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AVIAÇÃO
Dívida da Varig dificulta concretização da união entre empresas, exigência do Planalto para discutir socorro financeiro
Fusão Varig-TAM só sai se o governo ajudar
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
A fusão da Varig e da TAM só
irá se concretizar se houver ajuda
do governo federal. Em caso de
não haver apoio oficial, a Folha
apurou que dificilmente as duas
companhias aéreas aceitarão formar uma nova empresa.
O grande problema para a fusão
é o passivo da Varig. Especialistas
do setor calculam que a dívida da
empresa está na faixa de US$ 3 bilhões (cerca de R$ 10,4 bilhões,
pelo câmbio de ontem). Os números não foram divulgados.
A Varig não comenta o assunto.
O balanço anual da empresa, a ser
publicado em abril, deverá apresentar dívida bem mais baixa, na
casa de R$ 2,5 bilhões.
Já a TAM garante que não tem
nenhuma dívida vencida. Toda a
sua dívida é constituída por leasing financeiro (arrendamento
mercantil) para compra de aviões
que vencem em prazos de 15 a 18
anos.
No balanço da TAM apresentado em setembro de 2002, os arrendamentos mercantis financeiros somavam US$ 510 milhões.
Proposta aos credores
Para fazer uma melhor análise
dos números das duas companhias, as empresas de consultoria
e auditoria KPMG e Bain estão fazendo um diagnóstico completo
da situação. O relatório servirá de
base para as duas empresas elaborarem uma proposta de viabilidade da fusão a ser apresentada aos
credores públicos e privados.
De acordo com o que a Folha
apurou, apesar de o trabalho das
duas consultorias ainda estar em
andamento, a proposta deverá
contemplar três saídas básicas.
Em primeiro lugar, será necessário fazer uma capitalização da
nova empresa, através de investimentos tanto do BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social) como do
mercado de capitais (lançamento
de ações ou de debêntures conversíveis da nova empresa).
As outras duas saídas se referem
às dívidas com os setores público
e privado. Para viabilizar a nova
empresa, aos credores públicos
da Varig, como o INSS, a Infraero
e o Banco do Brasil, deverá ser
apresentada uma proposta de
alongamento bastante extenso do
prazo para o pagamento da dívida.
Já aos credores privados da Varig deverá ser apresentada uma
proposta de transformação da dívida em ações da nova empresa
ou em outros ativos.
Dívida é entrave
As propostas ainda estão em fase de amadurecimento, mas dificilmente a TAM aceitará unir-se à
Varig sem essas precondições. A
TAM considera o passivo da Varig um entrave para a negociação.
Já o governo garante que não
dará qualquer tipo de apoio à Varig e à TAM sem antes as duas empresas chegarem a um acordo. O
presidente do BNDES, Carlos Lessa, chegou a afirmar, há pouco
tempo, que, sem a fusão, será impossível fazer qualquer coisa para
o setor.
O governo tem trabalhado para
acelerar o processo de fusão das
duas empresas. Não há interesse
do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva na quebra da Varig, pois isso
teria efeito negativo para a imagem do Brasil. Mas se houver resistências à fusão, tanto da TAM
como da Varig, o Palácio do Planalto jogaria a toalha e deixaria a
empresa falir.
A TAM tem algum ganho no
atual andamento das negociações. Possui boas relações com o
Planalto e somente a Varig tem
devolvido aviões.
A Varig também tem sofrido
fortes pressões da BR Distribuidora para honrar diariamente o
pagamento do querosene que
consome e para pagar parte da dívida atrasada com a estatal.
Caso a Varig deixe de pagar a
BR, é possível que a empresa aérea entre em ritmo de falência. A
TAM poderia, então, assumir boa
parte das rotas da Varig.
Colaborou László Varga,
da Reportagem Local
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