São Paulo, terça-feira, 13 de março de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VINICIUS TORRES FREIRE
O tumulto financeiro acabou?

Ruína imobiliária por ora não abala Bolsas; economia mais fria que o previsto nos EUA pode ressuscitar mau humor

O PANIQUITO financeiro do final do mês passado tem dimensão nanoscópica diante das megacrises asiática (1997), russa e brasileira (1998), da bolha pontocom (2000) e argentina-Bin Laden (2001). Mas, mesmo nesses macrotumultos, as economias não derreteram e não houve devastação financeira duradoura. A recessão americana do início da década foi leve e breve. Até economias depredadas, como a brasileira, não chegaram a entrar no vermelho. Os asiáticos se recuperaram muito rápido. A exceção maior foi a Argentina. O paniquito então é irrelevante?
Há quem diga que a diversificação mundializada dos mercados e a tecnologia financeira foram tão capazes de capilarizar e, assim, minimizar riscos que minguou a probabilidade de "crashes". Mas há quem diga que os ciclos econômicos não acabaram e que as finanças terminam por espelhar baixas no "mundo real". Que minguou só a percepção do risco, de tão obscuros que se tornaram certos instrumentos financeiros. Bola da vez: o risco de o calote nos empréstimos imobiliários de segunda linha nos EUA afetar o resto das finanças.
É bola tão cantada que parece não comover quase mais ninguém. Se viesse crise braba dos imóveis, a ruína de empresas como a New Century entraria para a história. A New Century financia hipotecas, faz empréstimos imobiliários, para clientes de risco. Está a beira de falir. Ontem, suas ações caíram 48%. Os bancos cortaram seu crédito. Como isso daria em crise? Tais empresas repassam seus financiamentos para bancos, que os transformam em títulos de investimento (que rendem o dinheiro das prestações). Quem compra tais títulos?
Fundos de hedge, seguradoras e, na ponta final, o cidadão que investe em aposentadoria ou especula. Se há calote precoce na prestação, New Century e cia. têm de recomprar os empréstimos dos bancos. Se empresas de financiamento imobiliário quebram, investidores dançam. Se há mais calote, menos atrativo fica o mercado imobiliário: bancos emprestam menos, investe-se menos, juros sobem, vendem-se menos casas. O preço das casas cai. O patrimônio do consumidor-proprietário cai. A crise vai ao "mundo real".
Pois bem. Depois de rumores sobre a quebra iminente da New Century e co-irmãs, a Bolsa de Nova York balançou; Bovespa idem. Mas os fundos de "private equity" em ação e a notícia de uma baciada de aquisições de empresas animaram a turma. As ações subiram. O paniquito então acabou? É uma pergunta de milhão de dólares. A cautela ainda predomina. Notícias sobre quebras várias no ramo imobiliário e aumentos fortes de pedidos de seguro-desemprego seriam sinais de alerta. Quedas imprevistas na atividade das fábricas e nos serviços, que vêm esfriando mesmo, também podem detonar o mau humor.

vinit@uol.com.br


Texto Anterior: "Investimento privado garante crescimento"
Próximo Texto: Brasil deve reduzir tarifas 1º, diz Schwab
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.