Pretende investir quase US$ 200 bilhões em 15 anos em fontes renováveis de energia para reduzir sua
dependência do petróleo.
Tudo isso mostra que existe uma
onda global a favor do etanol e do
biodiesel: apoio político, marketing
ambiental gratuito e vasto espaço
para avanços. O subsecretário de Estado para Assuntos Políticos dos
EUA, Nicholas Burns, esteve no Brasil na semana passada e propôs a ampliação conjunta de investimentos
em pesquisa e produção de biocombustíveis. O próprio presidente Bush
virá ao Brasil em março, e um dos temas da agenda é etanol.
A economia global acordou para a
importância dos biocombustíveis e,
à simples menção dessa palavra, todos olham para o Brasil. Mas o país,
que usa álcool carburante desde
1980, não é mais o maior produtor
mundial de etanol. Os EUA assumiram a liderança no ano passado, o
que não faz sentido. O álcool brasileiro de cana é, de longe, a melhor alternativa para biocombustíveis, tanto do ponto de vista ambiental quanto do energético.
A produção de um litro de etanol
de cana custa no Brasil apenas US$
0,28. Nos Estados Unidos, um litro
tirado do milho custa US$ 0,42. Nessas condições, o programa norte-americano de etanol só pode se sustentar com proteção tarifária para
impedir importações e com subsídios governamentais, que já atingem US$ 4 bilhões por ano. No Brasil, o subsídio é zero. Os carros movidos a etanol de cana são 60% menos
poluentes do que os movidos a etanol de milho.
O Brasil vê passar, portanto, grande oportunidade de liderar um setor
que terá importância crescente no
cenário energético global. Não pode
perdê-la.
BENJAMIN STEINBRUCH , 53, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo).
bvictoria@psi.com.br
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