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VINICIUS TORRES FREIRE
O tumulto financeiro acabou?
Ruína imobiliária por ora não abala Bolsas; economia mais fria que o previsto nos EUA pode ressuscitar mau humor
O
PANIQUITO financeiro do final do mês passado tem dimensão nanoscópica diante
das megacrises asiática (1997), russa
e brasileira (1998), da bolha pontocom (2000) e argentina-Bin Laden
(2001). Mas, mesmo nesses macrotumultos, as economias não derreteram e não houve devastação financeira duradoura. A recessão
americana do início da década foi leve e breve. Até economias depredadas, como a brasileira, não chegaram a entrar no vermelho. Os asiáticos se recuperaram muito rápido. A
exceção maior foi a Argentina.
O paniquito então é irrelevante?
Há quem diga que a diversificação
mundializada dos mercados e a tecnologia financeira foram tão capazes de capilarizar e, assim, minimizar riscos que minguou a probabilidade de "crashes".
Mas há quem diga que os ciclos
econômicos não acabaram e que as
finanças terminam por espelhar
baixas no "mundo real". Que minguou só a percepção do risco, de tão
obscuros que se tornaram certos
instrumentos financeiros. Bola da
vez: o risco de o calote nos empréstimos imobiliários de segunda linha
nos EUA afetar o resto das finanças.
É bola tão cantada que parece não
comover quase mais ninguém.
Se viesse crise braba dos imóveis, a
ruína de empresas como a New Century entraria para a história. A New
Century financia hipotecas, faz empréstimos imobiliários, para clientes de risco. Está a beira de falir. Ontem, suas ações caíram 48%. Os bancos cortaram seu crédito.
Como isso daria em crise? Tais
empresas repassam seus financiamentos para bancos, que os transformam em títulos de investimento
(que rendem o dinheiro das prestações). Quem compra tais títulos?
Fundos de hedge, seguradoras e, na
ponta final, o cidadão que investe
em aposentadoria ou especula. Se há
calote precoce na prestação, New
Century e cia. têm de recomprar os
empréstimos dos bancos. Se empresas de financiamento imobiliário
quebram, investidores dançam.
Se há mais calote, menos atrativo
fica o mercado imobiliário: bancos
emprestam menos, investe-se menos, juros sobem, vendem-se menos
casas. O preço das casas cai. O patrimônio do consumidor-proprietário
cai. A crise vai ao "mundo real".
Pois bem. Depois de rumores sobre a quebra iminente da New Century e co-irmãs, a Bolsa de Nova
York balançou; Bovespa idem. Mas
os fundos de "private equity" em
ação e a notícia de uma baciada de
aquisições de empresas animaram a
turma. As ações subiram.
O paniquito então acabou? É uma
pergunta de milhão de dólares. A
cautela ainda predomina. Notícias
sobre quebras várias no ramo imobiliário e aumentos fortes de pedidos de seguro-desemprego seriam
sinais de alerta. Quedas imprevistas
na atividade das fábricas e nos serviços, que vêm esfriando mesmo, também podem detonar o mau humor.
vinit@uol.com.br
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