|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
A responsabilidade da Anatel
O caso Anatel-Vésper poderá ser um marco na vida
das agências reguladoras, por
ser paradigmático.
Ao zelar pelo cumprimento
dos contratos de concessão, valendo-se de indicadores e audiências públicas, as agências
reguladoras deverão contribuir
para a transparência do mercado e para formas de controle externo ao setor regulado. Nesse
episódio, porém, a Anatel está
colocando em risco a própria
imagem das agências, ao não
agir com transparência.
Da série de colunas sobre o tema, feitas em cima de informações provenientes de várias fontes, começa a ficar claro um
quadro de atuação indevida da
agência. Cabe à Anatel definir
frequências de telefonia. Havia
a banda A e a B de celular. Na
hora de definir a banda C, o
chamado Serviço Móvel Pessoal
(SMP), a Anatel optou pela frequência de 1,8 GHz. Com isso,
privilegiou o padrão europeu do
GSM, que opera nessa frequência -mas, até aí, estava dentro
de suas atribuições.
A Vésper é uma empresa-espelho de telefonia fixa autorizada
a operar em WLL (sistema sem
fio). Seu controlador é a Qualcomm, dona do padrão CDMA.
Como ficava no meio da frequência de 1,9 GHz, houve uma
negociação com a Anatel para
que mudasse para o início da
frequência. Depois, foi autorizada a operar serviço móvel na
mesma frequência, desde que
adquirisse concessões de telefonia celular, o que foi feito.
A faixa de 1,9 GHz foi destinada à 3G (terceira geração) de telefonia celular. Nela poderão
coexistir o padrão europeu do
UMTS (sucessor do GSM) e o
padrão americano do
CDMA2000 (sucessor do
CDMA).
Adquiridas as licenças, de repente a Anatel não autorizou
mais o uso da faixa pela Vésper.
Não houve explicações sobre a
decisão, que contraria frontalmente a resolução 314 da própria Anatel, que conferia esse
direito à operadora.
Sem explicações, fica-se nas
conjecturas. A hipótese mais
plausível é que os conselheiros
da Anatel teriam preferência
pelo padrão europeu da UMTS.
Ao definir a frequência de 1,8
GHz para o GSM, julgavam que
as empresas de celular caminhassem nessa direção. A BrasilCel (fusão da Telesp Celular
com a Telefônica) chegou a analisar a possibilidade de migrar
do CDMA para o GSM pelo fato
de não possuir cobertura nacional, o que reduziria sua competitividade em relação à TIM e à
Oi.
No final do ano passado, no
entanto, a BrasilCel adquiriu a
TCO, que cobre extensa área do
território nacional. Ao mesmo
tempo, a Brasil Telecom começou a pensar na possibilidade de
aderir ao padrão CDMA. O jogo
começou a se inverter. A decisão
da Anatel de voltar atrás na autorização à Vésper visaria impedir que o CDMA se fortalecesse
ainda mais.
Nem se vá discutir que padrão
é o melhor. O que importa é que
os conselheiros da Anatel têm a
obrigação de explicar publicamente os motivos do veto à Vésper. Fez bem o ministro das Comunicações, Miro Teixeira, em
divulgar todos os detalhes dessa
operação, incluindo as cartas
das companhias prejudicadas
pela decisão da Anatel.
Agora, cabe ao Congresso enquadrar a agência.
E-mail - lnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Imposto de renda: Leão libera 3º lote residual de 2002 Próximo Texto: Aviação: Fusão Varig-TAM só sai se o governo ajudar Índice
|